Há três características mais marcantes no compromisso inter-geracional do nosso país, no âmbito do financiamento dos reformados, no das obras públicas e no das decisões políticas estratégicas. Assim de imediato, apercebo-me de três que desfavorecem de algum modo a geração vindoura:
i) Atribuiram-se reformas sem contrapartida de contribuições no tempo de vida activa a trabalhadores rurais, empregadas de limpeza, contínuos, bem como reformas douradas a políticos, administradores de bancos e gestores de empresas nacionalizadas e públicas;
ii) Construiram-se estradas, hospitais com excessivo financiamento externo à economia do país e insuficiente aforro interno da população e do estado;
iii) Terminaram-se as guerras coloniais, sem qualquer acordo de permanência dos colonos nos novos países independentes. O êxodo de centenas de milhares de retornados à pátria europeia, dificultou a continuação do crescimento económico que o país vinha conhecendo.
Isto são factos, que condicionam a próxima geração, mas por muita responsabilidade política que haja nas opções assumidas, não pode condenar-se liminarmente, sem compreensão, as medidas tomadas.
Observo as atenuantes seguintes:
i) A mão-de-obra menos qualificada que praticamente não sofreu descontos nenhuns, ficaria com “pensões-esmola” de reforma se não fossem bonificados; quanto aos políticos, houve o receio de acabarem os seus dias na miséria, como aconteceu aos liberais de 1820, com a vitória dos absolutistas e conservadores; o caso dos administradores de bancos e outros é puro efeito, censurável, timocrático;
ii) O euro, como moeda forte de juro baixo, enviesou a percepção dos inconvenientes de um endividamento excessivo. Por outro lado, imaginava-se que os estados mais fortes do sistema da moeda única europeia defenderiam, naturalmente, de forma eficaz quaisquer dúvidas especulativas contra o euro, através da emissão monetária e centralização da respectiva política;
iii) Não foi realmente possível fixar os colonos nos novos países de língua portuguesa; não podiam deixar de ser recebidos e integrados em Portugal; pode ser que no futuro outros portugueses possam emigrar para tais destinos e neles fixarem-se.
Dá-me vómito de desprezo o acirrar dos estultos laranjas contra os mais velhos. No entanto, reconheço que os jovens no activo estão altamente discriminados pela forma de emprego precário que inaceitavelmente a legislação do tarbalho consente, por cobardia política dos partidos do “arco de (des)governação” que nunca ousaram afoitamente autorizar a flexibilidade laboral, face às flutuações do mercado, pois não é justo ter de pagar um salário por trabalho que não há!