Não, nenhum governo iria meter-se num contrato em que pagaria 10% do valor nominal de todos os montantes que emprestasse, em Maio de 2010. Basicamente isso seria dizer aos próprios contribuintes "caros, vamos perder 10% de todo o dinheiro que emprestarmos à Grécia, por ano". É uma posição que não tem sentido nenhum. Isto com os preços que já existiam nessa altura.
O BCE também não o faria ou nem o poderia fazer. O BCE não é suposto comprar activos com risco ou meter-se em activos onde possa perder dinheiro (e fazer isso GARANTIRIA que perderia dinheiro).
Não só não é impossível acreditar no contrário, como não faz qualquer sentido acreditar no que pareces acreditar... isto não são seguros baratos, estes programas existem quando o credor não tem qualquer credibilidade e portanto por definição são momentos em que os CDS estão caríssimos. Comprar CDS nessas alturas e por prazos prolongados é basicamente garantir perdas (e não a sua inexistência).
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Nota que isto só não aconteceria se ao mesmo tempo que comprassem os CDS, essas entidades europeias emprestassem a taxas de mercado e não a taxas baixas como fizeram.
Não creio que entendas como todas estas peças se juntam umas às outras, Lark.
entendo perfeitamente.
e entendo que os países que não se seguraram com CDS vão ficar muito mal na fotografia.
e não sei como vão explicar isso ao eleitorado.
agora o que interessa é quem está segurado e quem não está.
isso é que é muito interessante.
tens alguma noção? é muito curioso.
Lark
Não, a própria pergunta significa que não entendes a mecânica do produto, Lark.
Repara, um CDS só pode fazer sentido para uma entidade que invista directamente na dívida da Grécia a preços de mercado. Isto porque existe uma arbitragem entre a yield da dívida a preços de mercado e o valor do CDS. Inclusive, é possível produzir "dívida sintética" simplesmente a partir do próprio CDS.
Agora repara, estás a falar de entidades que NÃO obtêm a yield de mercado. Pelo contrário, estão a emprestar a taxas MUITO abaixo do mercado (por isso é que são ajudas ao país que recebe esses empréstimos, não obstante agora a Grécia estar a trair essas ajudas).
Continuando, o CDS está preçado em arbitragem a uma yield de mercado. Se a yield for 12.5%, o CDS possivelmente custará 10% ao ano. Um
investidor normal que compre a dívida Grega e se cubra a preços de mercado, perde o risco todo ou quase todo implícito na yield a preços de mercado.
Mas o que acontece a uma destas instituições Europeias que está a fazer empréstimos a "preço de amigo"? Essa instituição não obtém os 12.5% de mercado. Obtém, em vez disso, algo tipo 2.5% a 5.0%, dos quais uns 2.5% ou mais são o seu próprio custo de financiamento, pelo que obtém na verdade 0-2.5% de yield.
SE essa instituição fosse depois cobrir o seu risco comprando CDS o que lhe aconteceria? Aconteceria que garantiria uma perda! Porque obteria de yield 0-2.5% e pagaria, para garantir que não perderia o capital desse empréstimo, os mesmos 10% ao ano de custo do CDS. Logo por cada ano que passasse, essa instituição perderia garantidamente 7.5-10% do montante emprestado.
Obviamente essa seria uma posição absurda, pelo que é garantido que ninguém a tomou. E tu estares a perguntar ou a pensar que seria racional uma instituição fazer isso, mostra que não percebes inteiramente a mecânica subjacente.