Nasci ha muitos anos,e por vezes esqueco-me do passado!
Ontem fui convidado por uns amigos,a ir ao arraial de Machico,cidade onde ja nao ia,ha alguns anos.No palco a musica,o rock da Madeira,foguetes no ar,e gente por todo o lado,a comer e a passear.Dezenas de tascas e tasquinhas,a macaroca cozida para entrada,o bife de atum de escabeche,as favas com vinagre,a carne em vinho de alhos.
Por momentos fechei os olhos,e fugi para o arraial da terra onde nasci e donde sai ainda adolescente.A minha terra ficava no extremo norte da ilha,electricidade nao havia,ruas de terra,onde as vacas eram o motor,de carros de madeira,que transportavam as uvas,o trigo,o milho e a cana de acucar.Tambem nao havia agua canalizada,as mulheres com uma toca na cabeca,carregavam a agua,roubada das ribeiras.A sopa de agriao,de couve ou de semilha,era a refeicao que todos esperavam ao fim do dia,os adultos tinham o previlegio,de beber o vinho das pipas,ate cairem para o lado.
O arraial daquela bela terra,era no primeiro fim de semana de setembro.Na sexta feira,logo aparecia uns homens vestidos de azul,com bombos e cornetas,a orquestra de Santana,aparecia dando inicio a festa.
Os romeiros,homens e mulheres e dezenas de filhos,desciam pela montanha abaixo,descalcos e esfomeados,para irem para a festa do menino Jesus.A Igreja sempre cheia,nao fosse o melhor lugar,para os festeiros dormirem a noite.Milhares de romeiros,entravam pelas vinhas,comiam as uvas e dormiam protegidos pelas folhas das videiras.
Mas festa e festa,os loureiros ficavam sem ramos,nao ha nada no mundo,como uma espetada assada num pau de louro.As vacas,coitadas,eram logo sacrificadas,um punhal na cabeca,e abertas de cima abaixo,eram o pasto de tanta gente esfomeada.
As ruas,ou os atalhos de terra,eram cobertos por flores de papel,do sul,vinham cestos de tabaibos,os frutos dos cactos,a dona Filomena,fazia o pao,dia e noite,num forno movudo a agua.
Abri os olhos!
A minha frente uma miuda com cara de miuda,morena e de cabelo e olhos escuros sorria para mim.No palco alguem imitava os GNR,era dificil falar,mais dificil era ouvir.
Cmo te chamas?
Claudia,senhor!
Mas es ainda uma miuda,quantos anos tens?
Desassete senhor!
Tens a idade do meu neto mais velho!
Ele vem aqui a festa?
Nao,a festa e so para os avos!
Na esplanada improvisada,o vinho e a cerveja corriam pelas nossas gargantas,empurrando os petiscos a todos servidos no arraial.
Estava maravilhado com aquela miuda,que trabalhava todos os dias numa loja de Machico,e que a noite,ate as duas da manha,sempre com um sorriso na cara,corria pelas mesas,e a todos sorria.
Veio a conta,ela pegou nas notas,eu peguei numa nota de dez euros,e meti-a no bolso da blusa.
Senhor,nao faca isso,nao posso aceitar,as gorgetas sao o nosso ordenado,sao para ser divididas por todos os empregados de forme igual,elas sao o nosso ordenado.
Esquece,deixa ficar a nota para ti,gostei muito de ti,e so tua a mereces.
Depois das despedidas,e do cafe tomado noutra tasca em frente,aproximaram-se tres raparigas de tenra idade:Parecia um coro,e as
quatro,com a Claudia a frente,logo disseram:
Obrigado senhor,nunca antes tinhamos recebido uma gorgeta tao grande!
james