Um escrito claro e útil, editado no Facebook por
José Lourenço
Vírus - esses "génios maléficos"
Um ser vivo define-se por possuir 4 características:
1. um programa genético específico que lhe permite replicar-se originando descendentes similares;
2. Uma membrana celular que o delimita do exterior e regula as trocas entre os dois meios;
3. uma maquinaria biológica que lhe permite usar a energia obtida ou armazenada;
4. uma maquinaria biossintética para a síntese proteica;
Os vírus só possuem a primeira destas características, por esse motivo não são considerados seres vivos. Apesar de terem material genético, dependem da maquinaria biossintética do hospedeiro (ribossomas, RNAt, enzimas…) para se replicarem - são por isso chamados de parasitas intracelulares obrigatórios. Fora das células podem sobreviver durante longos períodos (milhares de anos) até infetarem novo hospedeiro.
A imagem em anexo (retirada de Microbiologia, Vol I, Pelczar/Reid/Chan, MCGraw-Hill, p.433) esquematiza as 5 etapas do mecanismo infeccioso dos vírus: Adsorção, Penetração e desnudamento, replicação bioquímica (usando a maquinaria biossintética do hospedeiro), acoplamento ou maturação e libertação (destruindo a célula acabada de usar e infetando novas células).
Depreende-se, assim, que se torna problemático matar algo que não tem vida sem afetar, em simultâneo, o hospedeiro. O supercomputador do Texas Advanced Computing Center, em Austin, já conseguiu simular a dinâmica molecular das proteínas do vírus SARS-CoV-2, o que ajuda a prever como a "máquina molecular do coronavírus" se move e infeta os hospedeiros (em especial o funcionamento do espigão do vírus implicado nos processos de penetração e desnudamento). Isso permite aos investigadores conhecer melhor as vulnerabilidades do vírus e encontrar possíveis vacinas e medicamentos. O tempo urge, mas aguardemos. Até lá toca a lavar as mãozinhas e evitar levá-las à face de forma a evitar contágios e posteriores adsorções e acoplamentos!
Do ponto de vista evolutivo os vírus mais letais são pouco “inteligentes” pois nenhum parasita obrigatório deseja matar o seu hospedeiro, simplesmente porque os mais letais, como o ébola, tendem a extinguir-se ao não deixar ninguém vivo para se replicarem e disseminarem. Este coronavírus segue um pouco as pisadas do ébola, no que toca á falta de inteligência. O vírus da herpes, pelo contrário, vive em relativa simbiose com os primatas há pelo menos 6 milhões de anos.
Esperemos que pouco a pouco, com o tempo, mude, até que um dia seja apenas mais um dos vírus das constipações comuns que circulam todos os anos, causando tosse ou um nariz entupido ou pouco mais.