Não sou perito em cinema, mas tenho ideia que fazer um bom filme não seja assim tão barato (imagino que se alguem quisesse fazer um filme acerca de V. da Gama não ficaria mais barato que o Colombo). O cinema tem ainda a particularidade de que é feito um único protótipo que absorve quase todos os custos. Também não sei o suf de cinema para colocar nºs mas não me espantaria que 80 ou 90% dos custos associados a um filme sejam gastos antes da estreia, e portanto é uma actividade de alto risco, já que a maior parte dos custos são independentes de o filme vir a ter 100 mil ou 100milhões de espectadores. Tal é totalmente diferente da edição livreira onde se pode começar por uma edição limitada e depois ir produzindo novas edições consoante o sucesso. Essa combinação de custos fixo e risco leva a uma elevada concentração da indústria com os players capazes de produzir um nº mínimo de filmes de modo a garantir o sucesso e ao mesmo tempo limitá-los de para evitar dispersão excessiva. A produção de um país como Portugal, Bélgica ou países escandinavos, não tem hipotese de enquadrar num modelo destes. Mesmo a nível de paises maiores o cinema espanhol está limitado a espanha e o alemão à alemanha (embora de vez em quando surjam grandes filmes), e nenhum cinema europeu tem qq impacto nos USA. Esse último aspecto creio que tem aspectos culturais (aversão pelas legendas nos espectadores americanos e alguma negação do que não é USA) e condicionamentos da indústria, já que não incomum os americanos fazerem remakes de filmes franceses e a cópia ter um sucesso razoável, quando o filme francês nem sequer passou nos USA (ou mesmo em Portugal), e fornece algum argumento para se considerar que o sucesso de bilheteira não é a métrica infalível de qualidade.
Por isso não me choca que se considerarmos o cinema como uma produção cultural os países europeus subsidiem os cinemas respectivos.
Quanto á liberdade de escolha individual, é muito bonito em teoria e talvez possa funcionar numa sociedade muito simples, mas desde que a sociedade alcance algum nível de complexidade é completamente impraticável. Alguém poderia decidir que a investigação cientifica não lhe interessa, ou pq acabou de ver um filme com robots decidir financiar a investigação em robótica e não a biologia, ou porque leu um livro sobre templários decidir atribuir a sua contribuição na cultura para a preservação do convento de cristo (talvez na expectativa que lá se encontre o famoso tesouro) e não para o mosteiro da Batalha.