Qual o impacto da queda do euro na bolsa portuguesa?
Analistas antecipam efeitos positivos da descida da moeda única nas bolsas europeias. Algumas acções nacionais podem ser beneficiadas.
A queda do euro face ao dólar e contra algumas das principais divisas mundiais foi um dos factores que levaram grande parte dos bancos de investimento a recomendar aos clientes aumentar a exposição a acções europeias. Isto porque com uma divisa mais fraca deverá ter um impacto positivo nos lucros das cotadas. Em geral, o princípio também se aplica ao mercado nacional, apesar de algumas situações específicas.
"As perspectivas para um euro mais fraco serão mais um factor favorável para os resultados das cotadas da zona euro, já que a região consegue 45% das suas receitas além fronteiras", constaram os analistas do JPMorgan numa nota aos clientes. Observaram ainda que "que historicamente existe uma forte relação invertida entre o desempenho dos resultados das cotadas da zona euro e a evolução do euro/dólar".
"A queda da moeda de referência de um bloco económico é um factor positivo para as empresas exportadoras, já que o pagamento dos produtos/serviços vendidos tornam-se ainda mais atractivos do ponto de vista financeiro", explica o gestor da área de gestão de activos da Orey Financial, Miguel Oliveira, ao DiárioEconómico. Eacrescenta que "tendo em consideração o mercado accionista nacional ganharão as empresas que apresentam uma maior componente internacional ao nível das vendas ".
Apesar da descida do euro beneficiar mais as empresas exportadoras, o analista da Fincor, Albino Oliveira, realça que é necessário ter atenção aos mercados onde essas cotadas vendem: "Não é só o euro que está a enfraquecer, acontecendo o mesmo, por exemplo, para várias moedas de países em vias de desenvolvimento".
Além disso, alerta que "alguns destes países em vias de desenvolvimento poderão ser penalizados pelo actual enquadramento de baixo preço do petróleo, o que poderá ter implicações na actividade desenvolvida pelas empresas portuguesas nesses mercados".
Altri, Portucel, EDPRe Semapa entre as mais beneficiadas
Algumas das cotadas nacionais que tendem a ter um melhor desempenho com uma evolução positiva do dólar são a Altri e a Portucel. Além de exportarem uma parte significativa da produção, vendem em dólares.
Em algumas análises recentes feitas por bancos de investimento como o BPI, a valorização da nota verde é encarada como um factor positivo para estas empresas. AAltri por exemplo mostrou nas contas mais recentes uma subida das receitas, explicada em parte pela valorização do dólar face ao euro.
Além das produtoras de pasta de papel, há outras cotadas que também podem ser beneficiadas com a valorização do dólar, casos da Semapa, que controla a Portucel, e da EDPRenováveis. A eólica tem quase 40% das receitas provenientes da América do Norte. Estas cotadas conseguem um desempenho superior ao do índice desde Julho do ano passado. Neste período, a Altri lidera os ganhos no PSI 20 avançando 25%. AEDPRenováveis cai 0,70%.Já a Semapa e a Portucel cedem 5,47% e 13,9%. Ainda assim, abaixo dos 32% perdidos pelo PSI 20.
Dívida e custos em dólares podem anular efeito positivo
Mas há o reverso da moeda. O analista da Fincor, Albino Oliveira, referiu que entre o deve e o haver da desvalorização da moeda única é necessário aferir "a existência ou não de dívida financeira denominada numa moeda que não o euro e que pode acabar por retirar parte dos ganhos obtidos em termos operacionais".
Um dos exemplos de cotadas que viram as variações cambiais afectar a dívida foi a EDP. Nas últimas contas, referentes a Setembro, a eléctrica referiu que teve um impacto negativo de 333 milhões de euros na dívida líquido devido à apreciação do dólar e do real. Quase um quinto da dívida da EDP é denominada em dólares.
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