-
BES Angola emprestou mais do dobro dos seus depósitos
Banco controlado pelo BES em Angola tem um "fosso" comercial superior a 3,1 mil milhões de euros. Excesso de alavancagem levou o próprio Estado angolano a prestar garantias soberanas sobre os créditos das empresas angolanas.
Pedro Santos Guerreiro |
12:13 Quarta feira, 21 de maio de 2014
A informação está preto no branco no prospeto de aumento de capital do Banco Espírito Santo, tornado público nas últimas horas desta terça-feira. A diferença entre os depósitos recolhidos e o crédito concedido pelo BES Angola (BESA) confirma um excesso de alavancagem.
À proporção entre créditos e depósitos chama-se rácio de transformação. Quando o valor é superior a 100% (ou seja, quando um banco concede crédito em valor superior aos depósitos que captou), isso significa que o banco contraiu ele próprio endividamento. O excesso desta alavancagem é considerada hoje como uma das razões que levou à bolha financeira que rebentou nos Estados Unidos e na Europa depois de 2007, na crise do subprime.
No caso do BESA, o rácio de transformação é de 220%, revela o prospeto de hoje. Ou seja, no final de 2013 o banco angolano controlado pelo BES tinha créditos a clientes no valor de €5.712 milhões e depósitos recebidos de €2.597 milhões. A diferença é de € 3.115 milhões, do que resulta o rácio de 220%. Para ter uma referência, o rácio máximo imposto pelo Banco Central Europeu neste momento é de 120%.
Para baixar o rácio, o BES Angola quer captar mais depósitos. No entanto, reconhece-se no prospeto, o BES "não pode garantir que irá ser bem-sucedido na sua estratégia de captação de recursos, podendo ser forçado a recorrer a outras fontes de financiamento mais onerosas ou reduzir a sua carteira de crédito".
O BES detém 55,7% do capital do BES Angola. O relatório de auditoria das contas do BESA de 2013 ainda não foi emitido, tendo de sê-lo até 30 de junho.
Garantia do Estado Angolano dura mais um ano
No final de 2013, o Estado Angolano deu uma garantia soberana até 5,7 mil milhões de euros aos créditos do BESA. Esta notícia, dada pelo Negócios há duas semanas, revela assim que há um "seguro" sobre os créditos do BESA.
"Reconhecendo que no contexto global de recuperação económica do setor empresarial Angolano as empresas e os investidores podem não apresentar as condições de tesouraria necessárias para fazer face ao cumprimento atempado das respetivas responsabilidades, o Estado Angolano estabeleceu esta garantia como forma de proteger o banco de eventuais atrasos e incumprimentos na liquidação dos ativos, cobrindo crédito e juros, que beneficiam da garantia (créditos e valores de venda de imóveis)", escreve o prospeto de hoje.
A garantia pessoal do Estado Angolano tem a duração de 18 meses. Ou seja, até ao final de Junho de 2015.
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/bes-angola-emprestou-mais-do-dobro-dos-seus-depositos=f871336#ixzz343YoXibw
Isto é tudo muito estranho.
É noticiado agora que o BESA não sabe onde param 5700M€ de empréstimos concedidos, mas coincidência das coincidências no final do ano passado já o estado angolano dava uma garantia exactamente nesse valor sobre os créditos do BESA.
Outra coisa que me deixa um bocado perplexo é este tipo de garantia.
Por exemplo o estado português também deu garantias aos bancos sobre a qual se fazia pagar mas que apenas servia para os bancos conseguirem acesso a funding a custos suportáveis.
Nunca tinha ouvido falar num estado a garantir a carteira de crédito dum banco.
Alias uma situação destas convida exactamente ao que pelos vistos aconteceu. É o chamado Moral hazard elevado à quinta potência.
O José Eduardo dos Santos decretou que as elites angolanas podiam roubar os cofres do estado angolano à vontade usando para isso o BESA?
É o que parece.
O estado angolano vendeu um CDS à borla ao BESA?
Quais as condições em que a garantia pode ser activada e quais as implicações para o BESA?
Assim à primeira vista parece existir para cobrir situações de incumprimento e nesse caso o estado angolano executaria as garantias associadas ao crédito, no entanto aqui o que estamos a falar é dum desfalque....
A outra questão referida nesta noticia de 21 Maio é o problema do rácio de transformação do BESA.
Simplesmente astronómico!!!
Acima de 200% ??
Com a bomba que acabou de ser lançada o banco vai ter um gravíssimo problema de liquidez quando as actuais linhas de funding chegarem à maturidade. Não estou a ver os mercados receptivos para o rollover das mesmas.
Tudo isto é uma história muito feia.
Excluindo a garantia, falamos, no pior cenário, duma perda potencial para os accionistas do BES à volta de 3000M€.
Um rombo nos capitais próprios do banco completamente demolidor.
Ou eu estou a ver isto tudo de forma errada ou então estamos perante ingredientes demasiado explosivos para que a cotação do BES não comece já amanhã uma descida aos infernos