Continuo a achar mesmo engraçado a malta neo-liberal que acha que o Estado se deveria resumir a ter um exército e uma polícia para ajudar a proteger os seus patrimónios privados estar tão sensível com as crianças com cancro ou com as crianças que têm aulas a chover nas salas de aula. É só ridículo.
Não me apetece estar agora a perder tempo a destrinçar o que é que na cultura merece apoio e o que não merece, nem a explicar que cada obra de arte é feita num contexto próprio, com um intuito próprio, dentro ou fora do âmbito da obra geral do seu autor e tem, em geral uma explicação e um objectivo (por vezes até em forma de monografia). Nem me apetece perder tempo com o critério de gosto que aqui é usado para achar que uma fundação histórica como Serralves deve ou não usar o dinheiro que tem, parte do qual vindo do Estado. Perco no entanto tempo a dizer que a Estónia, esse paraíso neoliberal na Europa, gasta 2% do PIB em cultura, quando Portugal é o 5º país da Europa que gasta menos. Gastar em cultura é investir no não-embrutecimento da população do país, é abrir-lhe horizontes quando disponibiliza a preço baixo ou gratuito arte de formas diferentes e que levam à reflexão, o que é sempre bom. Não é deixar aos privados o monopólio de enfardar as cabeças cansadas das pessoas com lixo de entretenimento fácil, que por não exigir qualquer reflexão é mais apetecível e fácil de "comer", e nos intervalos enfiar-lhes com doses generosas de publicidade. É assim, cada um vota no que quer, e o que vale é que os poucos que desvalorizam o papel da cultura acessível a todos no futuro do país são felizmente mesmo poucos e nunca iremos bater assim tão fundo. E sim, eu também defendo saúde e educação de qualidade fornecida pelo Estado e paga pelos meus impostos. Portanto vir com essa conversa das crianças para cima de mim não cola, pois eu não me importo de pagar impostos para que um Estado trate das crianças com cancro e lhes dê escolas sem chover nas salas de aula, e, depois disso, para que o Estado forneça cultura e um serviço público de comunicação social que preencha as lacunas dos privados.