Em teoria um governo de maioria (de esquerda) até podia ter mais probabilidade de sucesso de chegar ao fim dos 4 anos do que um governo minoritário (de direita).
Eu acho muito improvável o Cavaco dar posse a um governo à esquerda, não acredito que isso vá acontecer, mesmo que haja acordo à esquerda, mas penso que será mais por fatores deste género: factos que já aconteceram no passado que o Cavaco tão bem conhece; divisão do eleitorado do PS neste momento; o PS não ter dito que se ia coligar com a esquerda antes das eleições; ele próprio não simpatizar com essa ideia.
O Cavaco não é um politico sem experiência. Ele está completamente à vontade nisto. Há poucos dias, ele esteve no Algarve num torneio de golfe solidário, entrevistaram-no, e ele estava bastante alegre e a desfrutar do momento, só repetia que o cenário que está acontecer já estava previsto. E ele tb não é completamente imparcial. Ele tem um passado grande ligado ao PSD...
Em 1987, o governo de PSD de Cavaco caiu e o presidente da republica Mário Soares (do PS) recusou-se a aceitar uma solução de governo PS-PRD, e convocou novas eleições. O Cavaco conhece muito bem este episódio. Ele teve a seguir a primeira maioria absoluta. Agora, não pode haver eleições já, mas pode haver daqui a 6 meses, e se for necessário o Cavaco opta por isso, ficando o governo em gestão.
Mas acho que isso não vai acontecer pq acho que não vai haver acordo à esquerda, e acho que CDU e BE vão dizer que é por culpa do PS de Costa, enquanto que o PS vai dizer que a culpa é da CDU e BE.
É o que costuma acontecer. Aconteceu isso tb entre a coligação de direita e o PS em alguns acordos que tentaram fazer. Mas acho que o motivo pode ser a divisão no PS, e não o dizerem. A divisão do PS pode ser grande neste momento.
Acho mais provável o Costa recuar do que haver vários processos disciplinares por não votarem a favor da moção de rejeição.
O Presidente da República não terá muitas alternativas caso a PaF tenha o seu Programa de Governo rejeitado pelo PS, PCP e BE.
Só poderá ouvir de novo os partidos e 1) Pedir ao PS para formar governo ou 2) Manter o actual governo em gestão.
A 2ª opção, neste momento é muito complicada. Colocaria o País numa posição muito frágil e sem as medidas extraordinárias o Tratado Orçamental fica comprometido. Novas eleições só podem ocorrer, no mínimo, em Abril. Significaria que na melhor das hipóteses só teríamos orçamento para final de Maio ou Junho. Antes disso, já teríamos os juros a escalar e a UE cá de novo.
Assim, só restaria ao Presidente da República a 1ª opção.
No entanto, mesmo optando por essa situação, penso que haveria sempre um conjunto de imposições para o PR deixar o PS formar governo, porque penso que esse governo, a existir, será sempre também frágil....e uma delas, poderia bem ser
para se voltar a fazer eleições assim que seja possível (pelo próximo Presidente)...Começo a acreditar que seria mesmo o melhor, embora não para o BE e o PCP que a iriam contestar até ao último fôlego...Teríamos um governo em plenas funções por 6 ou 7 meses e novas eleições para deixar o povo dar ou não legitimidade a este governo.
Ironicamente, para o António Costa até poderia não ser um má opção. O António Costa sabe que será sempre visto como alguém que perdeu as eleições e que arranjou "uma forma" de ser PM à força e portanto não terá nunca a mesma força política que se fosse sufragado pelos votos em eleições. Esta opção permitiria-lhe também que até essas eleições 1) se mantivesse em funções e nos cargos e 2) demonstrar até lá que é possível governar bem e "cortar com a austeridade" com resultados válidos e visíveis.
Para a PaF, seria bom ou mau dependendo daquilo que o Costa conseguisse fazer nesse período...se Costa tivesse mesmo sucesso, poderia comprometer os votos na PaF.
Em relação à disciplina de voto, o expediente mais usado pelos deputados é a de "faltar" (e inclusive apresentar o justificativo da falta) quando não concordam com a posição do partido. É a única forma de não lhe instaurarem um processo pelo partido.
Mas neste caso concreto, duvido muito que este expediente vá resultar. Não irão ser permitidas faltas nesse dia e o PS irá encarregar-se de ter a certeza disso.