Não percebi bem. Se é racional como é que pode ser subjectivo?
Racional não é uma maneira consistente de chegar a conclusões baseado na informação de que se dispõe?
Em problemas com dados difíceis de modelar é possível desenvolver um raciocino lógico baseado em premissas verdadeiras e chegar a conclusões diferentes. Definir, digamos, a estratégia duma empresa não é mesma coisa que achar o máximo do lucro numa função matemática onde há uma solução óptima. Para ti pode ser fazer sentido pagar 1M€ a um determinado gestor, para mim pode não fazer, e ambos podemos fazer um bom caso da nossa posição assente num raciocino consistente i.e., que obedeça às leis da razão.
Mas é modelo que é eficiente ou é o mercado que é eficiente?
Mas pelo menos em termos relativos temos alguma concordância. Acima de uma dimensão que acredito ser relativamente reduzida, o sistema de mercado é mais eficiente de que uma gestão centralizada que administrativamente procure conciliar a oferta e procura. A complexidade de uma gestão centralizada cresce de maneira muito rapida com o número de agentes envolvidos e acima de um nº relativamente reduzido não só o processamento seria impossível como pequenas perturbações poderiam ser amplificadas e causar caos.
Se estamos a falar num modelo de mercado, falar num modelo eficiente ou no mercado eficiente é redundante.
Penso que deves estar a falar do sistema em si e não do modelo.
Eu não acho que o sistema capitalista seja intrinsecamente mau mas que contém imperfeições que devem ser corrigidas.
Tal como no sec XIX, se as descrições do Dickens forem fiéis era fácil antever que ou o sistema se regenerava ou era destruído. E em verdade o capitalismo conseguiu regenerar-se e em vez de se assistir ao empobrecimento até aos limites da sobrevivência dos trabalhadores explorados pelos capitalistas, assistiu-se à criação daquilo que se chama classe média. Neste momento acredito que estamos numa fase com algumas semelhanças. Ou o capitalismo se regenera de maneira a conseguir inverter o crescimento da desigualdade que se tem vindo a verificar nas ultimas décadas ou vão surgir ideologias alternativas radicais.
Que perguntas havia que não respondi?
Acho que estamos a ficar atados na semântica... Capitalismo tem muitas definições, o tal "modelo" capitalista que defendia corresponde apenas a um conjunto de princípios básicos desse modelo: o direito à propriedade privada, uma economia baseada na iniciativa privada e mais um conjunto de liberdades individuais, etc. Outros pormenores são outra discussão.
Estas, sobre a tal noção justiça de preço:
A dinâmica do corporate governance é igual ao que era há 30 anos atrás, o que é que mudou de significativo? E como já discutimos muitas vezes no fórum sobre a justiça do preço e de rendimento, não se pode conceber o contrário de retribuições "desproporcionada(s) dos benefícios do capitalismo" - não existe o contrário. Como posso eu medir o benefícios do trabalho dum sapateiro ou de pescador? Como é que sei quem mais contribui para lhes designar uma fatia justa dos "benefícios do capitalismo"?
O uso da capitalização bolsista é má matemática. Teria de ser corrigida pela inflação e se calhar ficava-se com um factor de 2. Eu usei um criterio independente do tempo que é um racio. Mas se se invocar que o nº de CEOs diminuiu, também há outros estudo que comparam como é feita a repartição entre o top 1% e o bottom 99% e agora não tenho aqui nada á mão para dar nºs concretes mas a % que vai para o bolso dos top 15 tem aumentado significativamente.
O argumento da quantidade de trabalho não está fundamentada e de certeza que não é um factor de 10. ALgumas leituras, que embora não se posam considerar estudos cientificos levam-me a suspeitar do contrario. Faz uns meses li um livro sobre a crise financeira (creio que era "The quants"), e as descrições que aí se fazia dos hábitos de trabalhos dos CEOs dos bancos não eram muito elogiosas. lembro-me que se dizia que o CEO da Lehman Brothers costumava sair á quinta á tarde para passar o resto da semana no golfe.
Certo, tens toda a razão nas observações que fazes. Mas eu não me propus a explicar a evolução do rácio, eu enumerei uma par de factores, não quer dizer que justifiquem tudo. (E os dados das horas de trabalho são verdadeiros, estive à procura dos estudo para te mostrar mas não o encontrei, mas até é possível que a compensação no rácio até já seja por horas de trabalho) Eu terminei dizendo:
Algo exerceu pressão sobre os rendimentos, porque a dinâmica de mercado é válida.
Se calhar até é uma moda e os accionistas acordaram ou vão acordar mais tarde para o problema, é irrelevante.
Esse rácio desde 2000 foi reduzido para metade. Cresceu quase exponencialmente na bolha das dot-com, como na altura crescia a valorização das empresas. É natural que hajam fenómenos desses.
Não confundas. Não disse que todas as decisões eram aleatórias. O que escrevi e que quando há falta de informação e a que se dispõe está afectadas por ruído algumas decisões mesmo que perfeitamente racionais em face da informação de que se dispõe, é como se fossem aleatórias. E disse isso apenas para vincar que mesmo na hipótese de os agentes de mercado serem racionais, a falta de informação completa e imprecisão naquela que se dispõe faz com que a eficiencia não esteja garantida (isto nem é teoria minha, acho que foi isso que valeu o Nobel para o Stiglitz). De qq forma os trabalhos do Kahneman parecem indicar que comportamentos biased ou intuitivos são mais frequentemente a regra que a excepção.
Ok. Sim há muitos estudos parecidos. Aliás estou habituado a ouvir a lista: mercados ineficientes, limitação da informação, acompanhada de algumas falácias anti-capitilistas e mais alguns exemplos clássicos da "irracionalidade" de alguns fenómenos económicos. Tudo, para mim, irrelevante. Seria relevante fosse um libertário e fosse apologista de que se tudo fosse desregulado e achasse que seria bom operar em mercado livre em todos os sectores, etc., nesse caso seria um argumento forte contra mim. Como eu sou mais pragmático e reconheço que o mercado nalgumas circunstâncias pode não funcionar não se aplica (por "não funcionar" quero dizer que gere problemas ambientais, sociais, económicos; que não se torne instável e se destrua, por aí).
O exemplo serve para mostrar que mesmo que não houvesse diferença nas capacidades, que toda a gente se comportava de maneira ética e que as diferenças de rendimento se devessem apenas ao acaso, e o acaso favorecesse ou prejudicasse de igual modo qq pessoa, o sistema iria tender para uma situação de desigualdade.
Numa sociedade capitalista real, em que há diferenças de mérito, em que há comportamentos menos éticos e em que existirão sempre os favores da sorte ou os infortunios do azar, a evolução natural se não houver politica de redistribuição é tender para a desigualdade que ao fim de algum tempo se vai tornar socialmente insustentavel.
Eu defendo que existam mecanismos de redistribuição, acho discuti isso algumas vezes com o migueleste que, diga-se, é uma pena que já não faça parte do fórum. Se distorcer o mercado resultar noutros proveitos, pode ser feito. No entanto é totalmente diferente defender um principio simples como: quem ganha mais, contribui com mais, a defender medidas arbitrárias e autocráticas que tentam de decidir sobre o mérito das pessoas, numa tentativa repor algum tipo de justiça na sociedade.
Para além de que esse tipo de regulação, ou imposição de tectos salariais, ou limitações de cargos, nunca funcionaria na prática já que seria facílimo de contornar.