E o fascismo, achas que deve ser proibido?
Não. Objectivamente não.
O que não é sinónimo de achar que não deva ser combatido. Através de meios democráticos, não de proibição.
Mas então se um dia tivesses um partido fascista no nosso parlamento e o PSD+CDS se juntassem a eles para formarem maioria, ficavas bem em ter fascistas no governo ?
Isto é uma matéria espinhosa, que pode facilmente levar a contradições argumentativas (calculo que não suceda apenas comigo), nomeadamente quando determinados cenários de What If são postos em cima da mesa.
A contradição maior de todas, quer em relação ao comunismo, quer em relação ao fascimo, é que negam a liberdade democrática por princípio ideológico. Ora, se a democracia advoga que deve haver liberdade e igualdade de expressão para todos os cidadãos, como enquadrar e lidar com opiniões que negam essa mesma liberdade? É um contrasenso, ou aparenta ser. Se aceitarmos expressões comunistas ou fascistas, estamos a aceitar a própria negação da democracia, se negarmos estamos a violar o princípio fundamental a democracia. É um beco sem saída--- e é uma falha não solucionável por completo, a meu ver. O limite What If extremo deste paradoxo seria eleger democraticamente uma maioria fascista que depois imporia um regime totalitario e derrubaria a democracia---um what if imensamente improvável de resto, embora haja aproximações que não são tanto.
A maneira de lidar com esta situação é encontrar um ponto de equilíbrio entre a liberdade de expressão e a liberdade de actuação, ou seja, defendendo a primeira na totalidade e limitando a segunda quando começa a interferir com---e a corromper---o "tecido democrático", previsto na Constituição e no conjunto de leis que regem um estado democrático. Agora, os limites, ou a fronteira, entre expressão e actuação teriam de ser vistos caso a caso, e penso que é isso que sucede, de resto, em relação a todas as leis que rejam qualquer situação.
Pegando na tua questão: respeitaria a vontade popular e a legitimidade democrática dessa situação, mesmo não gostando e não concordando com as ideologias dessa maioria.
Fazendo o paralelo para o que se está a passar agora, e que é semelhante ao que sugeres, mas em relação à esquerda (a diferença grande é que não é o CDS, um partido "menor", que está à procura de um acordo, é o PS, um partido com bastante mais peso e expressão), tem de se ter em conta que houve grandes concessões por parte do PCP, a ponto de enterrar parte da sua ideologia (enterrar é um bom termo neste contexto, creio, porque indica que não está esquecida, apenas adormecida enquanto o acordo durar). E que é um PCP com direito a negociação, mas sem grande poder final (algum há sempre de ter, mas é reduzidíssimo), até porque a orientação mestra é do PS, e eles aceitam isso. Não há risco nenhum, na minha opinião---é mesmo zero--- de vermos a democracia a ser limitada por princípios comunistas, porque não é isso que está em causa, embora haja o evidente risco de asneirada nas contas públicas, à conta do desejo de fazer passar medidas ainda mais populares e "imediatistas" que as do PS.
EDITADO---reparei só agora que escreveste PSD+CDS, e não apenas CDS, o que torna o paralelismo mais aproximado. A minha resposta, contudo, é na mesma aplicável a esse cenário.