Existem muitas dimensões em que uma pessoa pode ser culta, e a língua específica de um país específico é das menores (porque existem dezenas de línguas diferentes, e quase todas são irrelevantes "per se"). O Cavaco, mesmo que seja um tronco cultural em coisas que julgas importantes, será significativamente mais culto noutras que TU não julgas importantes.
Portanto só será "inculto" na tua noção muito restrita de "cultura".
Por exemplo, uma coisa que eu noto frequentemente é que muitas pessoas que partilham essa noção restrita são depois incrivelmente incultas na sua capacidade de entender como o mundo funciona nas mais diversas áreas. Isto porque procuram em certa medida essa noção de cultura "fácil" que requer apenas gostar de coisas pouco apreciadas no geral, para evitarem terem que obter conhecimento em áreas muito mais trabalhosas. Não estou a dizer que é o teu caso, mas acontece muito no pessoal mais "humanista" que evita activamente matemáticas, ciências, conhecimentos técnicos, etc.
Claro que essas observações e reservas podem
evidenciar casos possíveis ou até frequentes.
Mas só têm valor de descrição avulsa.
É evidente que eu posso aceitar,
em lógica estrita que um desempenho
positivo de certas obrigações podem
alcançar-se tão bem sendo culto,
como não sendo, pelo que, do facto,
se infere a irrelevância de ser culto
para esse tal desempenho.
Está bem. E daí? Não é preferível ser culto de
per se?
Em parte, discordo da afirmação de a língua não ser relevante
por haver muitas! É certo que a lógica é mais universalizante,
mas a língua (materna, mesmo se bilingue) faz a ponte
entre o instinto e a razão e tem valor formativo
de cada pessoa. Diz-se, inclusive, que um
bom tradutor é aquele melhor conhece
a língua própria do aquela que traduz!
De modo que, acho que te divertes a fazer levitar
a relevância da cultura, na base da respectiva
eventual irrelevância ao bom desempenho
de funções específicas.
Mas um gajo com personalidade,
é um gajo que tem mais valor
do que a obra que deixa,
e que tem a liberdade
de fazer o que faz
e a de deixar
de o fazer.
Sem isso, nada tem interesse.
E, p.e., vale mais 'saber fazer contas'
do que 'fazer contas' - o que até
um algorítmico maquínico faz!