Eu fixo-me no tema da redistribuição, mas sei muito bem que logo se pensa em socialismo quando a questão económica da distribuição do rendimento não tem nada a ver com socialismo e sim com economia e com política, i. e., de justiça e equidade.
É até uma questão de contabilidade tout court, quer empresarial quer macroeconómica: produto é valor acrescentado, desdobrável em salário do trabalho e sobre-salário do trabalho, i.e., lucro, distribuível enquanto juro, renda, imposto, e lucro do empreendedor da actividade produtiva. Disto não se sai, por muitas voltas que se dê.
Daí que redistribuição de rendimento esteja muito longe de ser apenas a divisão do produto (Y) em salário (W) e lucro (L), pois quer o primeiro se distribui por diferentes categorias de trabalho, quer o segundo pelos empresários, e proprietários de bens e dinheiro.
Por exemplo, - como bem lembrou o Castelbranco a propósito da crise económica do princípio dos anos 80 - a desregulação do sistema bancário por Tatcher e Reagan, autorizando os bancos de investimento a receber e gerir depósitos, teve razão de ser, e a crise pôde evitar-se porque, - disse Castelbranco -, a população ainda estava a crescer, os juros estavam muito altos, e as empresas consideraram preferível aumentar o capital próprio dos seus negócios a recorrer a empréstimos com juros tão altos: a iniciativa teve aceitação e sucesso no grande público que acorreu a subscrever as emissões de acções que assim tornearam os juros excessivos.
Ora, isto chama-se redistribuição de rendimento. Claro que, depois, a perversão instaurou-se nos mercados financeiros, e a grande depressão de 2008 só não descambou numa hecatombe de falências e corridas aos bancos, por os estados terem proporcionado toda a liquidez que foi necessária para evitar a bancarrota. O ridículo é os estados, depois disso, terem ficado subjugados aos interesses dos salvados da bancarrota.
Há temas clássicos da economia, todos implicados na distribuição do rendimento, desde a tendência à concentração monopolista da riqueza, - e das decisões económicas -, ao equilíbrio entre necessidades colectivas (sector público) e iniciativa e liberdade individual, a aplicação da tecnologia nos processos mecânicos e administrativos de trabalho, o crescimento demográfico e o comércio internacional.
Escusam muitos vir com a lengalenga que primeiro interessa produzir e só depois distribuir. Falso! A distribuição está desde logo embutida na produção, é a sua razão de ser, sendo até verdadeiro que isso de produzir é uma questão técnica de engenharia, agronómica ou mecânica ou química; o que produzir e distribuir, isso sim tem a ver com escolhas económicas - e com política.