@ Lark:
Sendo 100% sincero (mas sem querer ofender, é apenas uma opinião) acho que estás a ser bastante ingénuo.
O problema neste tipo de países, é que os governos no final das contas pouco mandam. As situações já estão tão instaladas e são tão crônicas que as coisas não se conseguem reverter tão rapidamente.
Vês os políticos do Syriza como algo de radicalmente diferente, algo disposto a purgar todos esses cancros internos. Eu tenho muitas, mas mesmo muitas dúvidas. Os políticos são especialistas em dizer aquilo que as pessoas querem ouvir ... mesmo que depois 70% seja pra varrer debaixo do tapete.
Mas é como dizias, será preciso tempo para ver como as coisas realmente vão desenrolar-se (e podem tomar um rumo muito diferente daquilo que imaginamos).
Tu depositas muita confiança em que conseguirão sanar problemas que são muito difíceis de atacar, eu sou altamente céptico.
sim, admito que é uma posição um bocado ingénua. sou um bocado assim por natureza. e optimista.
mas estes gajos nunca estiveram no governo.
nem me toda a europa algum partido deste género esteve no governo. é como se cá o bloco fosse governo.
podia fazer muita merda, mas à partida esperar-se-ia um tipo de merda diferente...
vamos ver..
Z
O Syriza é bem alinhado com o BE, aliás se te lembras quando saíram os resultados da eleição grega a Catarina Martins estava completamente eufórica, parecia que tinham aterrado ETs na Terra, que algo sobrenatural tinha acontecido.
E o meu problema é mesmo esse. Se um partido como o Syriza está alinhado com um partido altamente demagogo como o BE, eu fico automaticamente de pé atrás. Não pode ser bom presságio. Um país não pode ser governado com base numa montanha de palavreado altamente demagógico.
Eu percebo o teu ângulo:
Ao menos é uma entidade que não os partidos que já governaram e pelo menos podem trilhar o seu próprio caminho, fazer a tal "merda diferente" que dizias.
Só que os problemas dos países mais atrasados (ou menos ricos, whatever) não se resolverá experimentando "diferentes merdas".
Estes países terão que atacar de frente a corrupção, com a população a apoiar activamente e convictamente esse tipo de actuação.
Terão que colocar os seus sistemas judiciais a funcionar como deve ser, rápidos e com um mínimo de eficácia. E isso exigirá reformar profundamente o quadro legal, por forma a que os mesmos sejam menos confusos e com abertura a esquemas, muito mais compactos e estáveis.
Eu penso que aquilo que chamas de miopia da Alemanha (e outros países centrais e nórdicos) em não ajudar mais não é uma questão de miopia.
Penso que será mais uma fadiga, um "fartar" de esperar que os países instituam reformas que ataquem os problemas que referi, que tentem corrigir este tipo de problemas, mas as situações vão se protelando, passam anos e anos e nada.
Tenho uns dados que vou colocar no tópico "Portugal Falido" sobre os funcionamento da justiça e outros elementos e discrepância entre Portugal e a Dinamarca (por exemplo) em questões legais é uma coisa brutal. (peço desculpa mas não tenho tido tempo, logo que possa coloco nesse tópico).
Gastos das autarquias completamente loucos, sem controle nenhum, ajustes diretos a torto e a direito. E é claro que há muito boa gente a lucrar com isso.
E o governo a enterrar dinheiro em projectos claramente obscuros como o SIRESP, Parque Escolar, PPPs.
Os países alinhados com a Alemanha não podem obrigar os países com problemas a implementar este tipo de reformas. Seria considerado uma tentativa de "roubo de soberania"; por outro lado devem sentir-se um bocado como uns palhaços, porque sistematicamente enviam dinheiro que acaba desviado ou em aplicações patéticas. Os fundos que recebemos foram muito mal aplicados ... mas foi um fartar de encher os bolsos de pessoal que conhecia a legislação por dentro, que criou gabinetes de formação profissional, etc, etc. E podes escrever que os 20 000 milhões de euros (penso que é esse o valor) do programa Portugal 2020, vão novamente encher a mula a muito boa gente.
É culpa desses países que usemos mal os fundos?
A população local que faz uma cruz nas eleições, mas depois está literalmente a cagar-se no seu dever de fiscalizar os seus representantes não têm também culpa no cartório?
Na minha singela opinião, muito mais que um problema de ideologias e qual delas irá resolver os problemas da sociedade, o que países como Portugal e a Grécia enfrentam é uma erosão completa das suas democracias; e é isso o problema principal a atacar.
O tipo de discurso do Syriza ou do BE para mim não traz esperança nenhuma (nem que fosse simpatizante da esquerda).
Para mim era de valor e teria o meu voto um partido que fosse para a campanha dizendo:
- A democracia neste formato está completamente gasta e corroída. Destruída pela corrupção, interesses e outros factores que prejudicam a maioria da população.
- Os representantes possuem poder a mais, prometemos devolver uma parcela desse poder (que legitimamente pertence à essa mesma população) referendando os assuntos mais relevantes da sociedade (fiscais, estado social, etc ...). E sim eu sei que isso exige alteração da constituição, logo 2/3 do Parlamento, mas aqui sim veríamos até que ponto as pessoas estão ou não fartas dos "partidos do arco" e dispostas a abalar o status quo.
- A lei serve para proteger toda a população, para organizar e estruturar a sociedade. O quadro legal deve ser compreensível ao cidadão médio. Prometemos simplificar a legislação
e a sua linguagem para que o cidadão (que deve cumprir a mesma) consiga perceber as regras fundamentais do país onde vive. A lei não deve ser um reduto apenas para os ultra-especialistas da matéria.
Quem viesse a jogo com algo deste género, estaria abertamente a dizer que era pra partir a louça toda e aí sim colocaria os interesses instalados a borrar as cuecas.
E seria facilmente verificável se cumpririam ou não.