Rui Vaz,
É interessante o teu texto. Dá expressão a preocupações comuns dos cidadãos e dos trabalhadores. Mas, uns e outros enquanto economistas, e em abstracto, não veem as coisas sob a luz dos receios que exprimes.
Esse definição básica de produtividade dificilmente se aplica às economias ocidentais, onde os fatores de produção são cada vez menos as pessoas e cada vez mais as máquinas, [ ]
Toda a produtividade se liga à acção dos produtores. O que sucede é as máquinas estarem engenhadas à produção de efeitos dados, o que potencia a acção específica dos trabalhadores que as utilizam. Simplesmente, as próprias máquinas são projectadas e fabricadas através de outras máquinas operadas por trabalhadores fabris segundo o processo de construção engenhado para tais meios de produção.
E assim sucessivamente até à extracção dos recursos da natureza, onde sempre o trabalho se requer, nem que seja para colher a maçã da macieira, como dizia John Locke.
Logo, é sempre o trabalho que é produtivo, não obstante a fecundidade da natureza e a inteligência do engenho humano.
É que, à medida que a produtividade aumenta e o número de trabalhadores diminui, sendo a maior parte do trabalho efetuado por máquinas, quem que vai tirar o maior benefício dessa correlação praticamente de 100%?! [ ] o excesso de mão de obra que cada vez se torna menos necessária, sobretudo nos setores onde a mecanização e automação se vão tornando preponderantes, ou seja, os que são mais de capital intensivo do que de trabalho intensivo.
O número de trabalhadores diminui no sector inovado por tecnologia mais avançada, mas não diminui nos sectores da investigação da ciência e do conhecimento, nem nos da produção dos novos meios de produção. Para além disto, há sectores de produtividade relativamente constante que sempre são necessários como os de serviços pessoalizados, interactivos, por exemplo, o ensino, os cuidados de saúde, para além da construção e manutenção de infraestruturas de transporte, comunicações, etc.
[ ] pois vai deixar de ser possível beneficiar os rendimentos do capital comparativamente aos do trabalho, caso estes diminuam progressivamente em relação aos primeiros, algo que já se vem verificando desde há muito!
Os rendimentos de trabalho não diminuirão progressivamente em relação aos do capital, antes o movimento é inverso, o que se reflecte num leque salarial alargado segundo as exigências de conhecimentos e competência requeridos para uma laboração cada vez mais subordinada à ciência.
O capital investido nos meios de produção é necessariamente recuperado pelo produto da venda dos bens que vão sendo fabricados ao longo da respectiva vida útil.
O rendimento líquido, denominado lucro, tende a nivelar-se pela taxa de juro em vigor no mercado do capital-dinheiro, excepto nos casos inevitáveis de monopólio que originam lucro supra-normal, de raíz estrictamente económica.
1ª As máquinas não recebem salários, e a automação fica por uma fração do custo do trabalho humano, muito menos produtivo.
2ª Numa economia de mercado (mesmo apenas parcial) o lucro empresarial (o salário do empreendedor!) é pago, em última análise, pelos consumidores.
Estas duas "razões"-"apreensões", nada valem.
As máquinas "não recebem salários", lol,
apenas o seu custo é inteiramente ressarcido
através de preço pago pelos consumidores
dos bens em cuja produção intervieram.
O salário do "empreendedor", como o de todos
os assalariados directos e indirectos de toda
a produção vendida, aplicada na produção
e ou consumida como produto final,
é pago pelos consumidores.
Os bens que se produzam e não sejam
consumidos, por não haver quem os compre
ou por não interessarem para nada, redundam
em puro empobrecimento geral e diminuição
do capital e riqueza acumulada.