Olá, Visitante. Por favor entre ou registe-se se ainda não for membro.

Entrar com nome de utilizador, password e duração da sessão
 

Autor Tópico: Portugal falido  (Lida 3509364 vezes)

Automek

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30976
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18040 em: 2019-03-24 23:11:55 »
No contexto em que estamos a discutir, o meu objectivo é saber mesmo isso. O que é que vocês apoiavam como cultura. Portanto essa definição cabe-te a ti. Se achas uma exposição de lego cultura, diz: "gastava os meus 35€ a comprar uma caixa de lego e a fazer uma escultura de lego em casa e abria a casa a visitantes, aos quais cobrava um bilhete porque sou capitalista e nada é de borla. Era esta a minha contribuição para a cultura.". Por exemplo. Gostava mesmo de saber.
Mas eu não tenho tenho de abrir exposição nenhuma. Eu sou consumidor. Não sou produtor.

Automek

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30976
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18041 em: 2019-03-24 23:15:34 »
Pronto, então para ti não existem orgulhos nacionais nenhuns, pois não encontrarás NADA em que os 10 milhões concordem que seja orgulho nacional. Tudo é abstracto. Tudo é subjectivo. Boa.
Tudo é subjectivo, sim, lamento ter trazido mais essa má notícia.
Não conheces ninguém que se tenha estado a cagar para a vitória da selecção no europeu ? Eu conheço.
Lá porque eu dei a importância a isso (e dei), não tenho a arrogância de achar que todos devem partilhar desse meu entusiasmo.

Reg

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 14205
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18042 em: 2019-03-24 23:28:22 »
mete subjetivo nisso

o mais garra e coração tinha camisola das quinas era Brasileiro   Pepe :D
« Última modificação: 2019-03-24 23:29:17 por Reg »
Democracia Socialista Democrata. igualdade de quem berra mais O que é meu é meu o que é teu é nosso

O problema dos comunistas, de tão supostamente empenhados que estão em ajudar as pessoas, é que deixam de acreditar que elas realmente existem.

Automek

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30976
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18043 em: 2019-03-24 23:28:53 »
Depois, as pessoas contribuem uma parte para um bolo global que é distribuído por toda uma panóplia de cultura. Para além disso, têm total opção de escolha e pagam o que quiserem consumir. Se vais ao teatro, pagas bilhete. Se vais ver o Mapplethorpe, pagas bilhete. Se vais á cinemateca, pagas bilhete. Se fores ao ballet, pagas bilhete. Se fores ao museu, a não ser aos domingos e tal, pagas bilhete. És livre de escolher o que quiseres, porque a primeira contribuição geral que todos fizemos permite que haja essa oferta diversificada, permite que tenhas a verdadeira liberdade de escolha, que não aconteceria se apenas te fosse possível pagar bilhete para ver o homem-aranha no cinema ou ir ao rock-in-rio, pegando em exemplos anteriores. Assim, tens mais escolha, todos temos mais escolha, mais liberdade.
O teu raciocínio erra em duas coisas:
- Estás a partir do princípio que se não tivéssemos a contribuição inicial compulsiva, esse dinheiro não iria ser gasto em cultura, o que é errado. As pessoas continuariam a gastar em cultura. A oferta seria é diferente, mas igualmente variada. Só que seria de acordo com o que as pessoas querem e não com o que um grupo restrito quer.
- Se houvesse uma redução da oferta, por menos consumo, significa que era uma oferta que as pessoas não valorizam. Porque se valorizam então continuaria a existir.

Desde que haja interesse por parte das pessoas a oferta cultural nunca vai faltar. Aquilo que iria desaparecer é o que não tem procura.

Automek

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30976
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18044 em: 2019-03-24 23:43:22 »
Objectivo da cultura: É difícil descrever por poucas palavras, mas diria que é algo que faça pensar, que leve à reflexão, sobre o que se passa no Mundo.
Grande azar com essa definição.

Os livros do José Rodrigues dos Santos contêm eventos históricos reais, misturados com mistério e suspense, assim como a visão do autor sobre coisas como Deus, o fascismo, o comunismo, a crise financeira, etc.
Não só se pode aprender alguma coisa histórica, como ainda se fica a pensar na forma diferente como o autor apresenta determinados fenómenos ou eventos, que geralmente nos são apresentados de outra forma.

Ou seja, sem dúvida que se qualificam na definição de "é algo que faça pensar, que leve à reflexão, sobre o que se passa no Mundo".

Agora vamos lá ver o que o Robaz tem a dizer sobre o José Rodrigues dos Santos:

Eu dei esse exemplo porque até me parece ser dos mais fáceis para perceber como por vezes o mercado não funciona assim tão livremente. Nesse caso específico, as pessoas não experimentaram ler um livro de cada autor e depois disso livremente optaram por um deles. O que acontece é que um deles é uma figura pública, apresentador de telejornal, e os livros dele estão espalhados pelas montras das livrarias aos magotes. O outro, apesar dos prémios todos que já conseguiu, não tendo a visibilidade mediática do JRS, muita gente nem o conhece, apesar de ser provavelmente o melhor escritor português da sua geração, ao contrário do JRS que é uma imitação fácil de um outro fraco escritor chamado Dan Brown.

Upsss....

JohnyRobaz

  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 1205
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18045 em: 2019-03-24 23:47:05 »
No contexto em que estamos a discutir, o meu objectivo é saber mesmo isso. O que é que vocês apoiavam como cultura. Portanto essa definição cabe-te a ti. Se achas uma exposição de lego cultura, diz: "gastava os meus 35€ a comprar uma caixa de lego e a fazer uma escultura de lego em casa e abria a casa a visitantes, aos quais cobrava um bilhete porque sou capitalista e nada é de borla. Era esta a minha contribuição para a cultura.". Por exemplo. Gostava mesmo de saber.
Mas eu não tenho tenho de abrir exposição nenhuma. Eu sou consumidor. Não sou produtor.

Ok, então vá, gastarias o teu dinheiro cultural em quê? Ás vezes é cansativo.

D. Antunes

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 5286
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18046 em: 2019-03-24 23:57:03 »
Robaz, o teu post é longo. Tem de ser por partes.

1. Que cultura apoio? Não sei responder porque, na verdade, não sei qual o teu conceito de cultura (que seguramente é diferente de outras pessoas devido à subjectividade). Tu ainda não respondeste, nem ao Antunes, nem a mim.
Exposição de lego é cultura ? espectaculo de magia é cultura ? A comic con é cultura ? o teatro é cultura ? E a revista ? E o  La feria ? Que tipo de filmes é que são cultura e quais é que não são ?
[/size]

Penso que conseguiríamos uma discussão mais focada eprodutiva se se começasse por responder às questões básicas que coloquei:

Uma questão relevante é: qual o objectivo da cultura? O que se pretende com ela?
Outra questão: qual a melhor maneira de atingir esse objectivo?

O meu comentário inicial:
Tenho grandes dúvidas que seja possível definir objectivos que maioritariamente não sejam controversos.
E penso que não existem estudos científicos que mostrem qual o melhor caminho cultural (a financiar) para atingir esses objectivos.

Objectivo da cultura: É difícil descrever por poucas palavras, mas diria que é algo que faça pensar, que leve à reflexão, sobre o que se passa no Mundo.

Melhor maneira de atingir isso: produzir cultura que, com as ferramentas próprias, desperte esse instituto de reflexão, nos faça pensar. Quem estuda a área, quem vive e trabalha em cultura, saberá melhor que eu e por isso é que confio neles para garantirem a oferta mais diversificada e rica possível. Já percebi que muitos acham-se entendidos em tudo e com o seu grau de individualismo máximo acham que sabem o que é melhor para si próprios a todos os níveis, nem sei como não foram professores deles próprios, como não são médicos deles próprios, como não projectam e constroem eles a própria casa e montam os seus próprios carros. Eu, no entanto, apesar de ser uma área pela qual me interesso, sei que há muito boa gente que sabe de cultura muito mais que eu e que devem ser eles a definir a melhor oferta possível que me podem proporcionar. Mais uma vez dou como exemplo o João Ribas.

Penso que não respondeste ao que perguntei. Parece-me que deste uma definição (e bem heterodoxa) do que é cultura. Se calhar, conseguirias o que escreveste com divulgação científica, folosofia e boas reportagens jornalísticas.
O que perguntei é: o que pretendemos quando gastamos dinheiro em cultura? Qual o objectivo último que pretendemos atingir com esse gasto? 
Eu poderia tentar responder, mas gostaria de ler primeiro a tua opinião visto considerares importante que se gaste dinheiro nela.
Mas dou-te um exemplo: quando gastamos dinheiro em saúde pretendemos que as pessoas durem mais anos (quantidade de vida) ou que vivam bem durante mais tempo (qualidade de vida).  E podemos calcular a razão custo/efetividade de cada medida (por exemplo, em anos de vida ajustados pela qualidade). E com a cultura, o que pretendemos?

Vamos tentar responder primeiro à primeira questão (objectivo dos gastos em cultura), antes de passarmos à segunda (como atingir os objectivos).
« Última modificação: 2019-03-25 00:09:10 por D. Antunes »
“Price is what you pay. Value is what you get.”
“In the short run the market is a voting machine. In the long run, it’s a weighting machine."
Warren Buffett

“O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm."
René Descartes

JohnyRobaz

  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 1205
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18047 em: 2019-03-24 23:57:20 »
Depois, as pessoas contribuem uma parte para um bolo global que é distribuído por toda uma panóplia de cultura. Para além disso, têm total opção de escolha e pagam o que quiserem consumir. Se vais ao teatro, pagas bilhete. Se vais ver o Mapplethorpe, pagas bilhete. Se vais á cinemateca, pagas bilhete. Se fores ao ballet, pagas bilhete. Se fores ao museu, a não ser aos domingos e tal, pagas bilhete. És livre de escolher o que quiseres, porque a primeira contribuição geral que todos fizemos permite que haja essa oferta diversificada, permite que tenhas a verdadeira liberdade de escolha, que não aconteceria se apenas te fosse possível pagar bilhete para ver o homem-aranha no cinema ou ir ao rock-in-rio, pegando em exemplos anteriores. Assim, tens mais escolha, todos temos mais escolha, mais liberdade.
O teu raciocínio erra em duas coisas:
- Estás a partir do princípio que se não tivéssemos a contribuição inicial compulsiva, esse dinheiro não iria ser gasto em cultura, o que é errado. As pessoas continuariam a gastar em cultura. A oferta seria é diferente, mas igualmente variada. Só que seria de acordo com o que as pessoas querem e não com o que um grupo restrito quer.
- Se houvesse uma redução da oferta, por menos consumo, significa que era uma oferta que as pessoas não valorizam. Porque se valorizam então continuaria a existir.

Desde que haja interesse por parte das pessoas a oferta cultural nunca vai faltar. Aquilo que iria desaparecer é o que não tem procura.

O teu raciocínio é que erra em assumir que a oferta que é disponibilizada iria ser exactamente aquilo que as pessoas querem, mas esqueces-te que primeiro surge a oferta diversificada e depois é que as pessoas escolhem. As pessoas escolhem consoante a oferta. Se eu sou um artista novo e cheio de talento, mas não tenho dinheiro para fazer a minha primeira exposição, como é que as pessoas conhecem a minha obra para depois pagarem para a ir ver a outras exposições? Igual num realizador de cinema (para alguém querer ver filmes dele, têm que conhecer primeiro os filmes dele) ou num encenador de teatro, ou seja, alguém tem que disponibilizar a oferta antes do consumidor escolher se gosta ou não. É neste apoio, neste primeiro balanço, que o apoio do Estado é importante. É na garantia da diversidade. Para um privado, e isso vê-se bem nas televisões, basta encontrar um tipo de programa que as pessoas gostem, ficam parados nesse tipo de programa sempre, não têm motivação para encontrar nada novo (sejam esses programas bons ou maus, não é agora isso que coloco em questão).
E outra coisa, por exemplo nesse caso da exposição do Mapplethorpe em Serralves, eu sinceramente não sei se a exposição não ficou paga apenas com a bilheteira e patrocínios, visto que teve bastantes visitantes e mediatismo. Não é aí que fica o apoio do Estado, mas não quer dizer que os mesmos museus que apoiam a nova cultura não façam também exposições de artistas já conceituados e que gerem receitas por eles próprios.

JohnyRobaz

  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 1205
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18048 em: 2019-03-25 00:01:01 »
Objectivo da cultura: É difícil descrever por poucas palavras, mas diria que é algo que faça pensar, que leve à reflexão, sobre o que se passa no Mundo.
Grande azar com essa definição.

Os livros do José Rodrigues dos Santos contêm eventos históricos reais, misturados com mistério e suspense, assim como a visão do autor sobre coisas como Deus, o fascismo, o comunismo, a crise financeira, etc.
Não só se pode aprender alguma coisa histórica, como ainda se fica a pensar na forma diferente como o autor apresenta determinados fenómenos ou eventos, que geralmente nos são apresentados de outra forma.

Ou seja, sem dúvida que se qualificam na definição de "é algo que faça pensar, que leve à reflexão, sobre o que se passa no Mundo".

Agora vamos lá ver o que o Robaz tem a dizer sobre o José Rodrigues dos Santos:

Eu dei esse exemplo porque até me parece ser dos mais fáceis para perceber como por vezes o mercado não funciona assim tão livremente. Nesse caso específico, as pessoas não experimentaram ler um livro de cada autor e depois disso livremente optaram por um deles. O que acontece é que um deles é uma figura pública, apresentador de telejornal, e os livros dele estão espalhados pelas montras das livrarias aos magotes. O outro, apesar dos prémios todos que já conseguiu, não tendo a visibilidade mediática do JRS, muita gente nem o conhece, apesar de ser provavelmente o melhor escritor português da sua geração, ao contrário do JRS que é uma imitação fácil de um outro fraco escritor chamado Dan Brown.

Upsss....


Ahahah essa agora fez-me mesmo rir. Para ti, gerar reflexão é apenas algo que misture todos os temas do quotidiano num texto e combine isso com um romance qualquer entre duas personagens e já está? Mas pronto, lá está, na música e na literatura, como disse atrás, nem considero que seja importante um apoio do Estado visto implicar pouco investimento pessoal a produção de arte nessas áreas.

Automek

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30976
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18049 em: 2019-03-25 00:01:52 »
Ok, então vá, gastarias o teu dinheiro cultural em quê? Ás vezes é cansativo.
Estava a pensar ir a um concerto na Gulbenkian mas se é "algo que faça pensar, que leve à reflexão, sobre o que se passa no Mundo." não sei se o Mozart se  qualifica. Se calhar é mais entretenimento e relaxação do que cultura.

Um espectáculo de standup comedy, se tiver piadas sobre atualidade política, definitivamente cumpre a condição.
Pronto, está feito. Standup comedy.

Se sobrar dinheiro estava também a pensar ir ver uma peça de teatro. Mas primeiro tenho de ver o tema. Se for uma coisa tipo Peter Pan é uma porcaria, que não leva a reflexão nenhuma. Se for o Música no Coração já há ali qualquer coisa da II Guerra Mundial para reflectir em como o mundo já foi perigoso antes de haver união europeia.

Que canseira. Realmente o melhor é não gastar nem na standup, nem no teatro, entregar o meu dinheiro, eles que escolham e, se enterrarem o meu dinheiro em mangalhos e gajos a cagar em jornais, eu não vou e fico sossegadinho em casa a ver o agricultor da SIC.

JohnyRobaz

  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 1205
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18050 em: 2019-03-25 00:04:54 »
Robaz, o teu post é longo. Tem de ser por partes.

1. Que cultura apoio? Não sei responder porque, na verdade, não sei qual o teu conceito de cultura (que seguramente é diferente de outras pessoas devido à subjectividade). Tu ainda não respondeste, nem ao Antunes, nem a mim.
Exposição de lego é cultura ? espectaculo de magia é cultura ? A comic con é cultura ? o teatro é cultura ? E a revista ? E o  La feria ? Que tipo de filmes é que são cultura e quais é que não são ?
[/size]

Penso que conseguiríamos uma discussão mais focada eprodutiva se se começasse por responder às questões básicas que coloquei:

Uma questão relevante é: qual o objectivo da cultura? O que se pretende com ela?
Outra questão: qual a melhor maneira de atingir esse objectivo?

O meu comentário inicial:
Tenho grandes dúvidas que seja possível definir objectivos que maioritariamente não sejam controversos.
E penso que não existem estudos científicos que mostrem qual o melhor caminho cultural (a financiar) para atingir esses objectivos.

Objectivo da cultura: É difícil descrever por poucas palavras, mas diria que é algo que faça pensar, que leve à reflexão, sobre o que se passa no Mundo.

Melhor maneira de atingir isso: produzir cultura que, com as ferramentas próprias, desperte esse instituto de reflexão, nos faça pensar. Quem estuda a área, quem vive e trabalha em cultura, saberá melhor que eu e por isso é que confio neles para garantirem a oferta mais diversificada e rica possível. Já percebi que muitos acham-se entendidos em tudo e com o seu grau de individualismo máximo acham que sabem o que é melhor para si próprios a todos os níveis, nem sei como não foram professores deles próprios, como não são médicos deles próprios, como não projectam e constroem eles a própria casa e montam os seus próprios carros. Eu, no entanto, apesar de ser uma área pela qual me interesso, sei que há muito boa gente que sabe de cultura muito mais que eu e que devem ser eles a definir a melhor oferta possível que me podem proporcionar. Mais uma vez dou como exemplo o João Ribas.

Penso que não respondeste ao que perguntei. Parece-me que deste uma definição (e bem heterodoxa) do que é cultura. O que perguntei é: o que pretendemos quando gastamos dinheiro em cultura? Qual o objectivo último que pretendemos atingir?  Eu poderia tentar responder, mas gostaria de ler primeiro a tua opinião visto considerares importante que se gaste dinheiro nela.
Mas dou-te um exemplo: quando gastamos dinheiro em saúde pretendemos que as pessoas durem mais anos (quantidade de vida) ou que vivam bem durante mais tempo (qualidade de vida).  E podemos calcular a razão custo/efetividade de cada medida (por exemplo, em anos de vida ajustados pela qualidade). E como a cultura, o que pretendemos?

Vamos tentar responder primeiro à primeira questão (objectivo dos gastos em cultura) antes de passarmos à segunda (como atingir os objectivos).

Eu respondi às questões, se não compreendeste as respostas já não é problema meu. A cultura não serve um objectivo final, mas sim a contínua busca por novos objectivos. Não existe um fim, mas sim a continuação do caminho, a abertura de novas portas. Como atingir: proporcionar oportunidades à criatividade e reflexão que conduza a novas ideias, novos pensamentos, colocar as nossas ideias estabelecidas em causa com outras novas, e tentar perceber se como vivemos é tudo certo ou se há coisas em que podemos melhorar e avançar como humanidade.

JohnyRobaz

  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 1205
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18051 em: 2019-03-25 00:06:03 »
Ok, então vá, gastarias o teu dinheiro cultural em quê? Ás vezes é cansativo.
Estava a pensar ir a um concerto na Gulbenkian mas se é "algo que faça pensar, que leve à reflexão, sobre o que se passa no Mundo." não sei se o Mozart se  qualifica. Se calhar é mais entretenimento e relaxação do que cultura.

Um espectáculo de standup comedy, se tiver piadas sobre atualidade política, definitivamente cumpre a condição.
Pronto, está feito. Standup comedy.

Se sobrar dinheiro estava também a pensar ir ver uma peça de teatro. Mas primeiro tenho de ver o tema. Se for uma coisa tipo Peter Pan é uma porcaria, que não leva a reflexão nenhuma. Se for o Música no Coração já há ali qualquer coisa da II Guerra Mundial para reflectir em como o mundo já foi perigoso antes de haver união europeia.

Que canseira. Realmente o melhor é não gastar nem na standup, nem no teatro, entregar o meu dinheiro, eles que escolham e, se enterrarem o meu dinheiro em mangalhos e gajos a cagar em jornais, eu não vou e fico sossegadinho em casa a ver o agricultor da SIC.

Pronto, percebi que chegaste ao fim da capacidade argumentativa.

Automek

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30976
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18052 em: 2019-03-25 00:08:48 »
O teu raciocínio é que erra em assumir que a oferta que é disponibilizada iria ser exactamente aquilo que as pessoas querem, mas esqueces-te que primeiro surge a oferta diversificada e depois é que as pessoas escolhem. As pessoas escolhem consoante a oferta. Se eu sou um artista novo e cheio de talento, mas não tenho dinheiro para fazer a minha primeira exposição, como é que as pessoas conhecem a minha obra para depois pagarem para a ir ver a outras exposições? Igual num realizador de cinema (para alguém querer ver filmes dele, têm que conhecer primeiro os filmes dele) ou num encenador de teatro, ou seja, alguém tem que disponibilizar a oferta antes do consumidor escolher se gosta ou não. É neste apoio, neste primeiro balanço, que o apoio do Estado é importante. É na garantia da diversidade. Para um privado, e isso vê-se bem nas televisões, basta encontrar um tipo de programa que as pessoas gostem, ficam parados nesse tipo de programa sempre, não têm motivação para encontrar nada novo (sejam esses programas bons ou maus, não é agora isso que coloco em questão).
E outra coisa, por exemplo nesse caso da exposição do Mapplethorpe em Serralves, eu sinceramente não sei se a exposição não ficou paga apenas com a bilheteira e patrocínios, visto que teve bastantes visitantes e mediatismo. Não é aí que fica o apoio do Estado, mas não quer dizer que os mesmos museus que apoiam a nova cultura não façam também exposições de artistas já conceituados e que gerem receitas por eles próprios.
A nova oferta apareceria, tal como aparecem novas empresas todos os dias que investem sem terem, ainda, qualquer cliente. Apenas com base na percepção de que existem consumidores para o seu produto.
Se há interesse por conhecer pintores novos então haverá galerias especializadas em pintores emergentes. Idem para teatro experimental. Idem para bandas novas. Etc.

Automek

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30976
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18053 em: 2019-03-25 00:14:50 »
Pronto, percebi que chegaste ao fim da capacidade argumentativa.
É verdade, sim.

Quando o próprio sábio da cultura tem uma definição de cultura que dificilmente consegue encaixar a música clássica, mas que permite encaixar um espetáculo de standup comedy e o José Rodrigues dos Santos (que ele critica), nada mais resta a argumentar.

D. Antunes

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 5286
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18054 em: 2019-03-25 00:25:04 »
Eu respondi às questões, se não compreendeste as respostas já não é problema meu. A cultura não serve um objectivo final, mas sim a contínua busca por novos objectivos. Não existe um fim, mas sim a continuação do caminho, a abertura de novas portas. Como atingir: proporcionar oportunidades à criatividade e reflexão que conduza a novas ideias, novos pensamentos, colocar as nossas ideias estabelecidas em causa com outras novas, e tentar perceber se como vivemos é tudo certo ou se há coisas em que podemos melhorar e avançar como humanidade.

Não sejas assim, a não compreensão é problema do emissor e do receptor.

Muito do que referes pode ser obtido financiando ciência e filosofia e não as artes.

Depois falas de humanidade, mas estamos a falar do orçamento português da cultura. Actualmente, Portugal pouco conta para o avançar da humanidade e provavelmente a sua importância vai diminuir (somos cada vez menos, mais velhos e a crescer economicamente muito menos do que a média mundial).

Mas vou perguntar-te ao contrário: imagina que se decidia reduzir para metade o orçamento das artes em Portugal. O que se ganharia e o que se perderia com isso? Viveríamos menos anos? Teríamos mais doenças? Teríamos menos filhos? Seríamos menos felizes?





Eu penso que aquilo em que gastamos dinheiro deve contribuir para:
-vivermos mais anos (sobrevivência); sermos mais saudáveis (qualidade de vida);
“Price is what you pay. Value is what you get.”
“In the short run the market is a voting machine. In the long run, it’s a weighting machine."
Warren Buffett

“O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm."
René Descartes

kitano

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 8677
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18055 em: 2019-03-25 05:11:35 »
Para quem fala de cultura...o que é bom é tudo o que não é mainstream. Se há muita malta a gostar, passa a ser entretenimento, coisa de parolos.

Cultura são coisas mais intragáveis, que um pequeno reduto finge gostar e entender, que precisa de subsídios senão não existia.

E geralmente, via subsídios, quem produz “cultura” consegue sacar mais do que quem produz entretenimento.
"Como seria viver a vida que realmente quero?"

vifer

  • Visitante
Re: Portugal falido
« Responder #18056 em: 2019-03-25 09:16:57 »
Boring!
A vossa conversa sobre "coltura". Muito stress acumulado...

Se nao gostam de gajas, experimentem algo parecido com isto

https://www.youtube.com/watch?v=Q7icz9zEhQc  :-\

vbm

  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 14017
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18057 em: 2019-03-25 09:23:38 »
Lol

Incognitus

  • Administrator
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30972
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18058 em: 2019-03-25 12:16:55 »
Para quem fala de cultura...o que é bom é tudo o que não é mainstream. Se há muita malta a gostar, passa a ser entretenimento, coisa de parolos.

Cultura são coisas mais intragáveis, que um pequeno reduto finge gostar e entender, que precisa de subsídios senão não existia.

E geralmente, via subsídios, quem produz “cultura” consegue sacar mais do que quem produz entretenimento.

Sim, existe uma componente de pertença a um grupo. Ora, tipicamente para se pertencer a um grupo, para se mostrar lealdade ao grupo, tem que se fazer algo mesmo que seja desagradável. Ou seja, neste caso algo ser intragável faz mesmo parte da natureza necessária para servir como "filtro" para o grupo. É um pouco como ter que se cometer um acto de violência gratuita para se ser aceite num gang.
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com

Incognitus

  • Administrator
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 30972
    • Ver Perfil
Re: Portugal falido
« Responder #18059 em: 2019-03-25 12:21:06 »
Depois, as pessoas contribuem uma parte para um bolo global que é distribuído por toda uma panóplia de cultura. Para além disso, têm total opção de escolha e pagam o que quiserem consumir. Se vais ao teatro, pagas bilhete. Se vais ver o Mapplethorpe, pagas bilhete. Se vais á cinemateca, pagas bilhete. Se fores ao ballet, pagas bilhete. Se fores ao museu, a não ser aos domingos e tal, pagas bilhete. És livre de escolher o que quiseres, porque a primeira contribuição geral que todos fizemos permite que haja essa oferta diversificada, permite que tenhas a verdadeira liberdade de escolha, que não aconteceria se apenas te fosse possível pagar bilhete para ver o homem-aranha no cinema ou ir ao rock-in-rio, pegando em exemplos anteriores. Assim, tens mais escolha, todos temos mais escolha, mais liberdade.
O teu raciocínio erra em duas coisas:
- Estás a partir do princípio que se não tivéssemos a contribuição inicial compulsiva, esse dinheiro não iria ser gasto em cultura, o que é errado. As pessoas continuariam a gastar em cultura. A oferta seria é diferente, mas igualmente variada. Só que seria de acordo com o que as pessoas querem e não com o que um grupo restrito quer.
- Se houvesse uma redução da oferta, por menos consumo, significa que era uma oferta que as pessoas não valorizam. Porque se valorizam então continuaria a existir.

Desde que haja interesse por parte das pessoas a oferta cultural nunca vai faltar. Aquilo que iria desaparecer é o que não tem procura.

O teu raciocínio é que erra em assumir que a oferta que é disponibilizada iria ser exactamente aquilo que as pessoas querem, mas esqueces-te que primeiro surge a oferta diversificada e depois é que as pessoas escolhem. As pessoas escolhem consoante a oferta. Se eu sou um artista novo e cheio de talento, mas não tenho dinheiro para fazer a minha primeira exposição, como é que as pessoas conhecem a minha obra para depois pagarem para a ir ver a outras exposições? Igual num realizador de cinema (para alguém querer ver filmes dele, têm que conhecer primeiro os filmes dele) ou num encenador de teatro, ou seja, alguém tem que disponibilizar a oferta antes do consumidor escolher se gosta ou não. É neste apoio, neste primeiro balanço, que o apoio do Estado é importante. É na garantia da diversidade. Para um privado, e isso vê-se bem nas televisões, basta encontrar um tipo de programa que as pessoas gostem, ficam parados nesse tipo de programa sempre, não têm motivação para encontrar nada novo (sejam esses programas bons ou maus, não é agora isso que coloco em questão).
E outra coisa, por exemplo nesse caso da exposição do Mapplethorpe em Serralves, eu sinceramente não sei se a exposição não ficou paga apenas com a bilheteira e patrocínios, visto que teve bastantes visitantes e mediatismo. Não é aí que fica o apoio do Estado, mas não quer dizer que os mesmos museus que apoiam a nova cultura não façam também exposições de artistas já conceituados e que gerem receitas por eles próprios.

Robaz, o que não faltam são ofertas inovadoras a serem lançadas no mercado porque os seus promotores pensam que para elas vai existir procura. E depois, claro, muitas dessas ofertas não encontram o sucesso porque a tal procura não surge.

A garantia de diversidade é essa dinâmica, e não qualquer coisa que seja subsidiada. Pelo contrário, essa dinâmica assegura o contínuo aparecimento de novas tentativas, ao passo que o subsídio permite a continuidade de tentativas falhadas (vide Manoel de Oliveira, subsidiado ano após ano apesar de claramente não existir público viável).
« Última modificação: 2019-03-25 12:21:27 por Incognitus »
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com