Vou deixar aqui um conjunto de argumentos que me levam a suspeitar de que vêm aí mais falências bancárias em Portugal. Podem falir mais bancos grandes, possivelmente mesmo todos.
Primeiro, o que se passou no BES deve ter correspondência com a economia em geral. O GES faliu, e o GES não podia ser assim tão mal gerido. Eles até tinham fama de ser bons gestores. Ora se os bons gestores rebentam com as suas empresas, o que acontecerá nos outros grupos económicos?
Os negócios do GES pioraram porque ficaram com activos muito desvalorizados com a crise de 2008 em diante. Ficaram empresas zombie e o BES um banco zombie. Só o não reconhecimento das perdas impediu uma falência mais cedo. Ora o mesmo se deve estar a passar em inúmeras outras empresas imobiliárias, e daí devem vir aí novas imparidades para os bancos.
Além disso estive a pesquisar sobre a crise do Japão, 1990-2014. Duas décadas perdidas. Tudo começou com o colapso dos activos imobiliários e acções em 1989. A partir daí houve falências bancárias em série. Ora, e isto é importante, elas duraram 15 anos ou mais. Houve algumas falências bancárias imediatamente a seguir a 1990, nos anos a seguir. Os bancos iam sendo nacionalizados um após outro.
Lá para 1998 disseram que finalmente iam resolver a crise bancária e forçaram mais falências e nacionalizações (creio que isto incluiu novas falências de bancos que já tinham falido antes e dos quais se dizia que já estavam re-estruturados).
Parecia tudo re-estruturado, mas qual quê. Lá para 2001 e até 2003, mais falências ainda. Sempre com nacionalização e, presumo, com a destruição do capital dos accionistas.
Portanto, pelo menos até 2003 isto aconteceu em série. Durou 14 anos (pelo menos). Ora esta crise do Japão teve características parecidas com o que está a acontecer à Europa do Sul. Foi uma crise de balance sheet, com as carteiras dos bancos a levarem grandes rombos. Teve muitos anos seguidos de deflacção moderada, com um ritmo de uns 1% / ano -- exactamente como está a acontecer aqui. As oportunidades de emprego para os jovens diminuiram, tal como cá. A população envelhecida, o sistema de pensões insustentável, tal como cá.
Além disso a crise japonesa está longe de estar resolvida mesmo agora, e já lá vão 25 anos. O sistema de pensões está insustentável. O endividamento enorme do Japão implica ou default ou inflacção forte no futuro, e a inflacção forte não aparece.
Mesmo que o BCE faça quantitative easing, e deve ir fazê-lo, isso não impedirá todo o processo, pois o BoJ também o fez durante as 2 décadas e não veio inflacção, tudo continuou em deflacção. Aqui na zona euro a pressão da Alemanha tende a forçar deflacção e pouco QE. Parece-me que se houver deflacção durante muitos anos as falências serão em catadupa.
Como estamos em 2014, só 6 anos após o primeiro choque da crise, eu coloco a hipótese de a crise bancária portuguesa ainda ir a meio, e assim virem aí mais falências / nacionalizações. Notar que é essa a opinião de Jardim Gonçalves, por ex.