Estás a gozar, julgando ter descoberto um círculo, um looping lógico,
que arruína conclusões. Mas faltam-te premissas não explicitadas
que validam a utilidade epistemológica da arqueologia.
Designadamente esta, que qualquer informático cibernético
compreenderá: o homem é um animal que sobreviveu
no meio em que emergiu até aos nossos dias.
Tudo quanto conseguiu fazer deveu-o
à aptidão adaptativa ao habitat
em que progrediu.
Comer carne, e cozinhá-la
(os outros não dominam o fogo,
não cozinham os alimentos, não
maximizam o rendimento de proteína),
dobrou-lhe a capacidade neuronal do cérebro,
para lá da aptidão da mão preênsil de que é dotado
para experimentação de causalidade operacional
em si próprio originada…
Alcançar, com a competência da fala articulada,
a ligação de fonemas, palavras, a objectos do mundo,
permitiu-lhe não só aceder a esquemas abstractos de pré-
-acção, como a transmitir conhecimentos entre gerações.
A arqueologia documenta essa evolução cultural, não só
por via da palavra escrita como pelas ferramentas e obras
realizadas cujos vestígios chegam aos nossos dias.
E todo o desenvolvimento havido,
deveu-se a ter sido possível!
ou seja, o modo de acontecer foi binário,
sem nenhuma inteligência especial, pelo menos
de início: feito algo, sucede-lhe algo diferenciado.
Depois, na transmissão, já não é só pura repetição
mecânica, a aprendizagem (embora também o seja,
não há que desprezar o puro fazer): há a potência
de perceber o porquê, integrado numa totalidade compreensiva.