Falas dos recolectores que viviam nas cavernas? A análise do problema não pode ser alargada a milhões de anos, nessa base temporal o pretróleo também é uma energia renovável. Se fizermos isso distorcemos o discurso, perdemos as referências.
O abandono do mundo rural é um facto, consequência da evolução das sociedades, até aí nada contra, agora o problema são os que ficam para trás na voragem desse progresso. A riqueza conseguida com o progresso terá, sem a mínima dúvida, de ser repartida para amparar esses que ficam para trás, que por um qualquer motivo não conseguem acompanhar o progresso. Não se pode fechar os olhos e fazer de conta que o problema não existe, senão ele rebenta de forma chocante como aconteceu com estes incêndios. Houve pessoas a morrer dentro de casas encurraladas pelo fogo e sem auxílio. Se isto é o progresso, ele não me interessa. Como diria Mcbeth, atirai o progresso aos cães.
O que estamos a assistir agora é a uma capitulação desse declínio do mundo rural. A minha esperança é que sirva para consciencializar os eleitos locais, para os acordar, porque esses fazem parte da mesma pobreza, estão anestesiados pela habituação, e são insensíveis aos dramas das populações que habitam os lugarejos dessa zonas, sem acessibilidades a meios de assistência e socorro, na sua ignorância preferem queimar os orçamentos, essencialmente dinheiros públicos, em obras de encher o olho sem criação de valor para as populações.
Os autarcas por regra é gente muito limitada, e tudo o que for entregar competências aos municípios, contribuirá para um declínio mais acelerado do interior. O que é essencial é que sejam criadas zonas administrativas intermédias, com eleição por voto directo, com gente competente, e que ponha esses autarcas na linha. As actuais Comunidades Intermunicipais é uma fantochada. Muitas das competências do actuais municípios deveriam ser atribuídas a essas entidades administrativas regionais. Não podemos ter um governo centralizado em Lisboa, e depois uns municípios de cacicagem para onde se transferem competências e dinheiro, sem verificar se estão à altura de os receber.
Há juntas de freguesia que são constituídas apenas pelos membros executivos, estão de porta fechada todo o dia, não têm um único funcionário. Isto não serve para nada, não serve as populações. Tal como fizeram com as escolas e maternidades é preciso dar dimensão e massa crítica a estas pseudo-instituições, que nada servem as populações.