Visitante, ninguém diz que se age só daquela forma. Age-se daquela forma para obter produção dos outros, não para qualquer outra coisa.
Aliás, nem se compreende porque é que misturas as coisas. É óbvio que existem milhares de outras dimensões para a vida de uma pessoa, muitas das quais implicam actividade que não tem qualquer objectivo de obter nada dos outros, ou que são altruístas, ou o diabo a sete.
Já agora, sobre a relevância de cada coisa, isso fica para cada indivíduo decidir. Como mostra o Fernando Pessoa no teu exemplo. Algo que pareceria um desperdício para outra pessoa não pareceu para ele. Quem não entendeu a natureza humana foste tu ao não compreender isso ou ao pensares que uma determinada hierarquia de prioridades absoluta existe fora de cada indivíduo.
O caso de Fernando Pessoa não foi uma decisão voluntária. Não leves isso para aí. Costuma dizer-se que só é herói quem não consegue fugir. Isso mostra que ainda não compreendeste que as decisões das pessoas estão sujeitas a condicionalismos e na maioria das vezes NÃO SÃO LIVRES E VOLUNTÁRIAS, são condicionadas por diversos factores, incluindo os emocionais. Alguém quererá morrer? O que as pessoas querem é deixar de sofrer, se lhe aliviarem o sofrimento deixam de querer morrer.
O que acontece é que essa ideologia da livre escolha, PRESSUPÕEM que as escolhas são livres e voluntárias, e não contabiliza estas dimensões da vida. Parte de um pressuposto errado.
As decisões das pessoas estarem condicionadas por milhares de coisas, incluindo as suas decisões passadas ou ambiente social/económico/político em que estão inseridas, é perfeitamente óbvio e não tem que ser relembrado. O que é livre e voluntário é decidir entre as decisões que são possíveis/estão disponíveis. Eu compreendo-o perfeitamente e não entendo porque dizes o contrário.
Por exemplo, a decisão de saltar a 100 metros de altura não a posso tomar, existem condicionantes físicas que me o impedem. Já saltar a 1.5 metros se calhar posso - desde que crie longamente as condições para tal. O mesmo para magotes de outras coisas, incluindo as decisões que estão disponíveis no Bangladesh que fazem com que alguém trabalhe por $1 por dia ou algo do género. Essa pessoa opta entre isso e as alternativas, e se opta por isso é porque isso na sua ideia é melhor que a alternativa.
Quem é contra essas alternativas limitadas pode achar-se muito altruísta, mas na realidade só piora a situação se de alguma forma eliminar a alternativa do $1/dia. Só a melhoraria se fosse oferecer alternativas melhores - o que só acontece quando muita gente oferece $1 por dia, até que um se lembra de oferecer $2 porque não está a conseguir quem precisa a $1.
Ou seja, tu é que não compreendes inteiramente o problema colocado pelas alternativas livres e voluntárias. Não sou eu que tenho essa limitação. Eu considero-as e nunca disse que podíamos todos optar por ser o Bill Gates ou algo do género.