Bem, uma empresa não trai ninguém quando procura produzir o mais barato possível e vender o mais caro possível ... não é uma analogia directa para alguém que vende segredos militares. E deserção de pessoas que não sejam soldados voluntários também não é propriamente reprovável - é punida, mas apenas porque quem pune tem o monopólio da violência na situação, não porque tenha algum ascendente ético sobre o desertor. Pune porque pode.
A deserção de um soldado voluntário já é diferente. Se é soldado quando não há guerra também o deve ser quando esta existe, senão não serve para grande coisa. Mas isso significa que o soldado tem um tipo de contrato para o ser.
(de resto se não me engano muitos dos políticos pós-25 de abril foram desertores antes do 25 de abril, e relativamente poucos lhes apontam isso como uma falha ética)
Quase toda a gente, sobretudo a gente que normalmente vota nos partidos da direita, reprova a deserção, mesmo que seja de soldados que não são voluntários e foram alistados pelo serviço militar obrigatório. Ok, tu não reprovas, mas nota como a tua opinião sobre isso é minoritária.
Mas de resto, eu posso dar mais exemplos em que há aparente contradição no discurso do pessoal de direita. Por exemplo, quando há uma greve em grande escala que
paralisa as autoestradas, os portos, ou os aeroportos,
sendo dentro da lei. Nestes casos o pessoal de direita todo (como eu vi expresso aqui neste forum) condena a greve, e condena-a porque os grevistas estão a prejudicar a sociedade em geral e logo a não ser patriotas. Mas então em que ficamos, pode-se lutar pelo interesse próprio impondo grandes danos à nação ou não? Não podem defender uma coisa no caso dos impostos da EDP ou JM, e outra no caso dos grevistas que fazem greves paralisantes mas dentro da lei.
Espero que muitos intervenientes do forum vejam isto.