Ugly, os QEs colocariam dinheiro na economia via compra de obrigações caso os respectivos estados incurressem em deficits, o que aumentaria a procura, iria gerar inflação e necessitar de QT para voltar ao equilíbrio.
Na situação actual de deficits públicos equilibrados não vejo como o QE coloca "mais dinheiro" na economia. Basicamente está a recolocar dinheiro que já existia antes e a impedir que a massa monetária diminua.
A "impressão" per si não gera inflação, tem que existir um aumento de procura associado. Com deficits públicos equilibrados e o poder de compra reprimido com impostos elevados não vejo isso acontecer.
Pip-Boy, os QE's mais não são do que criação de moeda pelos BC's que é transferida para os balanços dos bancos (e empresas), em troca de títulos de dívida, que ficam registados nos balanços dos BC's. Esperava-se que os QE's tivessem um período de vida equivalente à maturidade das obrigações que os BC's tinham no balanço. Ou seja, na maturidade, a moeda seria devolvida pelas entidades devedoras (tesouro, empresas) aos BC's para que pudesse ser destruída. A Fed fez isto durante pouco mais de 1 ano (o quantitative tightening), ao não renovar os títulos de dívida (redução do balanço). Ou seja, durante o período de tempo em que durou o QT, desapareceram (muitos) dollars de circulação.
Mas eis que chegámos a uma nova realidade. Os QT's acabaram (ou nem chegaram a começar) e, pelos vistos, iremos entrar numa nova ronda de QE's, infinitos. O dinheiro que sair dos BC's em troco de obrigações não irá nunca ser destruído. É a monetização dos títulos de dívida. Criação de massa monetária ad aeternum.
"The consensus view among economists is that sustained inflation occurs when a nation's money supply growth outpaces economic growth."
Esta é a temida hiper-inflação (Venezuela!). O que se perspectiva é crescimento cada vez maior da massa monetária disponível (fruto do maná dos BC's) para uma economia com crescimento cada vez mais anémico.
A inflação também pode ocorrer por mismatch entre procura e oferta e, o que parece estar a acontecer ao nível dos bens duradouros, é um excesso de capacidade instalada. Ou seja, há uma pressão deflacionária ao nível de bens duradouros. Já ao nível dos serviços, a conversa parece ser outra, parecendo haver excesso de procura, daí as pressões inflacionárias. Não é por acaso que os vários PMI's de serviços têm-se mantido expansionistas, ao contrários dos PMI's da industria
Ugly, essa definiçao é a definiçao de inflaçao classica, que assume uma money velocity constante. A definiçao moderna de inflaçao so tem em conta o aumento de preços.
Como explicas que os US nao sejam a Venezuela quando o QE triplicou a base monetaria entre 2008 e 2011 ?
O Krugman ja deu a resposta com a liquidity trap, e até ver continua valida. A ver se essa hiper-inflaçao chegara algum dia...
A inflação é multifactorial mas advém sobretudo da devalorização da moeda. Se a oferta de moeda em circulação é superior à procura, o seu valor unitário diminui obrigando ao aumento de preços de bens e serviços. Ou seja, quanto mais moeda chega ao bolso do average joe maiores as tensões inflacionárias ("increased money supply -> there will be more dollars chasing the same amount of goods in an economy -> will inevitably lead to increased demand -> therefore higher prices").
Os QE's não são impressão de moeda. É um mercado de crédito, em que o lender são os BC's. Por isso havia QT's. Como os QE's vão passar a ser eternos, na óptica do BoJ, do Draghi e da sua sucessora, the 'clueless person in the room' Lagarde, na prática os QE's passam a ser impressão de moeda, daí os compradores de ouro terem farejado a perspectiva de inflação pela monetização de dívida. Outro factor a ter em conta é o aumento do tecto da dívida do tesouro norte-americano e o tax cut do Trump, que vai obrigar a um maior endividamento norte-americano.
What Is Inflation Definition – Causes of Inflation Rate and How to Fight the Effects
https://www.moneycrashers.com/what-is-inflation-definition-causes-inflation-rate/Os EUA não são a Venezuela porque:
- não ocorreu verdadeiramente impressão de moeda, com os QE's
- o dollar é a moeda de reserva mais procurada em todo o mundo, porque as commodities são denominadas em dollars (o nosso país pode estar na penuria total mas se tiver um punhado de dollars ou de ouro não passas fome). Mas há uma pressão para alterar este status quo do dollar dado que o peso da economia dos EUA no mundo já não justifica a hegemonia da sua moeda. Ver a entrevista ao governador do BoE a este respeito:
Mark Carney calls for global monetary system to replace the dollar
https://www.ft.com/content/a775b55a-c5c2-11e9-a8e9-296ca66511c9 Para os debt addicted, como Portugal, a monetização é o manjar dívino. Acaba-se a dívida governamental. Há uma discussão muito acesa na comunidade norte-americana acerca da MMT- Modern Monetary Theory, defendida pelos compinchas da Catarina Martins. Coitada, ela nem deve saber o que é MMT, embora seja a resposta a todas as suas preces e ade todos os que vivem de dívida. Já dizia o saudoso e profético Sócrates (o nosso): 'as dívidas não são para pagar'.
Contudo, visto que vivemos em uncharted waters, podemos conjecturar que a procura por metais preciosos é um hedge contra a desconfiança na capacidade dos bancos centrais em controlar a política monetária, sendo a hiperinflação um caso particular desta incapacidade dos BC's...Um hard asset como o ouro ou a prata será uma das poucas coisas sãs neste mundo insano.