Não tenho acompanhado o tópico deste a minha última intervenção.
(Ando um baldas, eu sei)
Hoje lembrei-me da intervenção que fiz e do feedback que recebi, (AQUI), ao ler esta entrevista no Expresso de um históriador que não conhecia (mea ignorância): NIALL FERGUSON. Deixo aqui uma passagem da opinião dele sobre a problemática dos refugiados:
Devíamos na Europa lidar com o problema dos refugiados de outra maneira, também por causa do grave problema demográfico?
É naïf a visão de que a Europa tem um problema demográfico e do outro lado estão pessoas jovens e em idade ativa, e que portanto há aqui uma solução. Basta olhar para os dados. Os países continentais europeus são muito maus a integrar na sua força de trabalho aqueles que pedem asilo. Dados da OCDE mostram que a taxa de desemprego na Alemanha entre os que não nasceram no país é 70% mais elevada do que a registada entre os que nasceram na Alemanha. E mesmo na Suécia, que é o melhor exemplo de integração, a taxa de desemprego entre os que não nasceram no país é duas vezes e meia mais elevada. Estes países têm um registo histórico de falhanço a integrar estrangeiros, em particular se vierem de países muçulmanos. Então, porque é que de repente iam mudar o seu comportamento perante esta crise dos refugiados? O que nos leva a pensar que poderiam integrar 1,5 milhões de refugiados quando falharam na integração de 150 mil pessoas anteriormente? Em França, por exemplo, há enormes subúrbios deprimidos cheios de emigrantes de segunda e terceira geração desempregados que não se conseguiram integrar. Isto não vai acabar bem. A economia europeia não está preparada para absorver tantos imigrantes. A economia norte-americana, pelo contrário, está. Sabe qual é a diferença na taxa de desemprego nos EUA entre nascidos e não nascidos no país? Zero. O problema europeu não vai ser resolvido pela imigração, a menos que o mercado laboral na Europa funcione como nos Estados Unidos. É capaz de me dizer o nome de um político europeu que seja capaz de ir à televisão e dizer que temos de ter na Europa as regras laborais dos EUA? Enchem todos a boca com a Europa social. Bullshit. É a Europa do desemprego.
Entrevista toda aqui:
http://expresso.sapo.pt/internacional/2015-12-12-O-Ocidente-acabou.-O-declinio-e-irreversivel
Vale a pena ler.
Divirtam-se
O engraçado é que isso coloca o problema como sendo um dos países a integrar as pessoas, e não um das pessoas a integrarem-se. Alguém que comece uma actividade cujo produto ou serviço seja atraente para o mercado dificilmente vê a sua integração rejeitada. Pensar que a responsabilidade de criar emprego é algo "dos outros" é uma absurdidade (também muito espalhada em Portugal).
E de notar que essa até é uma perspectiva de um céptico. Que fará a de alguém para quem "olhar para os dados" já é em si uma heresia.
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Na Europa é improvável que o problema seja dos países, quando mesmo a resposta indica vários países com atitudes diferentes e ainda assim com o mesmo fenómeno a passar-se.
Nos EUA, existem muitas diferenças:
* O mercado laboral, como indicado, espera mais do próprio trabalhador e é mais fluído -- a quantidade de pessoas despedidas e contratadas por mês é extraordinária.
* Muitos dos emigrantes para os EUA ou só vão porque já vão trabalhar (visas) ou emigram para lá ilegalmente em procura de trabalho. Para a Europa muita da emigração procura os apoios precisamente para não trabalhar (basta ver estas rejeições de Portugal, a tendência para querem ir para os países nórdicos, etc).
* Existem na mesma grandes diferenças de nível de emprego, mas estas verificam-se segundo outras variáveis que não o nascidos lá ou não (educação, etnia, etc).
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Adicionalmente, não é garantido que o desemprego não seja também mais elevado entre muçulmanos nos EUA (emigrantes ou locais), tal como na Europa (e na Austrália, e sabe-se lá mais onde):
http://www.people-press.org/2011/08/30/section-1-a-demographic-portrait-of-muslim-americans/Mas também não é garantido que o seja (mais elevado). Teria que se corrigir pela etnia e pela idade.