A nacionalização dos fundos de pensões acaba por ser um confisco. Adeus pensões. Apesar da medida de converter uma pequena parte dos depósitos em capital dos bancos se ter transformado num tabu, em termos racionais julgo que seria preferível.
Esta medida de mexer nos depósitos tinha uma carga emocional muito forte e teve o mesmo fim que teve cá em Portugal a questão da chamada TSU. Ficou conotada com "tirar aos pobres para dar aos ricos", e isso bloqueou qualquer raciocínio lógico sobre a mesma.
No Chipre aconteceu o mesmo, o 'sound bite' foi " Estado cipriota assalta depositantes durante a noite", a partir daqui as mentes ficaram toldadas pela emoção, e a dada altura já se omitia a questão da conversão em acções, o povo sabe lá o que isso é? O fenómeno foi tão forte que afectou as mentes que normalmente pensa racionalmente, não chegou a haver condições para explicar a medida. A medida não chegou a ser explicada, mas continuo a achar que ela tem um racional, embora tenha algumas arestas para limar.
A medida é uma forma de responsabilizar os depositantes e os bancos. Quem depositar num banco sólido tem menor probabilidade de se tornar accionista forçado do banco depositário, e os bancos têm de procurar ser sólidos senão perdem depositantes. De outra forma vão continuar a aparecer chipres e islandias, com a banca a corresponder a 7 ou 8 vezes o PIB do país.
O certo é que os bancos cipriotas estavam atafulhadinhos de dinhero estrangeiro, russo, do médio-oriente e de outros países da zona euro, porque pagavam taxas nos depósitos acima de 4,5% isentas de imposto (comparar com França em que juros não passam muito dos 1,4% líquidos de impostos). Claro que depositar em Chipre era mais arriscado do que em França, ou será que os depositantes eram ingénuos e não sabiam?
O diferencial de taxas para a França, por exemplo, implica um acréscimo da remuneração do capital de 15,5% em 5 anos. Com o pagamento do imposto de 10% sobre o capital, ainda compensava em 5,5% ter depositado no Chipre em vez da França nos últimos cinco anos. É um facto que a união monetária não pode funcionar assim com estas discrepâncias fiscais.
Claro que tudo isto não desculpa a falta de tacto político dos tecnocratas do Eurogrupo. Apesar de eu continuar a defender que a medida tem mérito técnico, é um facto que qualquer aspirante mediano a político que estivesse naquele reunião do Eurogrupo teria percebido que a coisa teria de ser tratada com pinças, e não por um comunicado seco sem explicações tal como foi. Além de que taxar poupanças de 5 ou 10 mil euros a 6 e tal por cento era estúpido. Já se nota a falta do Jean-Claude Juncker na liderança do Eurogrupo, lembro que desempenhou o cargo durante cerca de dez anos e saiu em Janeiro de 2013. É um homem cujo pai foi combatente na 2.ª Grande Guerra e por isso tem o bom senso essencial a um político. Os que lá estão agora são filhos da geração dos 'baby boomers', que nunca conheceram dificuldades e não sabem o que é a vida.