Olá, Visitante. Por favor entre ou registe-se se ainda não for membro.

Entrar com nome de utilizador, password e duração da sessão
 

Autor Tópico: Subsídios ao cinema  (Lida 45999 vezes)

Incognitus

  • Administrator
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30971
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #40 em: 2012-12-31 14:46:52 »
Para colocar o problema de outra forma.
 
Não se trata de defender MO ou defender balas e bolinhos.
 
Trata-se sim de existirem pessoas que advogam que ESPECIFICAMENTE quem não quer apoiar as suas opções, seja forçado a fazê-lo.
 
Adicionalmente, existe implícita nessa posição a noção de que não existem realmente pessoas suficientes para apoiar essas opções ou com vontade de o fazer voluntariamente. É uma posição anti-ética por definição. É dizer "eu acho que isto deve ser apoiado, mas se não for à força não vou conseguir recursos suficientes para isto ser apoiado, pelo que defendo que isto seja apoiado à força".
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com

Incognitus

  • Administrator
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30971
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #41 em: 2012-12-31 14:48:40 »
Não sou perito em cinema, mas tenho ideia que fazer um bom filme não seja assim tão barato (imagino que se alguem quisesse fazer um filme acerca de V. da Gama não ficaria mais barato que o Colombo). O cinema tem ainda a particularidade de que é feito um único protótipo que absorve quase todos os custos. Também não sei o suf de cinema para colocar nºs mas não me espantaria que 80 ou 90% dos custos associados a um filme sejam gastos antes da estreia, e portanto é uma actividade de alto risco, já que a maior parte dos custos são independentes de o filme vir a ter 100 mil ou 100milhões de espectadores. Tal é totalmente diferente da edição livreira onde se pode começar por uma edição limitada e depois ir produzindo novas edições consoante o sucesso. Essa combinação de custos fixo e risco leva a uma elevada concentração da indústria com os players capazes de produzir um nº mínimo de filmes de modo a garantir o sucesso e ao mesmo tempo limitá-los de para evitar dispersão excessiva. A produção de um país como Portugal, Bélgica ou países escandinavos, não tem hipotese de enquadrar num modelo destes. Mesmo a nível de paises maiores o cinema espanhol está limitado a espanha e o alemão à alemanha (embora de vez em quando surjam grandes filmes), e nenhum cinema europeu tem qq impacto nos USA. Esse  último aspecto creio que tem aspectos culturais (aversão pelas legendas nos espectadores americanos e alguma negação do que não é USA) e condicionamentos da indústria, já que não incomum os americanos fazerem remakes de filmes franceses e a cópia ter um sucesso razoável, quando o filme francês nem sequer passou nos USA (ou mesmo em Portugal), e fornece algum argumento para se considerar que o sucesso de bilheteira não é a métrica infalível de qualidade.
Por isso não me choca que se considerarmos o cinema como uma produção cultural os países europeus subsidiem os cinemas respectivos.

Quanto á liberdade de escolha individual, é muito bonito em teoria e talvez possa funcionar numa sociedade muito simples, mas desde que a sociedade alcance algum nível de complexidade é completamente impraticável. Alguém poderia decidir que a investigação cientifica não lhe interessa, ou pq acabou de ver um filme com robots decidir financiar a investigação em robótica e não a biologia, ou porque leu um livro sobre templários decidir atribuir a sua contribuição na cultura para a preservação do convento de cristo (talvez na expectativa que lá se encontre o famoso tesouro) e não para o mosteiro da Batalha.

 
Se existem suficientes pessoas a pensar assim, então elas que financiem voluntariamente esse seu modelo preferencial de sociedade. Se NÂO existem suficientes pessoas a pensar assim, então não é democrático espetar-lhes com esse modelo. Em qualquer caso, não existe razão para um tal modelo não ser voluntário. As pessoas nascem, vivem e morrem, e não existe garantia nenhuma de que essa sociedade involuntária de alguma forma lhes traga maior felicidade nesta curta passagem pelo mundo. Pelo que não existe sequer uma razão muito forte para lhes retirar o livre arbítrio.
 
No fundo dizer o contrário é querer usar a vida dos outros para perseguir o nosso ideal de sociedade.

Devia ter sido mais explicito. Quando disse "liberdade de escolha individual", estava a pensar na possibilidade de escolha individual até um nível muito ínfimo da organização da sociedade. Tenho sempre embebida a noção de democracia que tomo por axioma e por vezes esqueço de mencionar.

Termos uma democracia não pode ser carta branca para uns decidirem roubar aos outros onde tal é manifestamente desnecessário.
 
Por exemplo, um MO custa 700000 euros/ano. Não existe razão nenhuma para essa contribuição não ser feita apenas por quem com ela concorda, pois tal exige muito poucos recursos a quem o decidir fazer. A menos, claro, que as obras do homem tenham tão pouco valor que nem sequer 100000 pessoas estejam disponíveis a entrar com 7 euros cada uma para as tornar realidade.
 
Se assim for, ainda mais absurdo se torna o sistema presente, pois obriga todos a pagar para algo com um valor comprovadamente ínfimo.

nem todos votaram no Pedro Passos Coelho mas todos levam com ele. Cham-se democracia. Tal como nos USA.

Não é um bom paralelo, porque estamos a falar de coisas muito específicas em que é possível existirem simultaneamente as várias opções. Isso não é possível com um governo.
 
É importante entender isto quanto ao que eu estou a defender. Defendo-o para coisas em que é manifestamente possível e fácil ter as várias opções simultaneamente. Não existe nenhuma razão prática para o MO e afins não serem apoiados voluntariamente por quem neles vê "tanto valor".
« Última modificação: 2012-12-31 14:49:17 por Incognitus »
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com

Zenith

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 5268
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #42 em: 2012-12-31 14:52:22 »
Acho que voltamos sempre ao aforismo do Chrurchill "A democracia é o pior dos sistemas com excepção de todos os outros que já foram tentados".
A liberdade de escolha individual acho óptimo mas só funciona até um determinado nível de detalhe. Numa sociedade já com alguma dimensão  se se for a um nível muito baixosó ganhamos um factor de complexidade destruidor de eficiência.
Fico com ideia que se pega nalgumas imperfeições para dizer que tudo está errado.


Smog

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 6788
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #43 em: 2012-12-31 14:54:04 »
Para colocar o problema de outra forma.
 
Não se trata de defender MO ou defender balas e bolinhos.
 
Trata-se sim de existirem pessoas que advogam que ESPECIFICAMENTE quem não quer apoiar as suas opções, seja forçado a fazê-lo.
 
Adicionalmente, existe implícita nessa posição a noção de que não existem realmente pessoas suficientes para apoiar essas opções ou com vontade de o fazer voluntariamente. É uma posição anti-ética por definição. É dizer "eu acho que isto deve ser apoiado, mas se não for à força não vou conseguir recursos suficientes para isto ser apoiado, pelo que defendo que isto seja apoiado à força".
eu fui forçada a ficar sem subsidios de natal e férios e vou ser obrigada a pagar os deste ano em impostos. acho pior que se use o meu dinheiro para tapar as contas do bpn.
wild and free

Incognitus

  • Administrator
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30971
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #44 em: 2012-12-31 15:02:04 »
Para colocar o problema de outra forma.
 
Não se trata de defender MO ou defender balas e bolinhos.
 
Trata-se sim de existirem pessoas que advogam que ESPECIFICAMENTE quem não quer apoiar as suas opções, seja forçado a fazê-lo.
 
Adicionalmente, existe implícita nessa posição a noção de que não existem realmente pessoas suficientes para apoiar essas opções ou com vontade de o fazer voluntariamente. É uma posição anti-ética por definição. É dizer "eu acho que isto deve ser apoiado, mas se não for à força não vou conseguir recursos suficientes para isto ser apoiado, pelo que defendo que isto seja apoiado à força".
eu fui forçada a ficar sem subsidios de natal e férios e vou ser obrigada a pagar os deste ano em impostos. acho pior que se use o meu dinheiro para tapar as contas do bpn.

Bastava não o terem nacionalizado, mas foi do interesse de alguém fazê-lo, portanto nacionalizaram-no. No fundo algo similar ao que estamos aqui a discutir.
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com

Incognitus

  • Administrator
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30971
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #45 em: 2012-12-31 15:04:36 »
Acho que voltamos sempre ao aforismo do Chrurchill "A democracia é o pior dos sistemas com excepção de todos os outros que já foram tentados".
A liberdade de escolha individual acho óptimo mas só funciona até um determinado nível de detalhe. Numa sociedade já com alguma dimensão  se se for a um nível muito baixosó ganhamos um factor de complexidade destruidor de eficiência.
Fico com ideia que se pega nalgumas imperfeições para dizer que tudo está errado.

Não, é mais complexo. A democracia entende-se quando visa sistemas que aproveitam a toda a sociedade. O problema é que cria um mecanismo que pode ser usado para avançar interesses particulares, e esses naturalmente aproveitam-no.
 
Não existe razão nenhuma para depois de se ter um sistema democrático, este desatar a tirar dinheiro às pessoas para avançar coisas altamente opcionais como o cinema. Isso apenas acontece porque é possível, e porque enganadamente as pessoas quando o roubo é feito a favor de interesses coincidentes, apoiam-no. (mas depois fartam-se de berrar quando o mesmo mecanismo é feito para avançar interesses que não são coincidentes).
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com

Incognitus

  • Administrator
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30971
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #46 em: 2012-12-31 15:09:35 »
Dito de outra forma, as pessoas têm que ter a coragem de dizer "sim, eu acho que o MO deve ser apoiado. Não, eu não acho que todos devam ser obrigados a fazê-lo". Essa é a posição eticamente correcta.
 
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com

Automek

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30976
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #47 em: 2012-12-31 15:19:14 »
A subsidiação do cinema é algo de mais complexo, já que um filme é simultaneamente um produto cultural e um protótipo industrial cujos custos são essencialmente fixos (e extremamente elevados comparativamente com um livro p. ex). Os custos fixos extremamente altos levam a uma concentração elevada em que os pequenos não poderão sobreviver se não forem apoiados. Por isso não me choca por principio que os paises europeus apoiem o cinema nacional se virem nisso um elemento de promoção de diversidade cultural ou asserção da identidade. Os tipos de apoios. a maneira como são dados e as consequencias que tem na manutenção de uma estrurura pletórica é que poderiam ser escrutinados.
Mas Zenith, repara que há filmes nacionais que são êxitos de bilheteira, mas pelos vistos não são 'culturais' porque não recebem apoios.
E arrisco a dizer que são êxitos de bilheteira precisamente porque não têm apoios ou seja, a rentabilidade só aparece se oferecerem um produto que o público quer comprar.

Ora, ao aceitarmos que o MO e outros recebam, ano após ano, muitos milhares de euros de impostos, sem que tenham um produto rentável (que o mesmo é dizer terem um produto para o qual não há interessados em quantidade suficiente), isso só será aceitável se dai vier uma evidente vantagem para o país, em termos de bem comum.

Eu admito que possa ser bastante miope em matéria de cultura, mas sinceramente não consigo descortinar como é que os filmes do MO trouxeram algum tipo de progresso ou desenvolvimento ao pais que justifiquem que o senhor leve todos os anos 700K euros para fazer filmes que são vistos por menos de 10K pessoas.

Smog

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 6788
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #48 em: 2012-12-31 15:22:26 »
Dito de outra forma, as pessoas têm que ter a coragem de dizer "sim, eu acho que o MO deve ser apoiado. Não, eu não acho que todos devam ser obrigados a fazê-lo". Essa é a posição eticamente correcta.
não o meu dinheiro não deve ser usado para tapar o buraco do bpn. deve ser usado para financiar o MO.
wild and free

Zenith

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 5268
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #49 em: 2012-12-31 15:24:49 »
Acho que voltamos sempre ao aforismo do Chrurchill "A democracia é o pior dos sistemas com excepção de todos os outros que já foram tentados".
A liberdade de escolha individual acho óptimo mas só funciona até um determinado nível de detalhe. Numa sociedade já com alguma dimensão  se se for a um nível muito baixosó ganhamos um factor de complexidade destruidor de eficiência.
Fico com ideia que se pega nalgumas imperfeições para dizer que tudo está errado.

Não, é mais complexo. A democracia entende-se quando visa sistemas que aproveitam a toda a sociedade. O problema é que cria um mecanismo que pode ser usado para avançar interesses particulares, e esses naturalmente aproveitam-no.
 
Não existe razão nenhuma para depois de se ter um sistema democrático, este desatar a tirar dinheiro às pessoas para avançar coisas altamente opcionais como o cinema. Isso apenas acontece porque é possível, e porque enganadamente as pessoas quando o roubo é feito a favor de interesses coincidentes, apoiam-no. (mas depois fartam-se de berrar quando o mesmo mecanismo é feito para avançar interesses que não são coincidentes).

Não consigo acompanhar.
Podemos dizer que como temos uma democracia recente ainda nos falta cultura democrática, e isso gera abusos e prepotencias. Isso é um problema de Portugal e não da democracia em si.
A democracia tem em principio os mecanismos para implementar a auto-fiscalização e correcção. É usa-los.
O meu problema é que não vejo nenhuma exequibilidade (pelo menos no sentido de alguma convergência ética) ás alternativas do "eu não uso o serviço XPTO portanto não devo pagar", e ainda me suscita mais desconfiança quando em muitos casos os pregadores dessas alternativas se formos um pouco mais ao detalhe consomem uma fatia superior á média dos recursos públicos.

Incognitus

  • Administrator
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30971
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #50 em: 2012-12-31 15:25:44 »
Dito de outra forma, as pessoas têm que ter a coragem de dizer "sim, eu acho que o MO deve ser apoiado. Não, eu não acho que todos devam ser obrigados a fazê-lo". Essa é a posição eticamente correcta.
não o meu dinheiro não deve ser usado para tapar o buraco do bpn. deve ser usado para financiar o MO.

Exacto, e terias exactamente essa capacidade se:
1) O BPN não tivesse sido nacionalizado por iniciativa do Estado, fazendo assim com que as perdas recaíssem sobre accionistas, credores e depositantes de grandes dimensões;
2) Tivesses depois a possibilidade de voluntariamente apoiar o MO (ou ir ver os filmes, que seria a mesma coisa).
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com

Incognitus

  • Administrator
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30971
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #51 em: 2012-12-31 15:30:11 »
Acho que voltamos sempre ao aforismo do Chrurchill "A democracia é o pior dos sistemas com excepção de todos os outros que já foram tentados".
A liberdade de escolha individual acho óptimo mas só funciona até um determinado nível de detalhe. Numa sociedade já com alguma dimensão  se se for a um nível muito baixosó ganhamos um factor de complexidade destruidor de eficiência.
Fico com ideia que se pega nalgumas imperfeições para dizer que tudo está errado.

Não, é mais complexo. A democracia entende-se quando visa sistemas que aproveitam a toda a sociedade. O problema é que cria um mecanismo que pode ser usado para avançar interesses particulares, e esses naturalmente aproveitam-no.
 
Não existe razão nenhuma para depois de se ter um sistema democrático, este desatar a tirar dinheiro às pessoas para avançar coisas altamente opcionais como o cinema. Isso apenas acontece porque é possível, e porque enganadamente as pessoas quando o roubo é feito a favor de interesses coincidentes, apoiam-no. (mas depois fartam-se de berrar quando o mesmo mecanismo é feito para avançar interesses que não são coincidentes).

Não consigo acompanhar.
Podemos dizer que como temos uma democracia recente ainda nos falta cultura democrática, e isso gera abusos e prepotencias. Isso é um problema de Portugal e não da democracia em si.
A democracia tem em principio os mecanismos para implementar a auto-fiscalização e correcção. É usa-los.
O meu problema é que não vejo nenhuma exequibilidade (pelo menos no sentido de alguma convergência ética) ás alternativas do "eu não uso o serviço XPTO portanto não devo pagar", e ainda me suscita mais desconfiança quando em muitos casos os pregadores dessas alternativas se formos um pouco mais ao detalhe consomem uma fatia superior á média dos recursos públicos.

Não se trata de consumir mais ou menos, ou de não se usar um serviço e por isso não se querer pagá-lo, mas sim de existirem coisas extraordinariamente gerais como justiça, segurança, saúde, educação, regulamentação, etc, que se justificam para todos mesmo quem não as usa directamente por sorte ou falta de necessidade. E depois existirem coisas altamente opcionais, como o cinema ou o desporto motorizado, que usam o mecanismo criado para financiar o Estado para dirigirem recursos para esses interesses particulares.
 
A alternativa é o que temos hoje, em que cada um tenta avançar os seus interesses não só de forma ética num mercado voluntário, mas também usando o mecanismo do Estado para dirigir para si uma fatia dos recursos dos outros superìor à que obteria de forma voluntária (sempre com "bons motivos").
« Última modificação: 2012-12-31 15:34:50 por Incognitus »
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com

Zenith

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 5268
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #52 em: 2012-12-31 15:44:02 »
A subsidiação do cinema é algo de mais complexo, já que um filme é simultaneamente um produto cultural e um protótipo industrial cujos custos são essencialmente fixos (e extremamente elevados comparativamente com um livro p. ex). Os custos fixos extremamente altos levam a uma concentração elevada em que os pequenos não poderão sobreviver se não forem apoiados. Por isso não me choca por principio que os paises europeus apoiem o cinema nacional se virem nisso um elemento de promoção de diversidade cultural ou asserção da identidade. Os tipos de apoios. a maneira como são dados e as consequencias que tem na manutenção de uma estrurura pletórica é que poderiam ser escrutinados.
Mas Zenith, repara que há filmes nacionais que são êxitos de bilheteira, mas pelos vistos não são 'culturais' porque não recebem apoios.
E arrisco a dizer que são êxitos de bilheteira precisamente porque não têm apoios ou seja, a rentabilidade só aparece se oferecerem um produto que o público quer comprar.

Ora, ao aceitarmos que o MO e outros recebam, ano após ano, muitos milhares de euros de impostos, sem que tenham um produto rentável (que o mesmo é dizer terem um produto para o qual não há interessados em quantidade suficiente), isso só será aceitável se dai vier uma evidente vantagem para o país, em termos de bem comum.

Eu admito que possa ser bastante miope em matéria de cultura, mas sinceramente não consigo descortinar como é que os filmes do MO trouxeram algum tipo de progresso ou desenvolvimento ao pais que justifiquem que o senhor leve todos os anos 700K euros para fazer filmes que são vistos por menos de 10K pessoas.

Esta discussão aceito, mas o que me chateia na argumentação apresentada é que fico sempre com sensação que são usados silogismos errados
Eu não gosto do MO (ou os filmes do MO estatisticamente tem baixas receitas de bilheteira). O MO é subsidiado pelo estado. Inferência: o estado não deve financiar cinema.
Essa falha de lógica é que irrita.

Não sou contra o subsidio ao cinema. Quanto ao MO, se estivesse nalguma comissão de avaliação para decidir quais as propostas a ser financiadas dependeria de como estaria a dele relativamente ás concorrentes. (até podiam ser todas tão más que nesse caso o meu voto seria de que não houvesse financiamento para nenhuma).
Não são como são avaliados e decididos esses financiamentos, mas dado ser público deve ser transparente e se alguém acha que foi prejudicado porque a secretaria da cultura nomeou uma comissão de avaliação composta por amigos e familiares do MO, deve ter direito de reclamar.

PS Nunca fui ao cinema ver o MO, mas já vi na net (onde tenho possibilidade de acelerar algumas cenas demasiado estaticas :.))


 
« Última modificação: 2012-12-31 15:46:06 por Zenith »

Zenith

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 5268
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #53 em: 2012-12-31 15:53:48 »
Acho que voltamos sempre ao aforismo do Chrurchill "A democracia é o pior dos sistemas com excepção de todos os outros que já foram tentados".
A liberdade de escolha individual acho óptimo mas só funciona até um determinado nível de detalhe. Numa sociedade já com alguma dimensão  se se for a um nível muito baixosó ganhamos um factor de complexidade destruidor de eficiência.
Fico com ideia que se pega nalgumas imperfeições para dizer que tudo está errado.

Não, é mais complexo. A democracia entende-se quando visa sistemas que aproveitam a toda a sociedade. O problema é que cria um mecanismo que pode ser usado para avançar interesses particulares, e esses naturalmente aproveitam-no.
 
Não existe razão nenhuma para depois de se ter um sistema democrático, este desatar a tirar dinheiro às pessoas para avançar coisas altamente opcionais como o cinema. Isso apenas acontece porque é possível, e porque enganadamente as pessoas quando o roubo é feito a favor de interesses coincidentes, apoiam-no. (mas depois fartam-se de berrar quando o mesmo mecanismo é feito para avançar interesses que não são coincidentes).

Não consigo acompanhar.
Podemos dizer que como temos uma democracia recente ainda nos falta cultura democrática, e isso gera abusos e prepotencias. Isso é um problema de Portugal e não da democracia em si.
A democracia tem em principio os mecanismos para implementar a auto-fiscalização e correcção. É usa-los.
O meu problema é que não vejo nenhuma exequibilidade (pelo menos no sentido de alguma convergência ética) ás alternativas do "eu não uso o serviço XPTO portanto não devo pagar", e ainda me suscita mais desconfiança quando em muitos casos os pregadores dessas alternativas se formos um pouco mais ao detalhe consomem uma fatia superior á média dos recursos públicos.

Não se trata de consumir mais ou menos, ou de não se usar um serviço e por isso não se querer pagá-lo, mas sim de existirem coisas extraordinariamente gerais como justiça, segurança, saúde, educação, regulamentação, etc, que se justificam para todos mesmo quem não as usa directamente por sorte ou falta de necessidade. E depois existirem coisas altamente opcionais, como o cinema ou o desporto motorizado, que usam o mecanismo criado para financiar o Estado para dirigirem recursos para esses interesses particulares.
 
A alternativa é o que temos hoje, em que cada um tenta avançar os seus interesses não só de forma ética num mercado voluntário, mas também usando o mecanismo do Estado para dirigir para si uma fatia dos recursos dos outros superìor à que obteria de forma voluntária (sempre com "bons motivos").

Isso é uma discussão mais ampla, de definir as nossas prioridades onde já me revejo (pq um dos problemas de Portugal é na minha opinião a navegação á vista ou imitação de comprtamentos vindos de fora), mas a maneira como decorrem as discussões não dá para perceber isso. O que geralmente se percebe é que se pega numa situação particular para tirar conclusões gerais acerca dos maleficios do sistema e não propor nada para além de expressar o desejo "eu não quero contribuir para isto". 

Automek

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30976
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #54 em: 2012-12-31 15:58:20 »
Esta discussão aceito, mas o que me chateia na argumentação apresentada é que fico sempre com sensação que são usados silogismos errados
Eu não gosto do MO (ou os filmes do MO estatisticamente tem baixas receitas de bilheteira). O MO é subsidiado pelo estado. Inferência: o estado não deve financiar cinema.
Essa falha de lógica é que irrita.
Isto não é nada contra o MO. O MO apenas simboliza o pior que isto dos apoios ao cinema tem, nomeadamente porque recebe, ano após ano, 700K de subsídios, enquanto que as assistências são miseráveis.

Ora, atendendo a que ainda ninguém cortou os apoios ao MO e sendo o MO aquele que recebe mais apoios anualmente, tenho de assumir que tem tido um desempenho de alto nível, embora não tenha público suficiente para lhe comprar o produto (não estou a ser irónico, apenas a tentar ser lógico).

Isto parece o mesmo que financiar um atleta do salto em comprimento, ano após ano e no fim ele não conseguir nem 40 das melhores marcas nacionais e depois argumentar-se que o importante é que ele salta de uma forma esteticamente correcta.

Incognitus

  • Administrator
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30971
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #55 em: 2012-12-31 16:15:28 »
Acho que voltamos sempre ao aforismo do Chrurchill "A democracia é o pior dos sistemas com excepção de todos os outros que já foram tentados".
A liberdade de escolha individual acho óptimo mas só funciona até um determinado nível de detalhe. Numa sociedade já com alguma dimensão  se se for a um nível muito baixosó ganhamos um factor de complexidade destruidor de eficiência.
Fico com ideia que se pega nalgumas imperfeições para dizer que tudo está errado.

Não, é mais complexo. A democracia entende-se quando visa sistemas que aproveitam a toda a sociedade. O problema é que cria um mecanismo que pode ser usado para avançar interesses particulares, e esses naturalmente aproveitam-no.
 
Não existe razão nenhuma para depois de se ter um sistema democrático, este desatar a tirar dinheiro às pessoas para avançar coisas altamente opcionais como o cinema. Isso apenas acontece porque é possível, e porque enganadamente as pessoas quando o roubo é feito a favor de interesses coincidentes, apoiam-no. (mas depois fartam-se de berrar quando o mesmo mecanismo é feito para avançar interesses que não são coincidentes).

Não consigo acompanhar.
Podemos dizer que como temos uma democracia recente ainda nos falta cultura democrática, e isso gera abusos e prepotencias. Isso é um problema de Portugal e não da democracia em si.
A democracia tem em principio os mecanismos para implementar a auto-fiscalização e correcção. É usa-los.
O meu problema é que não vejo nenhuma exequibilidade (pelo menos no sentido de alguma convergência ética) ás alternativas do "eu não uso o serviço XPTO portanto não devo pagar", e ainda me suscita mais desconfiança quando em muitos casos os pregadores dessas alternativas se formos um pouco mais ao detalhe consomem uma fatia superior á média dos recursos públicos.

Não se trata de consumir mais ou menos, ou de não se usar um serviço e por isso não se querer pagá-lo, mas sim de existirem coisas extraordinariamente gerais como justiça, segurança, saúde, educação, regulamentação, etc, que se justificam para todos mesmo quem não as usa directamente por sorte ou falta de necessidade. E depois existirem coisas altamente opcionais, como o cinema ou o desporto motorizado, que usam o mecanismo criado para financiar o Estado para dirigirem recursos para esses interesses particulares.
 
A alternativa é o que temos hoje, em que cada um tenta avançar os seus interesses não só de forma ética num mercado voluntário, mas também usando o mecanismo do Estado para dirigir para si uma fatia dos recursos dos outros superìor à que obteria de forma voluntária (sempre com "bons motivos").

Isso é uma discussão mais ampla, de definir as nossas prioridades onde já me revejo (pq um dos problemas de Portugal é na minha opinião a navegação á vista ou imitação de comprtamentos vindos de fora), mas a maneira como decorrem as discussões não dá para perceber isso. O que geralmente se percebe é que se pega numa situação particular para tirar conclusões gerais acerca dos maleficios do sistema e não propor nada para além de expressar o desejo "eu não quero contribuir para isto".

Os malefícios estão essencialmente no facto de que já se aceita naturalmente o uso do mecanismo para expurgar recursos a terceiros para avançar interesses particulares mesmo em áreas incrivelmente opcionais.
 
Já se está num extremo. E pouco já resta que não seja tentar fazer o mesmo, porque para isto não existem grandes soluções. Simplesmente não existe uma cultura em Portugal de deixar os indivíduos procurarem avançar as suas próprias opções. Existe sim uma cultura de sacar ao próximo para avançar as nossas opções, aquilo que nós achamos correcto. Nem se questiona isso.
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com

Smog

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 6788
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #56 em: 2012-12-31 16:20:37 »
Dito de outra forma, as pessoas têm que ter a coragem de dizer "sim, eu acho que o MO deve ser apoiado. Não, eu não acho que todos devam ser obrigados a fazê-lo". Essa é a posição eticamente correcta.
não o meu dinheiro não deve ser usado para tapar o buraco do bpn. deve ser usado para financiar o MO.

Exacto, e terias exactamente essa capacidade se:
1) O BPN não tivesse sido nacionalizado por iniciativa do Estado, fazendo assim com que as perdas recaíssem sobre accionistas, credores e depositantes de grandes dimensões;
2) Tivesses depois a possibilidade de voluntariamente apoiar o MO (ou ir ver os filmes, que seria a mesma coisa).
Teriamos essa capacidade se estivessessemos numa democracia directa mas como estamos numa representativa não tens outro remédio senão de aceitar o MO. E eu o buraco do bpn.
wild and free

Zenith

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 5268
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #57 em: 2012-12-31 16:22:35 »
Pensei que tinha começado a perceber, mas voltei á estaca zero.
Qual é o " mecanismo para expurgar recursos a terceiros para avançar interesses particulares"?
Não tem possibilidade de correcção? É final e inequóvoco uma decisão arbitral num jogo de futebol?

Smog

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 6788
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #58 em: 2012-12-31 16:25:01 »
Pensei que tinha começado a perceber, mas voltei á estaca zero.
Qual é o " mecanismo para expurgar recursos a terceiros para avançar interesses particulares"?
Não tem possibilidade de correcção? É final e inequóvoco uma decisão arbitral num jogo de futebol?
É o mesmo mecanismo que faz funcionar uma democracia representativa.
wild and free

Incognitus

  • Administrator
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30971
    • Ver Perfil
Re:Subsídios ao cinema
« Responder #59 em: 2012-12-31 16:32:18 »
Pensei que tinha começado a perceber, mas voltei á estaca zero.
Qual é o " mecanismo para expurgar recursos a terceiros para avançar interesses particulares"?
Não tem possibilidade de correcção? É final e inequóvoco uma decisão arbitral num jogo de futebol?

O Estado pode cobrar impostos e estabelecer regras e tomar medidas. Não existe nada que limite que regras e medidas são tomadas. O Estado é criado para estabelecer regras e sistemas gerais que aproveitam a toda a sociedade e que seriam difíceis ou impossíveis de ser implementados sem a sua existência. Porém, de seguida, imensos interesses particulares tomam conta dessa capacidade de cobrar impostos e tomar medidas, para a coberto do interesse geral, financiarem interesses muito específicos com os recursos de todos mesmo onde tal acção já não necessitaria de Estado nenhum para acontecer.
 
Ou seja, não existe nada no cinema ou desporto motorizado ou algo assim que necessite da existência de um Estado para acontecer desde que os interessados o financiem, porém para esses interessados é muito mais interessante obrigar todos a pagar as suas opções.
 
É só isso. E quem diz cinema, desportos motorizados, diz também milhares de outros interesses. A corrupção que existe passa por isso mesmo - por vender algo ao Estado a preços acima do mercado (ou para o qual não exista mercado), ou por criar um sistema de licenças no Estad que atribua valor à sua obtenção limitando os entrantes, e de seguida corrompendo esse sistema.
 
No fundo a razão pela qual um MO faz filmes neste momento, é apenas para ter um motivo para cobrar coercivamente 700k a todos os Portugueses. Obviamente isto nunca será reconhecido excepto em círculos muito estritos, que provavelmente até se riem da coisa e dizem "nunca pensei que isto desse tanto", como eu já ouvi (não acerca do MO mas acerca de outra coisa do género).
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com