Com o 25 de abril de 1976, Portugal saiu, constitucionalmente, de um regime, aparentemente, corporativista, para outro assumida e eleitoralmente democrático que entendeu passar a governar-se segundo a vontade da maioria dos cidadãos [atenção, não cidadões] inscritos nos cadernos eleitorais e ainda não falecidos [ou funcionários públicos falecidos e religiosos, vivos ou mortos, mas inscritos, votassem ou não]. Tudo bem! O irónico, porém, foi que o país passou a ser, não democrata - como se supunha e esperava -, mas sim, pela primeira vez, verdadeiramente corporativista! Até 1974, Portugal era fascista, as corporações representavam exclusivamente os interesses capitalistas e monopolistas dos grandes grupos económicos que dirigiam a produção. o comércio e o emprego no país. Depois da revolução, não! O país virou mesmo sindicalista e corporativo, verdadeiramente corporativo, até para gáudio de ex-ministros salazaristas que finalmente viram realizado o sonho de Salazar!
Realmente, a par de alguns excessos sindicalistas, com a tomada de ministérios pela Intersindical, caso da Saúde (médicos), Educação (professores, especialmente mulheres apressadamente habilitadas a ensinar, para 'comporem' orçamentos familiares), segurança e assistência social (reformas para todos, tivessem contribuído ou não; quase ninguém contribuiu! fomento de emprego de assistentes sociais, com diplomas sérios ou comprados), Economia (politica de empregar todos os retornados fosse onde fosse com habilitações reais ou forjadas), etc. etc. o verdadeiro corporativismo brilhou pela primeira vez como nunca acontecera! Quem era médico, tinha direitos de médico, quem era engenheiro, tinha direitos de engenheiro, quem era advogado, como advogado era distinto, quem era funcionário público era um verdadeiro senhor. Só os cidadãos não eram especialmente ninguém, porque não eram professores, nem profissionais da saúde, nem isto nem aquilo. Cada um era o que a sua profissão atestava e valia. Ser cidadão, ser servido por todos os que trabalham ou exercem funções públicas, isso não obrigava a atenção nenhuma porque não era profissão nenhuma. Escoou-se a democracia pelo cano de esgoto e vi pelo menos um ex-ministro salazarista a rir-se a bom rir da perfeição atingida pelo corporativismo reinante: cidadãos iguais, direitos desiguais!