Mais uma vez a srª. Jonet , profissional da caridadezinha, apostou nas meias-verdades, que são a forma mais eficaz de propagar e enraizar a manipulação e a mentira na consciência de cada um.
De facto há uma transmissão geracional da pobreza, assim como o há da riqueza. Os ricos querem que os seus filhos continuem ricos, mesmo que estes não tenham mérito, nem queiram trabalhar ou valorizar-se pessoal ou profissionalmente. E este modelo de sociedade só é viável cultivando a mediocridade das elites e barrando aos menos favorecidos as possibilidades de ascensão social.
É verdade também que muitas pessoas pobres não querem trabalhar, mas isso é perfeitamente natural e compreensível quando se constata que a remuneração do trabalho disponível não permite retirar essas pessoas da pobreza. Em muitos casos, as despesas inerentes a ter um emprego – deslocações, creches para os filhos pequenos, refeições fora de casa, etc. – tornariam a pessoa ainda mais pobre e necessitada do que mantendo-se desempregada.
E depois há a parte de que as jonetes nunca abordam, que é o facto de haver muitas famílias em que, mesmo trabalhando vários dos seus elementos, continuam pobres, enquanto nas famílias-jonés se consegue sem dificuldade perpetuar o modelo tradicional de ter muitos filhos, dar estudos a todos tendo apenas o pai de família a trabalhar enquanto a esposa-e-mãe se entretém a praticar a caridadezinha institucionalizada. Ou seja, a raiz do problema está na desigualdade na distribuição de rendimentos, que em, Portugal é muito mais acentuada do que na generalidade dos países europeus.
Os neoliberais então, com a sua visão assistencialista da pobreza, tendem a todo o custo perpetuar como ameaça para os “preguiçosos” e pretexto para a caridadezinha dos ricos.
O seu discurso moralista sempre presente, que tende a culpar os pobres pela sua preguiça e falta de iniciativa e esforço para melhorar a sua situação, ou as instituições estatais, que dão a quem não precisa ou a quem abusa, valorizando-se a caridade de iniciativa religiosa ou particular, a que sabe a quem dá e o que dá, a que não alimenta os “vícios” dos pobres e os mantém eternamente agradecidos pela esmolinha.