Depois do euro
Por Pedro Arroja
03-05-2013 (artigo publicado no Jornal "Vida Económica")
Finalmente, vai crescendo na opinião pública nacional e internacional o sentimento de que é impossível manter a Zona Euro, e até da conveniência dos países do sul da Europa, como Portugal, abandonarem o Euro. Neste artigo, pretendo dar resposta à questão de como será a estrutura da economia portuguesa fora do Euro. Em breve, a resposta é a de que Portugal voltará à sua estrutura económica tradicional, com um aumento substancial do peso da agricultura e da indústria no PIB, em detrimento dos serviços. A saída de Portugal da Zona Euro implicará que a moeda que vier a vigorar em Portugal se encontrará fortemente depreciada face ao Euro e às outras principais moedas internacionais, como o dólar e a libra. As importações serão, portanto, bastante caras, pelo que os produtos de primeira necessidade, como são os bens alimentares, voltarão a ser produzidos no país, e primariamente para o consumo interno. Agricultura, pescas e pecuária voltarão a ganhar importância económica no país e os excedentes serão exportados. Na indústria, será o regresso às indústrias tradicionais, como os têxteis, o mobiliário, o vestuário, o calçado, produzindo primariamente para abastecer o mercado interno e subsidiariamente para a exportação. As indústrias extractivas, que possuem tradição em Portugal, também terão novo alento. O sector sacrificado, aquele que sofrerá a maior contracção, será o sector dos serviços, e o dos serviços financeiros em primeiro lugar. O sector bancário, em particular, vai ter de ser reconstruído de novo, e adaptado à nossa tradição. Tal significa bancos pequenos, de proximidade, e orientados para a comunidade local. Bancos portugueses grandes e internacionalizados praticamente desaparecerão da cena. Na realidade, a internacionalização da banca portuguesa foi um dos maiores fiascos das últimas décadas. No domínio das relações externas, o turismo voltará a ganhar proeminência como a principal indústria exportadora, beneficiando de uma moeda mais fraca que torna o país um destino turístico mais barato. Portugal voltará a subir no ranking mundial dos países mais visitados por turistas, um ranking no qual tem vindo a cair por força do Euro que o torna actualmente um destino muito caro. A par do turismo, as indústrias tradicionais, incluindo a montagem de automóveis, serão as principais indústria exportadoras e a grande fonte das receitas externas que permitirá ao país alimentar a sua sede cultural de importações. As remessas dos emigrantes voltarão a ganhar proeminência como factor de equilíbrio das contas externas. O emprego voltará a crescer no país e os portugueses vão ser chamados de novo a fazer aquilo que sempre souberam fazer – pescas, agricultura, pecuária, indústria transformadora e extractiva, as diversas actividades ligadas ao turismo, como a hotelaria e a restauração, a juntar ao tradicional e pequeno comércio local. O Estado será mais pequeno e terá uma função orientadora na economia, e ao mesmo tempo reguladora. Terá com a economia e a sociedade uma relação mais distante ou retirada, e muito menos omnipresente do que aquela que tem actualmente. Desaparecerão milhares de pequenas regulamentações que actualmente entravam a iniciativa privada e os negócios. Portugal fora do Euro será, deste ponto de vista, uma economia muito mais liberal. As relações externas, quer no que respeita à balança de transacções correntes quer no que respeita à balança de capitais, serão vigiadas pelo Estado, dada a propensão da cultura portuguesa para incorrer défices comerciais que, não sendo controlados, invariavelmente arruínam o país. São de esperar restricções a certas importações, sobretudo através de direitos aduaneiros, e alguns controles sobre os movimentos de capitais. A saída do Euro implicará um certo fechamento ou proteccionismo da economia portuguesa, mas isso será geral para todos os países. A globalização tem os dias contados.