Mil queixas na Deco contra empresa que oferece vouchers para hotéisOs relatos multiplicam-se na Internet e em comum têm um telefonema em que o potencial cliente é informado de que foi seleccionado para receber um voucher de duas noites para duas a quatro pessoas num hotel, totalmente gratuito. O consumidor é ainda informado de que se terá de se dirigir a um determinado local para o levantar.
Segundo o jornal i, foi o que aconteceu recentemente a Pedro Garrido, um estudante de 24 anos, convidado a comparecer a um encontro promovido pela empresa Interpass num hotel em Sesimbra. «Disseram-me especificamente que o único propósito da deslocação seria levantar o voucher, sem as habituais tentativas de venda ou filiação.»
Dias depois, no hotel indicado, Pedro Garrido foi conduzido a uma sala de reuniões, onde estavam outros potenciais clientes e mais de uma dezena de mesas, cada uma com um promotor da empresa. «A reunião demorou mais de uma hora e meia, quando ao telefone me tinham dito que só iria levantar o voucher», queixa-se.
Durante o encontro, o estudante foi informado de que poderia assinar um contrato «vitalício e transgeracional» para entrar num «clube exclusivo com 450 mil membros». Para isso teria de pagar uma jóia de inscrição de 10 mil euros. «Disseram-me que poderia pagar em prestações até 60 meses ou, em alternativa, pedir um crédito à Cofidis.»
O pagamento, foi ainda informado, garantiria uma série de vantagens. «Explicaram-me que poderia usufruir de descontos para o resto da vida e da dos meus filhos. Respondi que não era pai e fui informado de que a fidelização seria transgeracional e que os descontos continuariam quando tivesse filhos.»
Para isso bastaria assinar um contrato. Pedro Garrido recusou e só conseguiu sair do hotel uma hora e meia depois, com o voucher – de que ainda não usufruiu. «E tenho a sensação de que dificilmente irei usufruir. É preciso mandar uma carta registada para a empresa com as datas que pretendo e aguardar disponibilidade de alojamento», conta ao jornal.
O estudante garante que foi aliciado para assinar os papéis. «Foi uma verdadeira lavagem cerebral em que me foram mostradas dezenas de fotografias e apresentadas inúmeras vantagens relacionadas com turismo e seguros», descreve. «Quando cheguei a casa googlei o nome da empresa e encontrei um sem-número de relatos de pessoas a queixarem-se de que não conseguem revogar o contrato.»
O jornal i sabe que nos últimos anos foram apresentadas queixas na Polícia Judiciária relacionadas com as abordagens da empresa, algumas ainda em investigação. E só a Deco já recebeu cerca de mil reclamações por práticas comerciais desleais. «As mais recorrentes têm a ver com o facto de os consumidores comparecerem nos locais indicados para levantar o voucher sem terem sido informados de que o real propósito é uma abordagem no sentido de contratualizarem um serviço», explica a jurista Rosário Tereso.
A Deco relembra os consumidores de que «não são obrigados a assinar qualquer contrato» e apela a que leiam com atenção todas as cláusulas dos documentos que decidam subscrever.
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=609528