Hoje os professores fizeram greve e compreendo que a façam. As greves dos professores, além de compreender os seus motivos, concordo com eles.
Desde o primeiro governo Sócrates que os professores têm sido usados com campo de batalha política. Primeiro para criar ódios contra uma classe profissional, numa estratégia maquiavélica de conduzir as tensões contra um grupo específico. Durante dois mandatos, em vez de se discutirem ajustes directos e outras negociatas, gastou-se o tempo nas causas fracturantes e nas lutas dos professores. Agora, a questão é mais material, há que arranjar dinheiro e há privados que precisam de negócio.
Quando Passos Coelho começou com aquela conversa do “emigrem”, do “piegas”, do “preguiçosos” e quantos mais insultos aos portugueses, pensava na altura que o tipo era parvo. Que nada tinha a ganhar com essa aparente estratégia de tiros nos pés.
Mas há uns tempos mudei de ideias.
Passos Coelho tem seguido uma estratégia de desmoralização das tropas inimigas: os portugueses que julgassem valer a pena contestarem a política governativa. Desde a primeira hora que diariamente nos tem sido cantada a canção do “não há alternativa” enquanto que, paralelamente, ia saindo o cânone de achincalhamento.
Se olharmos para onde tem ido o dinheiro vemos que o bota-a-baixo de Passos Coelho tem funcionado. Houve verdadeira contestação ao dinheiro enterrado no BPN, na Madeira, nos swaps, nas PPP e nos juros que se está a pagar à troika? Não.
E no entanto, estes buracos financeiros correspondem a mais dinheiro do que aquele que tem sido roubado aos contribuintes e aos funcionários públicos (estes em cumulo com o facto de serem também contribuintes).
A estratégia do governo tem funcionado. Os portugueses não têm acreditado na existência de alternativa e nem têm achado seriamente que vale a pena contestar. Tivemos aquela inaudita manifestação espontânea do 15 de Setembro, mais uma coisa ali e outra acolá, mas o facto é que as políticas do governo têm passado.
Até o desrespeito à lei está a passar.
Neste momento, em Portugal quase não há oposição ao governo. Sim, existem partidos da oposição que fazem o que podem mas as sondagens não indicam que tenham o apoio popular que o actual momento político justifica.
Os portugueses preferem fugir daqui a lutar pelo seu pedaço de terra. E é neste aspecto que se constata que não era parva, mas sim maquiavélica, essa política de insulto aos portugueses.
No entanto, há um grupo que ainda resiste ao invasor. Não consegue impedir o bulldozer governativo, como outras classes, mais eficazes no evitar que lhes roam os calcanhares, mas mexem-se.
Esse grupo são os professores e, para o governo, são um alvo a abater. Pacheco Pereira, militante do PSD, explica porquê no seu artigo (Público- 15/06/2013).
Apoio esta greve porque percebo que o governo tem por objectivo despedir para depois contratar em regime precário e porque não acredito que existam professores em excesso, particularmente quando a escolaridade está a ser progressivamente alargada ao 12º ano.
Os professores ao lutarem pelo seu emprego estão, também, a evitar que se crie uma escola (pública) para pobres e outra (privada) para ricos.
Eu não nasci rica (nem agora o sou!) e se não fosse a escola pública não teria chegado ao que agora sou. Por muito que custe àqueles que nasceram em berço de oiro e que se sentiriam mais felizes se todo o ensino fosse privado, a verdade é esta. A escola pública trouxe novos horizontes a pessoas como eu.
Por isso, por razões egoístas, apoio a greve dos que defendem o seu ganha-pão.