As pessoas querem estar na sua vida seguras e sem chatices. Se uma comunidade lhes retira a segurança e lhes cria chatices, as pessoas viram-se facilmente contra essa comunidade, mesmo que não tenham problemas com indivíduos da mesma. É uma heurística. Basta ver o que as pessoas pensam de "ciganos", não obstante qualquer pessoa poder conhecer um ou outro e confiar plenamente nele.
A melhor forma de eliminar esse tipo de discriminação é ter uma medida objectiva que não considere a etnia ou raça, mas que correlacione fortemente com aquilo que a pessoa quer evitar: insegurança/chatices.
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Eu já expliquei o fenómeno. Um treinador tem que escolher indivíduos para uma corrida de 100 metros, podendo escolher do grupo A ou do grupo B. Sem qualquer informção excepto a média de tempos de cada grupo, e sabendo que a média é 10 segundos no grupo A e 12 segundos no grupo B, o treinador irá escolher todos os atletas do grupo A. Tendo informação sobre os tempos de cada atleta, irá ignorar a sua pertença ao grupo A e B e escolherá pelos tempos.
As eurísticas humanas funcionam assim. A diferença entre grupos nem precisa de ser grande, basta existir. A forma de combater esse mecanismo é conhecer melhor os indivíduos, eventualmente usando uma qualquer medida objectiva. As pessoas já fazem tudo isto: têm as heurísticas para a decisão com informação limitada, mas quando obtêm maior informação sobre cada caso particular, deixam de usar a heurística para esse caso.
Daí que eu diga que se queremos evitar o que as pessoas querem evitar ao bloquear imigração, só temos que filtrar os imigrantes por um critério objectivo que lhes diminua o risco, e nem precisa de incluir raças, etnias ou religiões.
Antes do mais, com a tua última frase, já eu estou mais inclinado a concordar, com muitas reservas. Pelo menos é melhor que outras discriminações.
Agora sobre a tua parte mais acima. Não podemos aceitar uma discriminação baseada nessas heurísticas que descreves acima. Elas estão incrivelmente enviesadas, por vários biases diferentes. Um deles é as pessoas tenderem a memorizar melhor os casos extremos e depois a generalizarem para o grupos inteiro. Por ex, tem-se a ideia heurística de que os italianos e os judeus americanos falam a mexer muito as mãos. Mas a investigação disto mais séria mostra que só uma minoria o faz. Essa minoria, nestes grupos, é mesmo assim significativamente mais prevalecente que nos anglo-saxões ou germânicos. Mas é sempre uma minoria. E depois as pessoas dizem "O grupo X é Y (ou faz Z)". Isto depois fica um exagero enorme. É como dizer que os latinos em geral são mais sexualmente activos que os anglo-saxões. Se houver uma correlação com a realidade nisto, ela é baixa, ou mesmo baixíssima. Ela pode estar relacionada com a observação de minorias que se comportam de formas muito à vista de todos. Por ex, muitos estrangeiros que visitam os países latinos, só o fazem no Verão. Ficam até com uma ideia errada do clima, pensam que é sempre tórrido, pois só o conhecem no Verão. Vêm algumas pessoas abraçadas nas praias, associam à tradicional ideia de que calor promove sexo, e já temos uma data de ideias a fervilhar e a exagerar.
Isto produz enviesamentos brutais, não são coisas ligeiras. São comunidades inteiras de milhões de pessoas que ficam vistas de uma certa maneira, década após década, sem isso corresponder à realidade. E mesmo que essa ideia esterotípica se aplique a 5% deles, e a 1% dos outros, de qq modo 5% e 1% são sempre minorias.
Agora imagina o potencial catastrófico para a injustiça e julgamento sumário, quando os fenómenos que descrevi acima se aplicam a crime e terrorismo. Temos milhões de pessoas a serem vistos como potenciais terroristas, violadores, etc, quando as pessoas só tiveram contacto com isso pela TV, tal como os veraneantes só contactaram Portugal e Espanha nas praias e no Verão. Estás a entender aonde eu quero chegar.