Mas o possível facto do dinheiro ser gasto em algo aparentemente mais útil, não quer dizer que seja justo tirares de quem o ganhou para dar a outro.
Isto é bastante importante
O que é justo ou não pode ser separado entre o justeza do método de cobrança e justeza na utilização.
Para avaliar o primeiro ponto consideremos que estamos subjugados por outro país que à semelhança de vários impérios antigos deixa uma autonomia considerável e apenas exige um tributo anual. O país subjugador só exige um determinado valor por ano e somos nós a organizar a colecta. Claro não somos visto nem achados na aplicação que o país que nos subjuga faz do tributo que somos obrigados a enviar anualmente. O método de efectuar contribuição progressiva é justa ou não? (admite-se que todos os culpados pela derrota que nos fez perder independência já foram executados e bens confiscados de modo que já não há bodes expiatórias sobre quem podemos carregar mais).
A outra questão só se põe porque vivemos em democracia e podemos questionar para onde vai o dinheiro dos nossos impostos e há muitas situações que não coincidem com as nossas preferências. Aqui é que surge a minha discordância com os libertários do forum: eu acho que isso deve ser resolvido democraticamente, enquanto que alguns parecem achar que é um direito divino que deve ser instituído em dogma. Pessoas que pensam assim são potencialmente muito perigosas para a democracia (na minha opinião).
Gostei da tua resposta, mesmo não concordando. São respostas desse tipo que tornam a discussão interessante.
Parece-me bem separar cobrança de utilização dos impostos.
Relativamente à utilização, penso que deve obedecer a 2 princípios:
-deve ser justificada com o interesse da sociedade (e não apenas de quem recebe);
-deve ser controlada por quem paga (tal como numa família, quem ganha tem o poder de decidir como gastar o dinheiro). Quem paga estará mais motivado para impedir gastos supérfluos e tem também, com maior probabilidade, maior capacidade de compreender o funcionamento do estado.
Relativamente à cobrança, os impostos devem ser baixos (o cumprimento das duas alíneas anteriores poderá ajudar nisso).
Como já escrevi, quem não está acima do limiar de sobrevivência deverá estar isento. O que significa que deverá existir alguma progressividade. Não tenho nenhuma fórmula mágica (talvez o mais justo seja um imposto proporcional acima do limiar de sobrevivência, embora também existam argumentos para que alguns componentes sejam fixos).
Relativamente à democracia, penso que o poder da maioria se deve limitar a:
-regras de funcionamento da sociedade, como o código penal (por exemplo, se o aborto é legal ou ilegal e qual deve ser a pena por um homicídio);
-decidir o que é do interesse da sociedade (por exemplo, educação pública, exército, construir estradas e aeroportos).
A maioria não deveria poder decidir que temos todos que pagar para alguém, simplesmente porque essa pessoa precisa. Se alguém precisa, quem quiser e puder ajudar que ajude. Se ninguém quiser ajudar, com que justiça os obrigas? Os que nada produzem obrigam os que produzem a sustentá-los?
Se pensares bem, verás que tu é que achas que existem direitos divinos. Achas que ser ajudado quando se precisa é um direito divino que deve ser instituído em dogma e não um favor recebido que se deve agradecer e eventualmente retribuir.
Quanto ao pensamento libertário ser muito perigoso para a democracia, penso que:
1) O pensamento libertário é de facto "muito perigoso", para quem teme as suas consequências, por ser muito racional e coerente. É muito difícil de rebater o princípio de que todos nós temos o direito de levar a vida que queremos e de canalizarmos as nossas energias para os nossos objectivos, desde que não prejudiquemos terceiros. Porque é que alguém tem que pagar uma política social que não considere útil ou necessária, só porque tu a consideras?
2) Quanto ao seu efeito na democracia, fiquei com uma dúvida: achas perigoso porque impede o tipo de democracia que querias ou achas perigoso por temeres que uma sociedade libertária seria tão instável que rapidamente seria derrubada por uma ditadura?