Prevendo-se um post extenso e potencialmente maçador, deixo desde já - para alívio dos mais apressados - a resposta à pergunta anterior: sim, na minha opinião vale a pena comprar acções dos CTT. E valerá a pena comprá-las a partir da OPV? Hum, quanto a isso já não estou tão certo. Vamos por partes...
Tinha deixado anteriormente uma estimativa sobre qual seria na minha opinião o valor justo para os CTT. Estando o intervalo de venda encaixado no limite inferior da minha avaliação não me vou estender nessa parte. Enquanto contribuinte esperava mais, enquanto investidor não esperava melhor. Considerando o pior cenário, a fixação do preço nos 5,52€, teríamos uma yield de 7,24 % e um PER de 13. Se os CTT tivessem capacidade para manter este nível de distribuição de lucro, o negócio pagar-se-ia na sua totalidade (em teoria) ao fim de 13 anos. Infelizmente é pouco provável que tenha, pelo menos nos actuais moldes.
A reinvenção será uma necessidade fundamental para os CTT, como foi há uns anos para a PT, quando todos sabíamos que o telefone fixo e as taxas de aluguer estavam condenados à morte. A grande vantagem desta privatização para o país está precisamente aí, o estado vai entregar aos privados a imperativa e impopular necessidade de reestruturação. Reestruturação que englobará previsivelmente cortes na despesa (dispensas) e aumentos de receita (agravamento de tarifas), duas medidas particularmente mal acolhidas quando ocorrem em serviços estatais. É verdade que há uma grande margem de progressão em alguns sectores, nomeadamente na publicidade dirigida, expresso e financeiros, mas dificilmente essas subidas compensarão na totalidade a previsível degradação de receitas no serviço postal. Mas considerando que esta degradação não será demasiado óbvia nos próximos 3-5 anos (tempo mais do que suficiente para a reinvenção), é provável que o seu impacto nesta OPV e no desenrolar da cotação durante o próximo ano seja reduzido. Esse impacto far-se-á sentir com especial incidência durante o próximo bear market, altura em que todas as más notícias são importantes.
Correndo o risco de ser minimalista, se a yield dos CTT se aproximasse dos 5% pagos por alguns dos seus pares a nível mundial, e a alteração fosse apenas provocada pela subida das cotações, isto representaria um price target de 8€. Não me parece um preço absurdo para um bull market, e mesmo que não seja atingido é possível que nos aproximemos dele. Coniderando tudo o que foi dito anteriormente, penso que, podemos partir do princípio que aos preços indicados os CTT provavelmente representam um bom investimento de médio prazo. Respondida a primeira questão, passemos à segunda.
Vale a pena comprar via OPV? Tenho dúvidas... Apenas cerca de 10% das acções serão disponibilizadas a particulares, o que representa um montante de 16 milhões de acções. Estando o montante máximo de acções subscritíveis fixado nos 25000, bastaria que 640 investidores pedissem este montante para esgotar toda a oferta! A partir daí teremos rateio, um rateio previsivelmente feroz! Olhando para a OPV da GALP, por exemplo, tivemos um rateio de 49 vezes. Significa isso que quem pediu 49 mil euros de acções apenas recebeu mil euros. No caso da EDPR, já posterior, este rateio foi superior a 80 vezes.
Não se espera que neste caso o rateio seja inferior. Esta será a última grande privatização de uma empresa pública lucrativa, muitos serão os que vão tentar aproveitar. Mesmo excluindo os investidores que tiveram fortes perdas na EDPR e que não se meterão noutra aventura semelhante tão cedo, muito dificilmente o rateio será abaixo de 25x. Se me pedissem um número, assim ao estilo das previsões que a Maia faz, apontaria para um rateio pelo menos na ordem das 50x, à imagem do que aconteceu no caso GALP. Se assim fosse, e mesmo pedindo o montante máximo, cada investidor ficaria com pouco mais de 2 mil euros de acções. Para o conseguir, seguindo o exemplo, teria de ser pedido o equivalente a 130 mil euros em acções, montante que não figurará na maioria das contas à ordem dos pequenos investidores. E, entenda-se, nem é necessário se o rateio vier a confirmar-se! Só é necessário ter o montante equivalente à totalidade de acções com que se ficar. Mas, por mais remota que seja, e porque os mercados financeiros não são uma ciência exacta, existe a possibilidade de ficarmos com 130 mil euros a descoberto no dia 4 de Dezembro. E essa possibilidade arrepia-me discretamente...
Ora, o que faria esse risco valer a pena? A possibilidade de termos um movimento semelhante ao do Twitter ou do Royal Mail, onde se verificou uma abertura em gap up de várias dezenas por cento. Será previsível que tal ocorra no caso dos CTT? Tenho grandes dúvidas, e passo a explicar porquê. Se as cotações abrissem a valorizar 40%, como aconteceu em Inglaterra, o governo ia ser acusado de incompetência contabilística ou, pior ainda, de favorecer deliberadamente os grandes grupos e vender ao desbarato. Por outro lado, se a cotação abrisse em forte queda o governo ia ser acusado de roubo e de querer encher os bolsos às custas dos pequenos investidores. Epá, mas o governo não pode controlar o que vai acontecer no mercado de forma a extrair deste processo o máximo de dividendos políticos, certo? Errado!
O Governo, num gesto de grande cultura táctica, nomeou um market maker. A JP Morgan terá a seu cargo a missão de evitar oscilações severas das cotações nos primeiros 30 dias de negociação. Se houver forte pressão compradora eles vendem, se a pressão for vendedora eles compram. Esta manipulação assegurará uma flutuação regular dos preços, sem oscilações “à Twitter”. O meu palpite? Quem comprar na OPV ganhará no máximo um prémio de 5% face ao valor de abertura, não sendo seguro que a primeira sessão termine sequer no verde. Veja-se o caso da GALP, que caiu nas duas primeiras sessões de negociação.
Em jeito de balanço final deixem-me clarificar que comprarei acções dos CTT até ao final do ano. Tem tudo para ser um bom negócio, nem que mais não seja por uma questão de momentum. Se as vou comprar na OPV? Dificilmente, um prémio potencial de 100 ou 150€ não paga as noites mal dormidas que teria desde o dia 25 até ao apuramento do factor de rateio.