Dado o actual momento de moderado optimismo no que diz respeito ao PSI20, decidi fazer-lhe uma análise aprofundada, para tentar descortinar o sentido em que rumará o mercado nos próximos tempos.
Desde que a crise do subprime atingiu o PSI20, em 2007, já se perdeu quase 60% do seu valor. Este fortíssimo bear market, em tudo semelhante ao ocorrido após o colapso da bolha tecnológica, tem arrastado inúmeros investidores portugueses para fora do mercado de capitais. Passaram já seis anos desde o início do ciclo de quedas e a esperança numa recuperação definitiva teima em regressar. Regressará um dia? Certamente que sim, mas tenho fortes e fundadas dúvidas que esse dia seja hoje. Se nos distanciarmos um pouco do ruído que nos envolve diariamente e nos turva o pensamento conseguiremos com maior facilidade e clareza analisar a actual situação do PSI20.
A teoria de Dow, teoria em que assenta toda a minha prática em termos de negociação técnica, baseia-se em três simples princípios. A tendência primária, que pode durar entre um e vários anos, define-se por marcar a direcção principal do mercado/título. Os intervenientes no mercado com um perfil de investimento negoceiam a favor da tendência de longo prazo, geralmente quando esta é ascendente.
A tendência secundária, que pode durar entre três semanas e alguns meses (raramente mais de um ano), está associada aos ciclos de médio prazo e ocorre contra a tendência principal. A tendência secundária é negociada sobretudo por positional traders.
A tendência terciária, ou ruído, é caracterizada por movimentos curtos, muitas vezes erráticos, e geralmente dura menos de um mês. O ruído tem amplitude suficiente para ser negociado por daytraders mas é geralmente ignorado pelos positional traders e pelos investidores de longo prazo.
Voltando ao PSI20 podemos ver que a tendência principal descendente, caracterizada por máximos relativos cada vez mais baixos, se mantém inalterada. Desde que o pico de 2007 foi atingido tivemos um máximo relativo em 2009, outro em 2011 e o actual, em 2013. Todos esses máximos relativos falharam em romper com o nível do seu antecessor, apresentando inclusivé características técnicas bastante semelhantes. Todos estes movimentos de contraciclo terminaram em forma de duplo topo (Adão & Adão, Adão & Eva, Adão & Adão, Adão & Eva). E sim, o actual movimento pode já ser caracterizado como um duplo topo. A linha de suporte foi quebrada, a activação foi consumada, e nem a sua quebra em alta é (para já) suficiente para inviabilizar este padrão de inversão. Repare-se que o actual movimento é em tudo semelhante ao que ocorreu em 2009/10, onde vimos uma aproximação aos máximos relativos já depois de o duplo fundo ser activado precisamente antes de o movimento principal descendente continuar.
Posto isto, o que seria necessário acontecer para vermos consumada uma inversão definitiva das tendências primária e secundária?
Depois de verificada a tendência primária descendente do PSI20 importa analisar o actual momento para tentar antever quais serão os seus próximos movimentos.
Comecemos pela tendência secundária. O movimento ascendente, iniciado em Junho de 2012, que permitiu ao índice recuperar 46% em pouco menos de um ano teve por base um consistente padrão de higher lows. Significa isso que cada mínimo relativo ia sendo mais elevado que o anterior.
A interrupção desse padrão coincidiu com a activação do duplo topo, em Junho de 2013, depois da quebra em baixa do suporte situado nos 5535 pontos. Após a activação, que aconteceu sob volumes crescentes, pôde definir-se que a projecção para este duplo topo aponta para os 4800 pontos.
O pullback ao suporte quebrado (apesar do fraco volume) não encontrou resistência e abriu caminho para um movimento terciário. Este movimento, o actual, acabou por se confirmar em definitivo após uma ilha de inversão criada com forte volume ascendente.
Embora este movimento de alta já leve cerca de 15% de ganho e um mês de duração, dificilmente se poderá esperar que dure muito mais tempo. Como se viu anteriormente, as tendências dominantes são claramente de baixa e nada leva a crer que isso se venha a alterar com base neste movimento terciário. Se associarmos o actual momento ao aparecimento de diversos padrões de inversão nos títulos que compõem o índice, parece confirmar-se que esta subida será mais uma bull trap.
Felizmente, é muito provável que venhamos a descobrir em breve a direcção que o mercado tomará nos próximos meses. Se o actual movimento se estender e quebrar em alta e de forma consistente os 6360 pontos poderemos assistir de facto a uma inversão definitiva de tendência, em todos os horizontes temporais. Se, pelo contrário, a pressão vendedora se intensificar e a zona da ilha de inversão for quebrada em baixa, confirma-se mais um ciclo descendente na tendência secundária.
Por muito gosto e tranquilidade que me desse inverter as posições curtas para posições longas, nada do que vimos actualmente me leva a acreditar que estejamos perante o momento da inversão definitiva. Até que o anterior higher low de longo prazo seja quebrado em alta todas as tentativas de aproximação deverão ser aproveitadas para reforçar as posições curtas.