A gestão dos hospitais EPE também é má porque funciona na mesma lógica da privada, à peça. Aqui há dias neste tópico falei do mau exemplo dos EUA, onde os pacientes são sujeitos a intervenções desnecessárias apenas com o objectivo de aumentar a facturação. Isto é muito grave.
As USF são muito aclamadas mas eu não tenho tantas certezas dos seus méritos. O tempo irá dar-me ou não razão. Funcionam na lógica dos hospitais EPE, e o que parece acontecer é que os pacientes são sujeitos a consultas desnecessárias. Optam por um sistema de consultas frequentes com curta duração, 10 minutos, levando a que o paciente marque mais consultas. Alegadamente há casos em que são os médicos que sugerem uma consulta trimestral de 10 minutos.
Se o paciente se queixar que o tempo da consulta é curto, o médico sugere que apresente apenas um caso em cada consulta. O trabalho à peça é assim, e julgo que não está estipulado, se estiver corrijam-me por favor, o tempo de consulta. O médico e a USF tanto recebe por uma consulta de 10, 20 ou 30 minutos. É necessário por ordem nisto.
Nos hospitais EPE a lógica é a mesma, há os campeões no número de cirurgias e de consultas. Isto à primeira vista pode parecer positivo, mas dessas intervenções quantas são desnecessárias? Acha-se lógico que o Estado pague o valor de uma consulta externa de especialidade num hospital EPE que tem a duração de 5 ou 10 minutos?
As EPE na saúde são um meio caminho para a privatização dos serviços, e não está a correr bem, demonstra-o o último relatório do Tribunal de Contas sobre o sector.
Neste aspecto dou razão ao BE quando diz que "a saúde não é um negócio". O sector da saúde privada em Portugal está a crescer a dois dígitos ao ano. O volume de negócios de alguns, como lhe chamam, cresce acima de 100% ao ano e deve-se segundo dizem à "melhoria em todas as linhas de produção", internamentos, cirurgias e consultas. Este palavreado não é adequado quando se fala da saúde das pessoas.
No meu entender os serviços de saúde são um bem da sociedade que deve ser mantido e custeado essencialmente por ela, incluindo a investigação de novos medicamentos. Os interesses de privados são opostos aos dos doentes e do Estado, e por isso não se lhes pode entregar o sector.
Nos medicamentos, a investigação e desenvolvimento de novas moléculas deverá ser essencialmente suportada pelo estado e pelas associações de doentes. Às farmacêuticas privadas deve caber-lhe apenas a função de produzir os medicamentos em ambiente competitivo.
Faça-se o exercício de pensar porque praticamente todas as doenças estão diagnosticadas e quase nenhuma tem cura, embora sejam tratáveis? Às farmacêuticas não interessa curar doenças e por isso o foco da sua investigação nunca estará aí.