Texto longo, ficam avisados antes de começarem a ler.
Então cá chegou o dia em que, 18 anos depois, regressei à meia maratona de Lisboa.
Alvorada às 7:15, depois de ter dormido 7 horas que nem uma pedra.
Pequeno almoço habitual em dias de corrida, composto por tostas e bolachas torradas, generosamente barradas com compotas, acompanhadas com chá bem temperado com açúcar e uma banana a terminar (às vezes como cereais, sem leite, mas hoje não me apeteceu). Costumo beber leite e um café todos os dias de manhã, mas em dia de corridas nunca bebo.
Às 8:00 saída de casa, em direcção ao metro, para me encontrar com um amigo meu junto da estação do Areeiro.
Apanhámos o antepenúltimo comboio (este pormenor é relevante mais tarde), lugares sentados, o caminho todo em conversa sobre corridas… o costume nestas ocasiões. Chegados ao Pragal, demorámos apenas 3 ou 4 minutos para ele beber um café e saímos da estação em direcção à rampa de acesso à praça das portagens.
Aí, sim, é que fomos apanhados na confusão. Um mar de gente que tinha de afunilar nessa rampa de descida. Estivemos quase 45 minutos, completamente compactados, em passo de caracol, até chegar ao acesso. Foi de tal forma demorado que chegámos cá abaixo e 2 minutos depois foi dado o tiro de partida !
Não houve tempo para aquecer, nem para alongar e, apesar da meia partir um pouco mais à frente da mini, mal nos conseguimos safar da horda desenfreada dos tipos da mini que vinham lá detrás (é claramente um erro ter partidas em simultâneo – deviam ter uma diferença de 15 minutos ou algo assim).
Um aparte: se nós, que fomos no antepenúltimo comboio, tivemos este episódio, imaginem quem foi no penúltimo e no último (e posso dizer que quando olhávamos para trás estava uma massa de gente brutal – não faço ideia a que horas terão partido).
Voltando à partida, o meu amigo ia para fazer 2h15m por isso desejámo-nos boa corrida e fiquei por minha conta desde o início.
Com a mistura meia/mini, acabei por fazer a ponte toda pela grelha porque era difícil correr no alcatrão sem pisar alguém ou andar aos encontrões. Lá fui furando sempre que tinha oportunidade e fiz 5 minutos nesse primeiro quilómetro, o que não foi nada mau com tanta gente.
A meio da ponte começo a ver ao longe um tipo com uma bandeirola do tempo e pensei que era o das 2 horas. Acelerei para o apanhar e quando cheguei perto é que vejo que era o da 1h45m. Resolvi ficar atrás dele mais um bocado a ver se via a bandeira das 2 horas.
Entretanto mete-se a descida, a separação das corridas em Alcântara, o que aliviou um bocado a estrada, e eu sempre atrás do tipo da 1h45m (entretanto tínhamos já passado pela bandeira das 2 horas). Nessa altura, aprox ao 3º quilómetro, resolvi seguir atrás dele até conseguir (eu, como parti um bocado atrás, levava 1 minuto a menos, ou seja, quando ele fazia 15 minutos eu estava apenas com 14 – tinha, portanto uma folga de 1 minuto em relação a ele).
Em direcção ao Cais do Sodré encostei-me à direita para ver passar a cabeça da corrida que já ia no sentido contrário. Incrível como é que aqueles tipos vão, literalmente, a sprintar durante 21 quilómetros...
Voltando à corrida, a verdade é que passámos os 5Kms, passámos os 10Kms, passámos os 15Kms e eu sempre atrás do bandeirola da 1h45m. Como me sentia bem, comecei a ter ideias… Querem ver que ainda aguento isto até ao fim ?
Lá passamos os 16, os 17 e a coisa a carburar bem, sempre com o cuidado de me hidratar nos abastecimentos. Não posso dizer que ia completamente à vontade, como nos treinos, mas também não ia mal. Aí por volta dos 17.5, já depois do retorno no Dafundo, o tipo diz “epá, vão andando que eu vou ali dar uma mijinha e já vos apanho”. E lá foi ele aliviar-se no canto de um prédio. É o momento hilariante da corrida. Toda a gente do grupo a rir.
Ao mesmo tempo que me ria pensei “Ò que caneco, então agora que um gajo mais precisa da lebre é que este tipo desaparece ?!”.
Mas, pronto, tentei manter o ritmo, atrás de outros que iam também no grupo, e passado um bocado ele lá voltou (impressionante a facilidade com que ele ia a correr, a falar e a brincar com o pessoal à volta).
Quando passámos os 19Kms é que comecei a sentir cansaço e tive de descolar ligeiramente do grupo. A pouco e pouco eles foram ganhando alguns metros mas, como eu sabia que tinha uma margem de 1 minuto, não me preocupei.
Passei os 20Kms em 1h39 e, aí sim, embora me sentisse bastante cansado (foi uma diferença enorme na parte respiratória dos 19 para os 20), pensei que a 1h45m já não me escapava. Seis minutos para fazer o último quilómetro, já com a zona da meta à vista, só falhava se me desse o badagaio, por muito cansado que estivesse.
Resultado final (tempo de chip)-> 1:44:08, o que deu 4:57/Km
Nem nos meus melhores sonhos alguma vez imaginei que pudesse fazer este tempo (e em boa verdade tudo resultou desse enorme acaso de ter encontrado o bandeirola a meio da ponte).
Pouco depois de cortar a meta encontrei-o, agradeci-lhe pelo trabalho e lá segui para a fila dos brindes.
Em jeito de conclusão posso dizer que a meia já não tem nada a ver com as primeiras edições em que participei (ainda nem havia comboio naquela altura lol). Antigamente conseguia-se correr à vontade, até mesmo em cima da ponte. Hoje a massa de pessoas é tão grande que, mesmo durante toda a corrida e já com esta bem adiantada, um tipo vai sempre com imensa gente à volta e temos de ter muito cuidado para não cair ou para não fazer cair.
Foi agradável voltar a correr uma meia passados tantos anos, apenas com o senão da grande balburdia para chegar à partida e bastante confusão também para sair dali, bem como nos transportes em Belém (demorei mais tempo para chegar a casa do que para fazer a meia). A mini tem mesmo muitos milhares de pessoas - no total das provas parece que foram 40K pessoas.
A solução parece-me que seria dar a partida da meia mais cedo do que a mini (1 hora antes era o ideal), embora isso não deva ser possível porque quebra grupos de famílias e de amigos em que há dois tipos de corredores.
E, pronto, com a missão cumprida, hoje, ao fim da tarde, fiz uma pequena caminhada de 2 quilómetros para ver se amanhã não estou muito moído. Amanhã devo fazer 5 Kms em passo de tartaruga só para limpar os músculos. No Domingo é a corrida da APAV, 10Kms, onde vou tentar fazer abaixo dos 50m, o que sinto ser perfeitamente possível pelo que fiz hoje.