Como tenho procurado mostrar, o mercado bolsista opera uma importante redistribuição de rendimento, equalizando os lucros das diferentes actividades produtivas num dominante lucro médio, pouco maior do que a taxa de juro módica do dinheiro mutuado. Tudo ocorre pela imediata capitalização do lucro ou prejuízo expectável de cada negócio, processo que converte, posteriormente, o sobrelucro de um negócio na rendabilidade média do capital por remunerar de um activo que arca já com uma mais-valia embolsada por outrem. O que é interessante é a consequência desse facto, ou seja, essa redistribuição opera uma maior concentração de fortunas, que obviamente vai de par com a pauperização geral dos pequenos aforradores e com a vida mais difícil para os pequenos e médios produtores.
A este propósito, ontem, numa das entrevistas no canal do Económico - TV, ouvi a linha claríssima de raciocínio do modus operandi das grandes empresas cotadas em bolsa para se apropriarem das mais-valias imediatas que o banco central da Reserva Federal Americana proporciona ao intervir com as suas operações de open market na compra de obrigações emitidas pelas empresas.
As grandes empresas, factuais monopolistas na apropriação prioritária do crédito, contraem empréstimos a juro baixo, emitindo obrigações que a Reserva Federal compra na execução da sua política de dinheiro fácil, o chamado quantitative easing. Na posse dessa liquidez, o que os monopolistas fazem de imediato, - posto que não têm nenhum outro negócio lucrativo em vista, uma vista sempre de muito curto prazo, para lucros imediatos, futuro incerto e ignoto -, é recomprarem acções próprias - único negócio que conhecem, onde arriscam, por nesse risco já estarem imersos até ao pescoço -, as quais operam uma redução de facto do capital social, elevando concomitantemente a capacidade de distribuição de dividendos e remuneração do capital accionista.
A rendabilidade marginal, deduzido o juro das obrigações emitidas, é em si logo vantajosa e não podemos censurar o procedimento porque é essa a lógica do mercado, é desse modo que ele opera. O único óbice é o objectivo da política do quantitative easing ser o de animar as pequenas e médias empresas da economia real, e esse efeito ser esterilizado pela apropriação de mais valias dos grandes monopolistas industriais e financeiros, pelo menos numa primeira fase.