“JP Morgan diz que leis em defesa de trabalhadores são “defeitos” de países periféricos
A culpa é da Constituição e da protecção que esta dá aos trabalhadores, mas também da contestação social, potenciada pelo direito de realizarem manifestações e demais protestos contra as mudanças indesejadas que os governos na Europa tentam por estes dias implementar. É para estes “culpados” que a JP Morgan aponta num relatório de final de Maio, em que é pintado um cenário onde aparentemente, não fossem “os constrangimentos constitucionais” em países como Portugal, até estaria tudo a correr bem.
“Os defeitos deste legado político foram revelados pela crise. Os países da periferia têm sido apenas parcialmente bem sucedidos com as reformas orçamentais e económicas porque os governos estão constrangidos pela Constituição (Portugal), regiões poderosas (Espanha) e a emergência de partidos populistas (Itália e Grécia)”, explica ainda o banco neste artigo. Para a JP Morgan, estes “defeitos” identificados nos países periféricos têm raiz “nas constituições, que mostram uma forte influência socialista, reflectindo a força política que os partidos de esquerda tiveram depois da queda do fascismo”.
A vontade de reforçar os poderes dos governos começa assim a fazer escola na Europa, em parte por causa do receio de que os partidos antieuropeus comecem a ganhar eleições, o que a acontecer será por vontade dos eleitores, isto se Bruxelas e Berlim deixarem. É que convém recordar o que está a acontecer actualmente: o segundo resgate português está a ser discutido em segredo para evitar que os alemães se dirijam às urnas em Setembro próximo com vontade de castigar Merkel pelo novo resgate e pelo falhanço da austeridade que tanto defende.
Curiosamente, vem também da Alemanha a fórmula que o JP Morgan propõe indirectamente para convencer os países periféricos a avançar com as “reformas políticas” que sugere: “A nosso ver, é pouco provável que a Alemanha concorde com as obrigações europeias sem mudanças significativas nas constituições dos países periféricos.” (Jornal i).
Isto – sobretudo o que vem nos 2 últimos parágrafos – resume a substância política do que verdadeiramente está em causa na Europa e em Portugal nesta altura.