Muitas das maiores margens são merecidas. Margens da Apple, da Microsoft, Facebook, etc.
Se temporárias, não requerem medidas especiais, o próprio mercado secundário provoca a erosão das margens iniciais, não censuráveis, aliás.
Porém, há rendas de monopólio bem mais persistentes e substantivas, mesmo que porventura pareçam ocultar a sua natureza na dispersão dos seus beneficiários pela população em geral.
Penso, p.e., nos prédios urbanos de inúmeras famílias, cujos rendimentos e mais-valias de transacção são aliás tão vultuosos que o próprio fisco já descobriu que o melhor é ser 'rentista' também e cobra à volta de cinquenta por cento de tais ganhos.
Antigamente, pela inflação, as mais-valias monetárias eram meramente redistribuídas entre particulares, e o congelamento de rendas operava também esse efeito entre os cidadãos, inquilinos e senhorios.
Agora, com os processos deflacionários em curso, o estado 'acautela-se' tributando na origem os rendimentos e os ganhos de capital. Tudo são rendas monopolistas, deduzidos os encargos induzidos.
Mas quem cita a propriedade, urbana ou rural, pode apontar também todo e qualquer negócio (= negação de ócio = actividade produtiva, vendável, útil) a cuja entrada de novos operadores haja obstáculo. São rendas de monopólio, que subtraem rendimentos oriundos de outras fontes de produção, em
troca de nada!
Claro, se me objectarem que essa «poupança forçada» financia outros empreendimentos que, esses sim, mobilizam os recursos inactivos disponíveis e promovem o pleno emprego, eu aceitá-lo-ia - embora com reservas, por os monopólios actuantes, em vez de enfraquecerem, fortalecer-se-iam -; mas não é o que vemos acontecer.
Pois os bancos limitam-se a gerir capitais de mútuo por emissão de moeda de papel, e se alguma actividade, negócio, anima é somente o de mais-valias de casino, de bolhas especulativas, a competir por moeda de papel, e negócios de esbulho de trespasse de propriedades reais já existentes, em que o que um ganha o outro perde.
E o desemprego, grassa. A inovação, cessa. A economia, regride.
Nem o estado, nem a iniciativa privada, promove um novo estado de coisas.