https://www.bloomberg.com/news/articles/2019-03-22/u-s-treasury-yield-curve-inverts-for-first-time-since-2007As yields curves (diferença entre yields de maturidades longas e curtas e há algumas maturidades que já estão abaixo da texa da Fed) têm vindo a inverter desde há alguns meses. Penso que a yield dos UST atingiu um pico ligeiramente acima dos 3% por volta de outubro. Isto significa que o smart money tem vindo a desfazer-se de posições de maior risco (equities e UST de menores maturidades) para UST de maturidades mais longas. Ou seja, o mercado não acredita que a economia vá crescer muito mais daqui para a frente ou que venha mesmo a entrar em território negativo (é o equivalente da preparação para o inverno que aí vem com o armazenamento dos cereais no celeiro). Este comportamento é coerente com o enorme outflow de equities, não obstante o rally dos últimos 2/3 meses (excepção da 1ª semana de março em que ocorreu um inflow em equities). Após a inversão das yield curves, normalmente o bull ainda tem algum gás e após esta correção que se avizinha o bull ainda terá que dar uns esticões. É desejável que assim aconteça para que os patos fiquem a segurar nas acções para que o smart money armazene o seu precioso.
Há razões para a inversão do comportamento económico,nomeadamente devido à enorme incerteza do brexit e comportamentos proteccionistas, nomeadamente EUA/China, o que provoca o adiamento de decisões investimento por parte de famílias e empresas. As empresas também vão adiando decisões difíceis, como layoff e despedimentos, até que alguma coisa (cash-flow) quebra. Estas decisões difíceis são tão mais adiáveis quanto mais limpo do fardo de créditos estiver a empresa...A tendência dos PMI's indica esse pessimismo dos empresários. O PMI dos serviços (saúde, financeiros, seguros, etc que nos EUA vale 2,5x o do retail-$15,5trillion vs $6trillion) terá um delay em relação ao dos durable goods e seguirá a reboque. Em 2015/2016 o PMI dos durable goods teve uma travagem e o PIB norte-americano foi 'segurado' pelos serviços...
Por outro lado, estamos numa fase final do ciclo económico. Ou seja, na maioria dos países está-se em situação de (quase) pleno emprego pelo que boa parte das famílias já será escrava de créditos adquiridos para compra de casa(s), carro(s), remodelações de cozinha, wc, compra do frigorífico, etc, etc. Ou seja, de uma forma geral, os agentes económicos (famílias e empresas) padecerão de credit exhaustion, mesmo com taxas historicamente baixas. A única coisa que não bate certo é a inflação, que continua baixa, embora alguém tenha referido algures num artigo que li que as famílias cada vez mais sentem o peso dos serviços (saúde, seguros, etc), que tem um reflexo mensal no orçamento familiar em detrimento do de bens (small and medium appliances appliances, que se tornaram commodities e adquiridos pontualmente pelas famílias) com excepção de carros e casas.
Posto isto, e depois dos momentos 'shit my pants' dos BC's, talvez o stupid money tenha percebido que o smart money talvez tenha tido razão ao longo destes meses e alguma coisa já tenha quebrado nos fundamentais.
Há uma outra bomba relógio a reboque dos NZIR e das baixas yiels que está relacionado com os pension funds que sustentam os baby-boomers e, por conseguinte, boa parte do sector da saúde. Com yields negativas as poupanças não crescem razão pela qual uma fatia cada vez mais significativa foi sendo alocada a acções. A alternativa seria ir retirando da poupança. Se a barraca accionista abana...
Será que desta vez será diferente?...