Ora bem, se quando falas em quem não tem dinheiro para mandar os filhos para a faculdade, falas de quem recebe salário mínimo, esses não pagam IRS. E para mim não é imoral cobrar impostos de forma a depois os redistribuir de forma a que todos possam estudar. Para além de que há bolsas de acção social para quem tem mais dificuldades em ir para a faculdade. Podem não funcionar perfeitamente, mas de qualquer forma, prefiro seguir o caminho da Dinamarca ou Alemanha que o do UK ou USA.
Mas eu já nem conto com as pessoas que ganham o salário mínimo. Esses, coitados, nunca vão mandar os filhos para a faculdade, a não ser que morem quase ao lado das universidades. Eu falo dos outros, pomposamente chamados de classe média / média baixa.
Um estudante que vem da província tem de pagar 350€ por um quarto (estou a ser generoso, mandando-o viver num beliche e/ou a mandá-lo para longe do centro urbano). A isto acresce 80€ por mês de propinas (1.000€ ano a dividir por 12 meses para ser mais fácil). Mais o passe que, dependendo de onde vem, podem ser 30, 40, 50€ (ou mais).
Grosso modo 480€/500€. Mais livros, fotocópias, textos de apoio, etc.
Não conto com alimentação, assumindo que come nas cantinas pelo mesmo valor que custaria se estivesse em casa. E não conto com luxos (terá de ser um monge).
Facilmente se vê aqui um valor significativo num casal que ganhe 2.000€ brutos, muito longe do salário mínimo, que paga IRS e que tem zero de apoios sociais. E que provavelmente tem ainda prestação da casa/renda para pagar, eventualmente mais filhos, etc.
São estas as pessoas de que falo. Pessoas que pagam IRS, que pagam o cursos dos outros, que não conseguem suportar um aumento de 500€ nas despesas mensais e que não têm apoios sociais.
Já agora, os apoios sociais são estes em Portugal. Só quase quem mora numa barraca é que tem acesso a eles:
O rendimento anual per capita do agregado familiar deve ser igual ou inferior a 16 vezes o Indexante de Apoios Sociais (IAS), fixado atualmente nos 419,22 euros, acrescido o valor da propina anual para o primeiro ciclo de estudos do Ensino Superior público, que variará de instituição para instituição. Isto significa que, fazendo as contas — e tendo em conta o valor máximo da propina estabelecido para este ano letivo (1.067,85 euros) –, o rendimento anual nunca poderá exceder os 7.775,37 euros.
O aluno, em conjunto com o agregado familiar, deve ser possuidor de um património mobiliário avaliado em 100.612,8 euros (240 vezes o IAS) ou menos.
No caso dos alunos matriculados, estes devem estar inscritos em, pelo menos, 30 créditos (ETCS).
Ter uma situação tributária e contributiva regularizada.
https://observador.pt/2015/07/18/apoios-ao-estudante-do-ensino-superior-tudo-precisa-saber/