Acredita que a coisa vai para além disso. Muito para além disso.
O tema daria pano para mangas e justificaria um tópico. Adiante.
Repara que o que dizes (Barcelona a 70€) é só aparentemente ótimo.
O que consegues em Barcelona agora não tem a mesma qualidade do que conseguias experimentar em 1990. Os barceloneses também não te encaram como te encaravam há uns anos. Vai daí que se a experiência e a narrativa do processo se alterou, a qualidade do produto turístico também se alterou. Neste caso, para bem pior.
Resumidamente, falamos aqui da exaustão de um destino turístico. A coisa pode alterar-se se começares a providenciar novos produtos turísticos no mesmo destino.
Ibiza fê-lo há uns anos atrás quando começou a urbanizar a parte mais 'complicada' da ilha. Barcelona poderá, portanto, tomar outra atitude...
Agora pensa no Algarve. O Algarve está com uma sorte danada. O turismo de praia e sol, o chamado triple s (sun, sand and sea), está super esmagado O que seria do Algarve hoje se não fosse a loucura que varreu todo o mediterrâneo nos últimos anos? Repara que tu próprio reconheces que a quebra da moeda turca se sentiu negativamente no Algarve. Agora imagina que a Tunísia se compunha, que a Argélia se civiliza, que o mar vermelho se pacifica, que os gregos se acalmam, que os marroquinos resolvem os seus problemas económicos e sociais e os seus vendedores ambulantes se acalmam...
Agora pensa em Lisboa. Comprei um T2 na zona do Areeiro em 2015 que agora poderia vender com 30, 40, 50%? de lucro. A que se deve esta subida? A resposta é fácil: ao turismo.
Sei que a esta afirmação se responde sempre com a descaracterização das zonas mais típicas da cidade e que, a prazo, a insustentabilidade deste destino poderá sobressair. Acontece que o destino Lisboa se pode enriquecer com novos produtos: culturais (museus, espetáculos...), empresariais (congressos, meetings...), lazer... e, desta forma, dirigir-se a novos clientes-alvo.
Falando da nossa capital devo dizer duas coisas:
1º concordo com a taxa de dormida e penso que esta pode ser uma boa forma de criar novos produtos de forma a evitar o esvaziamento e a insustentabilidade do destino/Lisboa.
Investimentos que acho corretos: todos os que têm sido feitos em museus (recordo o que se está a fazer na Ajuda...), espaços para congressos e
incentivos à criação de novas valências culturais. Penso que não vale a pena falar de todas as estruturas que têm sido criadas.
2 discordo do tempo que se tem perdido em adaptar as exigências da vida de hoje a uma melhor rede de transportes urbanos e de saneamento básico. O meu raciocínio é muito simples: o turista que Lisboa quer atrair agora, é pouco compatível com atrasos e ineficiências nos transportes, com problemas na recolha de lixo, com rotura nas redes de água e de esgotos...
O turismo tem que ser bem tratado. É a atividade mais democrática que conheço para quem é empreendedor e tem tirado o nosso país de apertos desde os anos 60 do século passado. Daí que me arrepia a leveza com que muitas pessoas com responsabilidade política e económica se referem a esta 'galinha dos ovos de ouro'.