Muito deste pessoal que apenas a imagem reflectida no espelho acha liberais, tem logo uma erecção da medula espinal cada vez que aparece um castigador de direita que vai "endireitar" os parasitas e mamões de esquerda.
O Zenith, há tantos anos a falar e a ler sobre política e economia, ainda não percebeu que liberalismo não é de direita, nem de esquerda. É cada um ter o máximo de liberdade de escolha e viver a sua vida em função do que ele quer e não de como os outros acham que ele a deve viver.
E também não compreendeu que qualquer pessoa que discrimine (do ponto de vista racial, de género ou outro) e que defenda um estado forte é um não liberal.
Também ainda não percebeu que um candidato não esquerdalha não é, automaticamente, liberal. É, simplesmente, não esquerdalha. Ou seja, é alguém do lado "errado" do voto. O Bolsonaro é alguém que não pode ser eleito. Se for eleito é porque os eleitores "erraram". Só isso.
O que penso que o Zenith quer realçar é que pessoas que se afirmam liberais preferem claramente autoritários de direita, a esquerdistas.
Considerando várias dimensões:
1-maior ou menor liberdade económica;
2-maior ou menor proteção social (e menos ou mais impostos);
3-maior ou menor liberdade política.
Um liberal deveria querer mais de 1 e de 3
E menos de 2, embora isso já seja mais discutível. Claro que existem liberais muito de esquerda. Por exemplo, defendem oportunidades para todos o que originaria, por exemplo, um maior grau de combate à pobreza infantil. E até existem libertários de esquerda. Estes, por exemplo, defendem que a propriedade individual de terrenos não é justa pois na origem da posse está sempre a apropriação ou o roubo, o que me parece um argumento sólido.
Mas existem mais que são de direita.O que penso que o Zenith está a sugerir, é que alguns (que se consideram) liberais se preocupam mais com o aumento de 1 e a redução de 2 e que portanto até toleram a redução de 3. No fundo, preferem a Singapura à Suécia dos anos 80.
Quanto à discriminação, a tendência dos liberais é essa. Mas não é essa a base fundamental do liberalismo. Repara, a existência de países e de nacionalidades é, à partida, uma forma de discriminação. Porque é que alguém não pode viver onde quer e ter as regalias dos nacionais desse país? No entanto, nada no liberalismo, nem mesmo no libertarismo, impede a formação de grupos. Se, como diz o Inc, nada impede que se fazem comunas, desde que de adesão livre, porque é que não podem existir grupos com regras de preferência entre os seus membros, desde que não prejudiquem terceiros? (não pode é ser do tipo maçonaria, em que todos pagamos impostos e depois alguns têm mais fácil acesso aos cargos e subsídios do estado).
Porque motivo não pode um país preocupar-se mais com os seus nacionais?
E quase sempre não se pode ter tudo. Na Holanda, o partido anti-imigração muçulmana justifica a sua posição dizendo que os muçulmanos poderão destruir a tolerância que existe para os gays. Alguém consegue dizer que isto é um partido autoritário ou fascista? Claro que não, apenas está a dar mais importância a um aspeto do liberalismo do que a outro, que ameaça destruir o primeiro.
Um liberal pode dar mais importância à liberdade económica do que à política, até por considerar que a primeiro levará mais facilmente à segunda do que o contrário (por exemplo, a Perestroika começou com a liberdade política, enquanto a China com a liberdade económica).