Raquel Varela,
em justa e demolidora
crítica da insipiência dos
que nos (des)governam:
Sem surpresas as sanções são uma hecatombe contra quem vive do trabalho, e sectores médios, na Europa, na Ucrânia e na Rússia. Num país como o nosso significa que o nosso salário está a ser engolido a cada dia, em queda virtiginosa, como vai sobreviver quem vive com 1000 euros, ou 700 euros ou 600? Como pode deixar de andar de carro quem vive nas aldeias do litoral ou na periferia das cidades? Portugal tem 85% de dependência de cereais, comemos o quê, eucaliptos?
Totalmente inúteis para parar a guerra, já que se trata de um país com um dos mais poderosos exércitos do mundo e que tem reservas de ouro, já disse que paga em rublos se for preciso, expropria patentes, nacionaliza empresas estrangeiras, o que pensam os líderes eurpeus, que isto é gerir um quiosque que não vende mais ao vizinho? Que noção de política têm estes cavalheiros? Mais, as sanções não são sobre trigo e petróleo e gás e já fizeram os trabalhadores da Europa ver os seus preços galopar. O que se seguirá? São tão ilógicas, devastadores para os povos europeus , que a única coisa que as podem explicar com alguma racionalidade é que política foi tomada, tal como as empresa, por gestores, a irracionalidade da gestão é a explicação da lógica deste movimento. Não há propriamente líderes europeus, há gestores desesperados, pilotados pelos Verdes e pela NATO.
As sanções foram uma excelente desculpa para o rearmamento alemão, mas na Alemanha também há divisões, Schroder já foi a correr à Rússia negociar e deduzo tentar travar os Verdes no seu país. Medvedev ontem quando anunciou a eventual nacionalização russa de empresas que saiam do país disse que a Macdonalds pode ir embora que "pãezinhos com chouriços eles fazem bem". Dá-se ao luxo de contar piadas enquanto os media nos explicam que a Rússia está a perder a guerra (quando todos os generais no Ocidente explicam o contrário) e que o melhor é mais sanções, que nos atingem a nós. Medvedev estava a explicar a países como Portugal que a Rússia é exportador de trigo, tem segurança alimentar (como tem a Inglaterra, a Alemanha, e a França e os EUA e a China), que os oleodutos não se invertem (um regadio não corre para a barragem!). Nós temos turismo e eucalipto, vamos virar koalas? As empresas entram em layoff, usando a reforma de todos nós, a segurança social, porque não conseguem pagar o gás. Depois de terem feito esta ignominia na pandemia - usar a nossa reforma para salvar accionistas -, fazem o mesmo agora, quanto acham que vai sobrar para pagar reformas?
É esta a ideia de luta contra a guerra que têm os governos europeus - é uma farsa na Europa rica; na periférica, como a nossa, é a farsa com a tragédia.
A solução imediata para a guerra vai ser a paz e a negociação, contra os loucos que defenderam uma resposta militar da UE/NATO. A Rússia não usou nem uma pequena parte do seu exército, o famoso comboio às portas de Kiev, "quase a chegar" está calmamente parado há 15 dias. A Rússia cercou as cidades da região que lhe interessa, e sobra um batalhão, fascista, de Azov em Mariupol, que lutará até à morte porque sabe que será morto, se alguém sobreviver - aí é guerra de guerrilha, de cidade, homem a homem. Todos os métodos são possíveis, incluindo "esconder-se" da parte dos fascistas numa maternidade semi desactivada, como da parte dos russos bombardear, haja ou não mortos civis, em Mariupol os combates vão ser brutais. O resto já se sabia, a NATO não entra, porque isso significava uma chacina mundial, a Rússia por isso não é derrotada, a Ucrânia será dividida de facto, e as sanções são uma destruição criativa de capitals no Ocidente, que entretanto vira as baterias para o rearmamento. Não é a guerra que faz a crise económica, é a crise económica, que já vinha antes, que gera a resposta militar-económica. A factura pagam os ingénuos que foram para a rua defender as sanções e a militarização da UE, animados pela UE e a NATO; e pagamos - se deixarmos - quem vive do trabalho e não tem qualquer responsabilidade nesta guerra.