Pensei que tinha começado a perceber, mas voltei á estaca zero.
Qual é o " mecanismo para expurgar recursos a terceiros para avançar interesses particulares"?
Não tem possibilidade de correcção? É final e inequóvoco uma decisão arbitral num jogo de futebol?
O Estado pode cobrar impostos e estabelecer regras e tomar medidas. Não existe nada que limite que regras e medidas são tomadas. O Estado é criado para estabelecer regras e sistemas gerais que aproveitam a toda a sociedade e que seriam difíceis ou impossíveis de ser implementados sem a sua existência. Porém, de seguida, imensos interesses particulares tomam conta dessa capacidade de cobrar impostos e tomar medidas, para a coberto do interesse geral, financiarem interesses muito específicos com os recursos de todos mesmo onde tal acção já não necessitaria de Estado nenhum para acontecer.
Ou seja, não existe nada no cinema ou desporto motorizado ou algo assim que necessite da existência de um Estado para acontecer desde que os interessados o financiem, porém para esses interessados é muito mais interessante obrigar todos a pagar as suas opções.
É só isso. E quem diz cinema, desportos motorizados, diz também milhares de outros interesses. A corrupção que existe passa por isso mesmo - por vender algo ao Estado a preços acima do mercado (ou para o qual não exista mercado), ou por criar um sistema de licenças no Estad que atribua valor à sua obtenção limitando os entrantes, e de seguida corrompendo esse sistema.
No fundo a razão pela qual um MO faz filmes neste momento, é apenas para ter um motivo para cobrar coercivamente 700k a todos os Portugueses. Obviamente isto nunca será reconhecido excepto em círculos muito estritos, que provavelmente até se riem da coisa e dizem "nunca pensei que isto desse tanto", como eu já ouvi (não acerca do MO mas acerca de outra coisa do género).
Mas se numa ditadura esse estado de coisas exigiria uma revolução, uma democracia tem os mecanismos inerentes para acabar com isso.
E a alternativa até pode ser o que advogas, mas terá de passar pelo processo democrático (ou fazes uma revolução).
Acho que é necessário separar as duas coisas: o despesismo e o clientelismo que gravita em volta do estado; o caso particula do MO.
Misturar as duas só cria confusão e estando as coisas pessoalizadas então a psicologia do atirar pedras e arrastar pela lama vem logo ao de cima.
O despesismo e clientelismo e o MO são uma e a mesma coisa, apenas não te parecem assim porque no caso podes concordar conceptualmente com financiarem-se coisas como o MO.
Sendo que financiar coisas como o MO é perfeitamente possível fora do contexto do Estado, deverias perguntar-te porque é que tem que ser feito dentro do Estado.
Existem coisas que:
1) Só são possíveis com um Estado;
2) São possíveis de providenciar fora do Estado mas teriam que ser financiadas pelo Estado;
3) São possíveis fora do Estado e não têm que ser financiadas pelo Estado para acontecerem. É o caso do MO. É destes casos que eu falo. Também é o caso da RTP, TAP, Tiago Monteiro, etc.
(eu não creio que isto se vá alterar democraticamente, porque as pessoas não votam realmente para financiar MOs e afins, simplesmente é algo que depois de eleitos, os governos fazem - os governos além do interesse geral, alimentam milhares de interesses particulares. Os próprios partidos existem devido à conjugação desses interesses particulares a um nível mais baixo, o dos indivíduos que procuram tachos)
(além disso a esmagadora maioria das pessoas não liga o que quer do Estado ao que tem que pagar para o Estado, e pensa sempre que existe alguém "mais rico" que tem obrigação de pagar tudo. Aliás, isto na época presente até se torna ridículo com as pessoas melhor remuneradas do país a pensarem assim mesmo - a pensarem que deveria ser alguém que recebe AINDA mais que eles, a pagar tudo)