Estamos no campo do "acredito" e ninguém consegue provar nada. Apenas se podem trocar opiniões.
Creio que é um ponto assente acerca do qual todos os participantes estão conscientes. Paralelamente, é extremamente difícil, senão mesmo impossível, estar a traçar onde começam e acabam os limites daquilo que é "moral" ou "imoral", embora todos, incluíndo eu, consideremos que a nossa visão se sobrepõe à dos outros nessa matéria. Vou tentar abster-me de produzir mais juízos de valor nesse sentido (mas não prometo nada...
).
Parece-me que o teu raciocínio presume que o dinheiro libertado, devido a impostos mais baixos, não é suficiente para gerar empregos para quem hoje beneficia desse estado social. Eu entendo o contrário por uma razão. Há muito apoio social e gastos do estado que não é necessário e/ou que é duplicado e/ou não tem efeito multiplicador na economia (ou o impacto é muito baixo - má alocação de recursos).
Mais ou menos. Não é só o não ser suficiente para gerar empregos para quem beneficia do estado social, é para retirar uma certa camada da população, que não sei quntificar, quer da pobreza, quer das proximidades dos limites da pobreza. Um cenário a que não se chega apenas criando mais postos de trabalho, embora isso possa sem dúvida a ajudar. Concordo contigo na parte em que dizes que há gastos que o estado tem que são mal aplicados, ou que não têm efeitos multiplicadores na economia, mas em contrapartida há sectores estatais que necessitam de muitos mais fundos e recursos (a meu ver), como a saúde, a educação e a justiça, que parecem estar a rebentar pelas costura. "Reduza-se a despesa! Quem não tem dinheiro não tem vícios." Pois sim, mas onde cortar? E com que visão ou cegueira devemos cortar?
Além disso um liberal parte dum principio fundamental. A pessoa deve merecer aquilo que ganha. E isso só se consegue com uma troca voluntária (mesmo na solidariedade !).
Eu não digo isto no sentido "epá, o gajo quer a humilhação do pobre e que este se ajoelhe e lhe diga obrigado". Não.
O que eu não quero é que o pobre ache que é um direito dele ir-me à carteira (e é isso que se passa com o sistema impostos - redistribuição). O pobre deve sentir-se agradecido por haver quem o ajude e não, como acontece com o estado social, de que aquilo é um direito mesmo que não mexa uma palha para tal, que não se esforce para sair da situação em que está, etc.
Eu também acho que uma pessoa deve merecer aquilo que ganha, e numa sociedade perfeita, seria isso mesmo que sucederia. Claro que essa sociedade perfeita é utópica, e todos sabemos que há imensos factores não controláveis numa sociedade capitalista que impedem que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades, ao mesmo tempo que as características individuais de cada um, e até a sorte, também o determinam. Há uma pirâmide de mérito e oportunidades no capitalismo que mantém, em permanência, uma grande fatia populacional nos estratos baixos da economia. Independentemente das especificidades do modelo económico adoptado (mais ou menos liberal), haverá sempre pobreza espontânea nesta pirâmide - uma pobreza que é produto da sociedade e a que a ajuda voluntária não vai chegar.
Há uma diferença entre o modo como tu olhas para a pobreza e o modo como eu a vejo. Eu vejo um pobre essencialmente como um vítima da sociedade, não como um oportunista e muito menos como alguém que acha que tem o direito de me ir à carteira. Haverá certamente uns quantos casos desses, mas são as situações que os colocam nesse estado de atitude que devem de ser combatidas, e não os apoios sociais à pobreza e às desigualdades em si.
Não me incomoda nada que parte dos impostos que me tiram da carteira seja para ajudar de alguma forma as pessoas que neste país têm acesso a menos recursos financeiros do que eu. Não só não me incomoda, como considero isso justo. Não é para alimentar oportunistas, é para ajudar quem realmente necessita, mas haverá sempre uma parcela que irá parar às mãos de quem não merece - é um dado adquirido e uma situação que é necessário combater.
Em certo sentido, eu que sou ateu, reconheço o mérito das paróquias (mais antigamente, menos hoje), em que os apoios não eram atribuidos por um conjunto de regras escritas (cegas) mas sim pela avaliação do padre que conhecia as necessidades dos seus paroquianos.
Esse tipo de arbítrio, mas muito melhor, pode muito bem surgir da comunidade, assim se liberte o dinheiro para tal. Os EUA têm muitos defeitos mas numa coisa são muito bons. O terem menos impostos cria nas pessoas um sentimento de 'obrigação moral' de contribuírem para a sua comunidade. E o resultado é que as instituições que beneficiam dessas ajudas voluntárias são aquelas que as pessoas entendem como úteis e não aquelas que um governante acha são são úteis.
Eu não tenho nada a tua crença no altruísmo imaculado das pessoas, fazendo com que contribuam quando estão numa situação favorávcel. Muito pelo contrário aquilo que a vida me ensinou é que o ser humano é altamente egoísta, e se por algum motivo tem acesso a mais recursos, será em si próprio que vai gastar esses recursos. Tal como no caso dos oportunistas, há excepções a isto. Mas são excepções, não são a regra.
Gostaria de deixar alguns artigos para tua reflexão, sabendo de antemão que, tal como ao Tridion e aos outros, não te vou fazer mudar de opinião em absolutamente nada, mas servem para te fazer ver que a tua visão liberalista não será a única abordagem válida ao problema das desigualdades sociais:
Poderá alguém criticar moralmente a obra em vida deste homem?
https://www.publico.pt/sociedade/noticia/morreu-o-antigo-ministro-e-conselheiro-de-estado-alfredo-bruto-da-costa-1750840http://www.esquerda.net/artigo/alfredo-bruto-da-costa-1938-2016/45426 (ui... um link para uma página do Bloco... agora é que vem tudo abaixo...
a entrevista no video vale a pena ver.)
Na sociedade americana, onde tantas pessoas vês a quem a obrigação moral impeliu a contribuir para acabar com as desigualdades...
https://www.publico.pt/mundo/noticia/white-trash-ou-a-pobreza-enquanto-tradicao-americana-1750642