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Autor Tópico: Parlamento sem maioria absoluta  (Lida 392514 vezes)

tommy

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #180 em: 2015-10-09 13:04:06 »
Eu acho que o melhor para o país era CDS+PS+PSD comportarem-se como homenzinhos, deixarem de medir pilinhas e governarem juntos, aproveitando para proceder a reformas estruturais.
E em caso de discórdia, em assuntos com peso, chamem-nos a referendar a questão.

Não creio que seja possível um governo desse tipo com o PS de Costas, galambas, moreiras e pedros nunos. Há muito mais que separa este PS do PSD/CDS, do que este PS do BE e do PCP.

Não é necessariamente mau, que este PS/BE/PCP formem governo. Seria até de uma justiça poética que a mentalidade socialista-comunista que tomou conta do país em 1975, pagasse um pouco pelo país ineficiente que criou. Se não acabasse numa ditadura, até podia abrir caminho para 10 anos de governação de centro-direita com maiorias absolutas.

Automek

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #181 em: 2015-10-09 17:27:58 »
Bom artigo de opinião do Paulo Ferreira

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A lógica da batata
Paulo Ferreira
9/10/2015, 13:2148705 PARTILHAS

Querem vender-nos esta lógica: não pode haver um governo que 61,5% do eleitorado não escolheu. E que é melhor um liderado por um partido em que 67,6% dos eleitores não votaram. Chamam-lhe democracia.

Enquanto António Costa se transforma no protagonista pós-eleitoral e prossegue a sua coreografia, como se estivesse a formar governo, alinham-se as propostas sobre a composição partidária que deve suportar o próximo executivo. O absurdo é tanto que às vezes é preciso regressar ao mais básico. É o que tento fazer hoje.

1 – Quando um partido ou coligação não recolhe a maioria dos votos expressos então uma maioria de eleitores preferia uma de outras candidaturas. Isto não tem nada a ver com ciência política, com leituras da Constituição ou com alinhamentos ideológicos ou partidários. Isto é a mais básica aritmética, entendível até por uma criança do primeiro ciclo. Não tem nada de novo e acontece sempre, mas sempre, que um partido ganha sem maioria absoluta. A aritmética nunca nos falha.

2 – Para não ir mais longe até aos primórdios da democracia, isto aconteceu com Cavaco Silva em 1985, com António Guterres em 1995 e 1999, com Durão Barroso em 2002, com José Sócrates em 2009 e com Pedro Passos Coelho em 2011 e 2015. Todos estes políticos têm uma coisa em comum: foram primeiro-ministro após eleições que venceram mas em que uma maioria de eleitores teria preferido outros candidatos a chefe de governo. Governaram quando uma maioria de eleitores queria aquilo que se pode chamar uma “mudança de política”. E não me lembro de alguma vez, nos seis casos passados, ter sido sequer colocada a hipótese se não ser qualquer deles a formar governo.

3 – Sem maioria absoluta, estes líderes partidários lidaram com essa circunstância de forma diversa. Cavaco e Sócrates governaram sem maioria no Parlamento e acabaram por cair, um derrubado por uma moção de censura aprovada pela maioria das oposições, outro demitindo-se na sequência de um chumbo do PEC pelas oposições na AR. António Guterres terminou a primeira legislatura e demitiu-se a meio da segunda. Durão Barroso e Passos Coelho fizeram coligações pós-eleitorais com o CDS. Barroso saiu depois para Bruxelas e o seu sucessor, Pedro Santana Lopes, acabou por ser demitido pelo presidente Jorge Sampaio. E Passos Coelho terminou a legislatura passada.

4 – Já tivemos, portanto, de tudo um pouco: coligações pré e pós-eleitorais, governos minoritários que sobrevivem e outros que caem. Até tivemos um primeiro-ministro que não foi a votos mas que foi empossado pelo Presidente da República: Santana Lopes. Mas sempre houve uma regra: quem forma governo é o líder do partido mais votado, que se apresenta nas eleições como candidato a primeiro-ministro. O apoio parlamentar que os vitoriosos minoritários depois conseguem agregar é uma questão pós-eleitoral de negociações partidárias e parlamentares.

5 – O que nunca tivemos na sequência de um acto eleitoral foi a formação de um governo liderado por um partido que não tenha sido o mais votado. Colocar esse cenário configura uma deturpação de toda a prática política passada que nunca foi questionada em sete das dez eleições legislativas que tivemos nos últimos 30 anos.

6 – O argumento chega a ser infantil: uma maioria de eleitores querem uma política diferente da defendida pela coligação PSD/CDS. Claro. Como também em 1985, 1995, 1999, 2002, 2009 e 2011 queriam uma política diferente da que o vencedor propunha. É lógico: quando mais de 50% dos eleitores vota numa candidatura que não foi a mais votada é porque não a quer no governo, senão tinha votado nela.

7 – Regressemos então à aritmética para este caso concreto. O argumento é: deve ser formado um governo liderado pelo PS porque houve uma maioria de eleitores, no caso de 61,5%, que rejeitaram o PSD/CDS. Mas se essa é a lógica temos então 67,6% de eleitores que disseram que não queriam um governo liderado pelo PS. E 89,8% dos eleitores rejeitaram a política defendida pelo Bloco de Esquerda e 91,7% votaram em opções diferentes das da CDU. Quando se opta pela lógica da batata e se prefere olhar para os votos “contra” em vez dos votos “a favor” é aqui que chegamos: não podemos ter um governo que 61,5% não escolheram. Mas devemos ter um governo liderado por um partido que 67,6% não escolheram aliado a partidos que foram rejeitados por cerca de 90% dos votos expressos. E achamos isto legitimo. Mais: há até quem ache isto democrático.

8 – Fala-se de um “governo de esquerda”. Como se a esquerda – e o mesmo se pode dizer da direita – fosse una e indivisível, como se a esquerda fosse toda idêntica e programaticamente próxima. Como se o eleitorado socialista fosse política e sociologicamente semelhante ao eleitorado comunista e bloquista. O PS está muito mais próximo do PSD do que dos partidos à sua esquerda, como é evidente. Não é por acaso que se fala do “centrão” e do “bloco central”, que as maiores transferências de voto entre eleições são geralmente entre estes dois partidos e é aí que se ganham e perdem eleições. Os acordos institucionais estruturais que temos unem PSD e PS mas não o BE e o PCP: Europa, moeda única, NATO, economia de mercado, tecido empresarial essencialmente privado, democracia plural, objectivo de equilíbrio orçamental e respeito pela propriedade privada. Não é por acaso que comunistas e bloquistas dizem frequentemente que “eles são todos iguais” e “são farinha do mesmo saco”. Eles são o PS e o PSD.

9 – Se a “esquerda” quer governar e até se pode entender para formar um governo porque é que PS, PCP e BE não fizeram uma coligação pré-eleitoral e se apresentaram assim ao eleitorado? Uma pista: porque o que os separa é muito mais do que os une e nunca conseguiriam entender-se em torno de um programa eleitoral comum que pudesse merecer a preferência de uma maioria de eleitores.

10 – Formar, na saída destas eleições, um governo que não seja liderado pelo PSD/CDS é uma perversão dos resultados eleitorais em toda a linha. Primeiro porque é deixar o partido mais votado – ou o menos rejeitado, nesta lógica – fora da solução de governação. Depois, e mais importante, é um “golpe de Estado” em relação à matriz essencial que resulta do voto de domingo: continuação da consolidação orçamental, manutenção no euro, respeito pelas regras europeias e rejeição de soluções de ruptura como as que defendem o BE e a CDU. Se o PS não percebe isto estará a trair uma parte decisiva do seu eleitorado.

11 – Mas não pode haver diferentes arranjos de governo que saiam do mesmo Parlamento? Pode. Mas nunca sem antes permitir que o partido mais votado faça o seu governo com os apoios que vier a conseguir unir da forma que entender. É impensável que seja de outra maneira. A coligação PSD/CDS deve ser chamada a governar. E se o governo cair daqui a um ou dois anos? Aí, cada um deve assumir as suas responsabilidades sobre a queda do governo. Depois, em função da leitura que o Presidente da República e a generalidade dos partidos fizerem, o país vai de novo para eleições ou pode tentar-se uma nova solução de governo no mesmo Parlamento.

12 – Pode essa solução futura passar por um acordo parlamentar entre PS, BE e CDU que sejam o suporte de um governo? Pode. E aí boa sorte para a governação e para o julgamento que os eleitores farão disso nas eleições seguintes.
http://observador.pt/opiniao/a-logica-da-batata/

Lark

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #182 em: 2015-10-09 18:19:48 »
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10 – Formar, na saída destas eleições, um governo que não seja liderado pelo PSD/CDS é uma perversão dos resultados eleitorais em toda a linha. Primeiro porque é deixar o partido mais votado – ou o menos rejeitado, nesta lógica – fora da solução de governação. Depois, e mais importante, é um “golpe de Estado” em relação à matriz essencial que resulta do voto de domingo: continuação da consolidação orçamental, manutenção no euro, respeito pelas regras europeias e rejeição de soluções de ruptura como as que defendem o BE e a CDU. Se o PS não percebe isto estará a trair uma parte decisiva do seu eleitorado.

11 – Mas não pode haver diferentes arranjos de governo que saiam do mesmo Parlamento? Pode. Mas nunca sem antes permitir que o partido mais votado faça o seu governo com os apoios que vier a conseguir unir da forma que entender. É impensável que seja de outra maneira. A coligação PSD/CDS deve ser chamada a governar. E se o governo cair daqui a um ou dois anos? Aí, cada um deve assumir as suas responsabilidades sobre a queda do governo. Depois, em função da leitura que o Presidente da República e a generalidade dos partidos fizerem, o país vai de novo para eleições ou pode tentar-se uma nova solução de governo no mesmo Parlamento.

12 – Pode essa solução futura passar por um acordo parlamentar entre PS, BE e CDU que sejam o suporte de um governo? Pode. E aí boa sorte para a governação e para o julgamento que os eleitores farão disso nas eleições seguintes.

BS!
A coligação PSD CDS pode ser concerteza chamada a formar governo.
Mas se a coligação PS/PCP/BE anunciar que votará contra o programa de governo da PaF ou que apresentará imediatamente uma moção de censura, o governo cai na hora.
Logo é perder tempo convidar a PSD/CDS a formar governo se e só se existir já um acordo parlamentar PS/PCP/BE e que estes tenham anunciado a sua intenção de formar governo e por consequência a não aceitação parlamentar de um eventual governo PSD/CDS.

Isto é democracia parlamentar 101. Não acredito que a iliteracia sobre o processo democrático chegue a estes extremos.
Isto não é mais que terrorismo verbal e demagogia. A pessoa que escreve isto sabe perfeitamente como as coisas funcionam numa democracia parlamentar.
Isto é uma tentativa de atirar areia para os olhos das pessoas.

L
Be Kind; Everyone You Meet is Fighting a Battle.
Ian Mclaren
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If you have more than you need, build a longer table rather than a taller fence.
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So, first of all, let me assert my firm belief that the only thing we have to fear is...fear itself — nameless, unreasoning, unjustified terror which paralyzes needed efforts to convert retreat into advance.
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Automek

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #183 em: 2015-10-10 18:29:41 »
Boa explicação de procedimentos e prazos.
Quando é que vamos ter Governo?

Tridion

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #184 em: 2015-10-10 22:01:57 »
Citação de: in Observador

Não quero participar a segunda vez no mesmo filme

José Milhazes 

Fui militante comunista e vivi durante 14 anos na URSS. Por isso sei que, não fosse o 25 de Novembro de 1975, e muitos dos que defendem a aliança com o PCP estariam a picar pedra numa região remota.


Só a ideia de que é possível ver a extrema-esquerda no governo do meu país, deixa-me envergonhado e indignado. Como será possível o Partido Socialista, que se diz europeísta, que não põe em causa a presença de Portugal na União Europeia, no Euro e na NATO, faça uma coligação com partidos que defendem exactamente o contrário?

Um dos meus amigos socialistas que defende essa aliança escreveu no Facebook: “Aquilo que aqui quero deixar agora, como testemunho pessoal fundado na minha própria experiência de trabalho em comum, é que os comunistas com quem trabalhei e o PCP com quem estive coligado, enquanto socialista militante e dirigente do PS, são portugueses honrados, trabalhadores empenhados e dedicados, que respeitam a palavra dada e honram os compromissos que assumem. Não são, na minha modesta opinião fundada também na observação e vivência pessoal, hoje, nem serão no futuro, nenhuma ameaça ao nosso sistema democrático e às suas regras. Mais, são, também o tenho sublinhado muitas vezes, um dos mais importantes garantes de respeito pela preservação da ordem publica, mesmo no decurso dos mais acirrados protestos politicos ou sindicais”.

Este meu amigo parece ter-se esquecido da história e dos clássicos do marxismo-leninismo-estalinismo, que continuam a ser o catecismo da extrema-esquerda em Portugal. Já não se lembra das tácticas previstas nos manuais comunistas de que, para tomar o poder, faz-se até alianças com o diabo. Talvez não tenha lido a entrevista que a deputada da CDU Rita Rato, formada em Relações Internacionais na Universidade Nova, deu ao Correio da Manhã, onde afirma não saber o que é o “goulag” (rede de campos de “reeducação” soviéticos).

Como é do domínio público, fui militante comunista e tive a oportunidade de viver durante 14 anos numa sociedade por eles edificada na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O Partido Comunista Português, ao que eu saiba, nunca se demarcou dos hediondos crimes cometidos por Lenine e Estaline, continua a ver nestes dois carrascos “timoneiros do povo”, sempre foi fiel e servo do Partido Comunista da União Soviética até ao fim deste. E, para os que já se esqueceram, não fosse o 25 de Novembro de 1975 e a pressão exercida pelos dirigentes soviéticos sobre Álvaro Cunhal, e muitos dos socialistas que defendem hoje a aliança com os comunistas estariam pendurados em postes de iluminação ou a picar pedra algures nalguma pedreira numa região remota.

O Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda estão contra a integração de Portugal na União Europeia, contra o Euro, contra a NATO. E o que nos propõem como alternativa: atirarmo-nos todos ao mar ou aderir à União Económica Eurasiática e ao Tratado da Organização de Segurança Colectiva?

É verdade que a União Europeia está longe da perfeição e mergulhada numa profunda crise, que os portugueses, incluindo eu, foram e continuam a ser massacrados por medidas económicas horrorosas, viram o seu nível de vida descer bruscamente, mas é necessário procurar novas alternativas e não propôr a repetição de ideias utópicas. Os comunistas-bolcheviques russos prometeram, em 1917, paz, pão e terra, mas o povo recebeu uma guerra civil que ceifou milhões de vidas, fomes que mataram mais uns milhões e os camponeses ficaram sem a terra que tinham, tendo muito deles ganho apenas um quinhão nalgum cemitério ou nas imensidões da Sibéria.

Se querem fazer novas experiências sociais, não as façam em pessoas, façam-nas em cobaias, se o PAN autorizar.

Lanço aqui um apelo aos amigos socialistas para que olhem para o Norte da Europa e vejam que há países que encontraram a prosperidade fora do comunismo. Para isso, não é preciso repetir utopias, mas fazer de Portugal um país menos corrupto, onde a justiça funcione, onde todos paguem impostos, onde os mais desprotegidos não sejam esquecidos.

Por favor, não me obriguem a participar duas vezes no mesmo filme, pois este segundo não será ficção como o “Good bye Lenine”.
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zAPPa

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #185 em: 2015-10-11 10:02:31 »
Citação de: in Observador

Não quero participar a segunda vez no mesmo filme

José Milhazes 

Fui militante comunista e vivi durante 14 anos na URSS. Por isso sei que, não fosse o 25 de Novembro de 1975, e muitos dos que defendem a aliança com o PCP estariam a picar pedra numa região remota.


Só a ideia de que é possível ver a extrema-esquerda no governo do meu país, deixa-me envergonhado e indignado. Como será possível o Partido Socialista, que se diz europeísta, que não põe em causa a presença de Portugal na União Europeia, no Euro e na NATO, faça uma coligação com partidos que defendem exactamente o contrário?

Um dos meus amigos socialistas que defende essa aliança escreveu no Facebook: “Aquilo que aqui quero deixar agora, como testemunho pessoal fundado na minha própria experiência de trabalho em comum, é que os comunistas com quem trabalhei e o PCP com quem estive coligado, enquanto socialista militante e dirigente do PS, são portugueses honrados, trabalhadores empenhados e dedicados, que respeitam a palavra dada e honram os compromissos que assumem. Não são, na minha modesta opinião fundada também na observação e vivência pessoal, hoje, nem serão no futuro, nenhuma ameaça ao nosso sistema democrático e às suas regras. Mais, são, também o tenho sublinhado muitas vezes, um dos mais importantes garantes de respeito pela preservação da ordem publica, mesmo no decurso dos mais acirrados protestos politicos ou sindicais”.

Este meu amigo parece ter-se esquecido da história e dos clássicos do marxismo-leninismo-estalinismo, que continuam a ser o catecismo da extrema-esquerda em Portugal. Já não se lembra das tácticas previstas nos manuais comunistas de que, para tomar o poder, faz-se até alianças com o diabo. Talvez não tenha lido a entrevista que a deputada da CDU Rita Rato, formada em Relações Internacionais na Universidade Nova, deu ao Correio da Manhã, onde afirma não saber o que é o “goulag” (rede de campos de “reeducação” soviéticos).

Como é do domínio público, fui militante comunista e tive a oportunidade de viver durante 14 anos numa sociedade por eles edificada na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O Partido Comunista Português, ao que eu saiba, nunca se demarcou dos hediondos crimes cometidos por Lenine e Estaline, continua a ver nestes dois carrascos “timoneiros do povo”, sempre foi fiel e servo do Partido Comunista da União Soviética até ao fim deste. E, para os que já se esqueceram, não fosse o 25 de Novembro de 1975 e a pressão exercida pelos dirigentes soviéticos sobre Álvaro Cunhal, e muitos dos socialistas que defendem hoje a aliança com os comunistas estariam pendurados em postes de iluminação ou a picar pedra algures nalguma pedreira numa região remota.

O Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda estão contra a integração de Portugal na União Europeia, contra o Euro, contra a NATO. E o que nos propõem como alternativa: atirarmo-nos todos ao mar ou aderir à União Económica Eurasiática e ao Tratado da Organização de Segurança Colectiva?

É verdade que a União Europeia está longe da perfeição e mergulhada numa profunda crise, que os portugueses, incluindo eu, foram e continuam a ser massacrados por medidas económicas horrorosas, viram o seu nível de vida descer bruscamente, mas é necessário procurar novas alternativas e não propôr a repetição de ideias utópicas. Os comunistas-bolcheviques russos prometeram, em 1917, paz, pão e terra, mas o povo recebeu uma guerra civil que ceifou milhões de vidas, fomes que mataram mais uns milhões e os camponeses ficaram sem a terra que tinham, tendo muito deles ganho apenas um quinhão nalgum cemitério ou nas imensidões da Sibéria.

Se querem fazer novas experiências sociais, não as façam em pessoas, façam-nas em cobaias, se o PAN autorizar.

Lanço aqui um apelo aos amigos socialistas para que olhem para o Norte da Europa e vejam que há países que encontraram a prosperidade fora do comunismo. Para isso, não é preciso repetir utopias, mas fazer de Portugal um país menos corrupto, onde a justiça funcione, onde todos paguem impostos, onde os mais desprotegidos não sejam esquecidos.

Por favor, não me obriguem a participar duas vezes no mesmo filme, pois este segundo não será ficção como o “Good bye Lenine”.

O autor esquece a parte do comem criancinhas as pequeno-almoço, mas mesmo assim está fora da realidade.

falhando um governo PSD+CDS, com apoio do PS, a melhor coisa que pode acontecer é um governo de esquerda nas mais diversas formas (PS+ apoio parlamentar da extrema esquerda seria a minha aposta).

Porquê?

as fracturas internas seriam de tal ordem dentro do PS que, mesmo que não lhe falhasse o apoio parlamentar, assim que fosse possível eleições, 1-2 anos, o PSD (entretanto o CDS desaparece) ganha facilmente com maioria absoluta.
« Última modificação: 2015-10-11 14:42:06 por zAPPa »
Jim Chanos: "We Are In The Golden Age of Fraud".

Tridion

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #186 em: 2015-10-11 12:48:54 »
Citação de: in Observador

Não quero participar a segunda vez no mesmo filme

José Milhazes 

Fui militante comunista e vivi durante 14 anos na URSS. Por isso sei que, não fosse o 25 de Novembro de 1975, e muitos dos que defendem a aliança com o PCP estariam a picar pedra numa região remota.


Só a ideia de que é possível ver a extrema-esquerda no governo do meu país, deixa-me envergonhado e indignado. Como será possível o Partido Socialista, que se diz europeísta, que não põe em causa a presença de Portugal na União Europeia, no Euro e na NATO, faça uma coligação com partidos que defendem exactamente o contrário?

Um dos meus amigos socialistas que defende essa aliança escreveu no Facebook: “Aquilo que aqui quero deixar agora, como testemunho pessoal fundado na minha própria experiência de trabalho em comum, é que os comunistas com quem trabalhei e o PCP com quem estive coligado, enquanto socialista militante e dirigente do PS, são portugueses honrados, trabalhadores empenhados e dedicados, que respeitam a palavra dada e honram os compromissos que assumem. Não são, na minha modesta opinião fundada também na observação e vivência pessoal, hoje, nem serão no futuro, nenhuma ameaça ao nosso sistema democrático e às suas regras. Mais, são, também o tenho sublinhado muitas vezes, um dos mais importantes garantes de respeito pela preservação da ordem publica, mesmo no decurso dos mais acirrados protestos politicos ou sindicais”.

Este meu amigo parece ter-se esquecido da história e dos clássicos do marxismo-leninismo-estalinismo, que continuam a ser o catecismo da extrema-esquerda em Portugal. Já não se lembra das tácticas previstas nos manuais comunistas de que, para tomar o poder, faz-se até alianças com o diabo. Talvez não tenha lido a entrevista que a deputada da CDU Rita Rato, formada em Relações Internacionais na Universidade Nova, deu ao Correio da Manhã, onde afirma não saber o que é o “goulag” (rede de campos de “reeducação” soviéticos).

Como é do domínio público, fui militante comunista e tive a oportunidade de viver durante 14 anos numa sociedade por eles edificada na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O Partido Comunista Português, ao que eu saiba, nunca se demarcou dos hediondos crimes cometidos por Lenine e Estaline, continua a ver nestes dois carrascos “timoneiros do povo”, sempre foi fiel e servo do Partido Comunista da União Soviética até ao fim deste. E, para os que já se esqueceram, não fosse o 25 de Novembro de 1975 e a pressão exercida pelos dirigentes soviéticos sobre Álvaro Cunhal, e muitos dos socialistas que defendem hoje a aliança com os comunistas estariam pendurados em postes de iluminação ou a picar pedra algures nalguma pedreira numa região remota.

O Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda estão contra a integração de Portugal na União Europeia, contra o Euro, contra a NATO. E o que nos propõem como alternativa: atirarmo-nos todos ao mar ou aderir à União Económica Eurasiática e ao Tratado da Organização de Segurança Colectiva?

É verdade que a União Europeia está longe da perfeição e mergulhada numa profunda crise, que os portugueses, incluindo eu, foram e continuam a ser massacrados por medidas económicas horrorosas, viram o seu nível de vida descer bruscamente, mas é necessário procurar novas alternativas e não propôr a repetição de ideias utópicas. Os comunistas-bolcheviques russos prometeram, em 1917, paz, pão e terra, mas o povo recebeu uma guerra civil que ceifou milhões de vidas, fomes que mataram mais uns milhões e os camponeses ficaram sem a terra que tinham, tendo muito deles ganho apenas um quinhão nalgum cemitério ou nas imensidões da Sibéria.

Se querem fazer novas experiências sociais, não as façam em pessoas, façam-nas em cobaias, se o PAN autorizar.

Lanço aqui um apelo aos amigos socialistas para que olhem para o Norte da Europa e vejam que há países que encontraram a prosperidade fora do comunismo. Para isso, não é preciso repetir utopias, mas fazer de Portugal um país menos corrupto, onde a justiça funcione, onde todos paguem impostos, onde os mais desprotegidos não sejam esquecidos.

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O autor esquece a parte do comem criancinhas as pequeno-almoço, masmesmo assim está fora da realidade.


A extrema-direita dos Le Pen também diz que é diferente. Que é completamente parvo serem comparados ao Nacional-Socialismo do Hitler.
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Tridion

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #187 em: 2015-10-11 15:03:07 »
A esquerda do twitter está toda animada com a possibilidade de um coligação abrangente à esquerda.

As minhas principais considerações são:

a) Poderão ter uma postura tipo Syriza, mas sem as palhaçadas que o Syriza inicialmente fez porque isso custa tempo e dinheiro. Contudo, podem ter um comportamento semelhante ao que o Syriza tem actualmente;

b) O Costa depois de acordado o governo de esquerdo deveria renunciar ao poder, para demonstrar despreendimento por esse mesmo poder.

A primeira é provável que aconteça, a segunda vai ser feito um spin e vão dizer que o Costa é o PM que Portugal precisa e que foi ele, com a sua abnegação, capacidade de diálogo e estabelecer pontes, que permitiu acabar com a austeridade em Portugal, apesar de ela continuar a ser feita.

Mas a realidade, é que Costa procura desesperadamente não desaparecer politicamente e com isso continuar a pagar as contas e um certo estilo de vida.
E não é que é capaz de conseguir...  ::)
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Zenith

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #188 em: 2015-10-11 15:09:43 »
Tenho andado um pouco distraido com estas coisas.
Na reunião tida com o PPC o Cavaco não o mandatou para fazer as dilgências no sentido de formar governo?

Tridion

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #189 em: 2015-10-11 15:15:50 »
Parece que o PS está encontrar mais pontes com a esquerda radical do que com o centro. O que é compreensível, o Costa só chega a PM com o entendimento à esquerda. Se fosse com a direita ele tinha que ir para simples deputado e assim perder-se o melhor político da sua geração. 
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Automek

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #190 em: 2015-10-11 15:35:29 »
Carlos Silva da UGT:
Citar
Ficaremos mais tranquilos se efectivamente a decisão do PS for de encontrar um compromisso com o PSD e o CDS. Não me parece que efectivamente as forças à esquerda do PS dêem, na minha opinião, a garantia de estabilidade em relação ao futuro. Há dúvidas. E portanto o PS só conseguirá fazer maioria se tiver maioria na assembleia quer do PCP quer do BE. É uma maioria instável que não dá garantias de que no futuro a governabilidade será assegurada por 4 anos.
http://oinsurgente.org/2015/10/11/ugt-contra-coligacao-de-esquerda/

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #191 em: 2015-10-11 17:40:53 »
Parece que o PS está encontrar mais pontes com a esquerda radical do que com o centro. O que é compreensível, o Costa só chega a PM com o entendimento à esquerda. Se fosse com a direita ele tinha que ir para simples deputado e assim perder-se o melhor político da sua geração.

Ele poderia negociar umas pastas governamentais.
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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Lark

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #192 em: 2015-10-11 17:56:03 »
Tenho andado um pouco distraido com estas coisas.
Na reunião tida com o PPC o Cavaco não o mandatou para fazer as dilgências no sentido de formar governo?

Não. Ainda está na fase de consultas com os partidos.
Começa com o partido com maior representação na assembleia.

L
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kitano

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #193 em: 2015-10-11 21:25:33 »
Parece que o PS está encontrar mais pontes com a esquerda radical do que com o centro. O que é compreensível, o Costa só chega a PM com o entendimento à esquerda. Se fosse com a direita ele tinha que ir para simples deputado e assim perder-se o melhor político da sua geração.

Ele poderia negociar umas pastas governamentais.

O costa não quer ser ministro. Quer ser o primeiro.
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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #194 em: 2015-10-11 21:33:32 »
Parece que o PS está encontrar mais pontes com a esquerda radical do que com o centro. O que é compreensível, o Costa só chega a PM com o entendimento à esquerda. Se fosse com a direita ele tinha que ir para simples deputado e assim perder-se o melhor político da sua geração.

Ele poderia negociar umas pastas governamentais.

O costa não quer ser ministro. Quer ser o primeiro.

Claro, afinal é o mais brilhante político da sua geração...blhec  :P
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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #195 em: 2015-10-11 21:40:14 »
Eu acho que o melhor para o país era CDS+PS+PSD comportarem-se como homenzinhos, deixarem de medir pilinhas e governarem juntos, aproveitando para proceder a reformas estruturais.
E em caso de discórdia, em assuntos com peso, chamem-nos a referendar a questão.

Não creio que seja possível um governo desse tipo com o PS de Costas, galambas, moreiras e pedros nunos. Há muito mais que separa este PS do PSD/CDS, do que este PS do BE e do PCP.

Não é necessariamente mau, que este PS/BE/PCP formem governo. Seria até de uma justiça poética que a mentalidade socialista-comunista que tomou conta do país em 1975, pagasse um pouco pelo país ineficiente que criou. Se não acabasse numa ditadura, até podia abrir caminho para 10 anos de governação de centro-direita com maiorias absolutas.

Acabar numa ditadura seria difícil. Não estou a dizer que seria impossível, mas seria bem difícil.
“Price is what you pay. Value is what you get.”
“In the short run the market is a voting machine. In the long run, it’s a weighting machine."
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“O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm."
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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #196 em: 2015-10-11 21:50:15 »
Bom artigo de opinião do Paulo Ferreira

Citar
A lógica da batata
Paulo Ferreira
9/10/2015, 13:2148705 PARTILHAS

Querem vender-nos esta lógica: não pode haver um governo que 61,5% do eleitorado não escolheu. E que é melhor um liderado por um partido em que 67,6% dos eleitores não votaram. Chamam-lhe democracia.

Enquanto António Costa se transforma no protagonista pós-eleitoral e prossegue a sua coreografia, como se estivesse a formar governo, alinham-se as propostas sobre a composição partidária que deve suportar o próximo executivo. O absurdo é tanto que às vezes é preciso regressar ao mais básico. É o que tento fazer hoje.

1 – Quando um partido ou coligação não recolhe a maioria dos votos expressos então uma maioria de eleitores preferia uma de outras candidaturas. Isto não tem nada a ver com ciência política, com leituras da Constituição ou com alinhamentos ideológicos ou partidários. Isto é a mais básica aritmética, entendível até por uma criança do primeiro ciclo. Não tem nada de novo e acontece sempre, mas sempre, que um partido ganha sem maioria absoluta. A aritmética nunca nos falha.

2 – Para não ir mais longe até aos primórdios da democracia, isto aconteceu com Cavaco Silva em 1985, com António Guterres em 1995 e 1999, com Durão Barroso em 2002, com José Sócrates em 2009 e com Pedro Passos Coelho em 2011 e 2015. Todos estes políticos têm uma coisa em comum: foram primeiro-ministro após eleições que venceram mas em que uma maioria de eleitores teria preferido outros candidatos a chefe de governo. Governaram quando uma maioria de eleitores queria aquilo que se pode chamar uma “mudança de política”. E não me lembro de alguma vez, nos seis casos passados, ter sido sequer colocada a hipótese se não ser qualquer deles a formar governo.

3 – Sem maioria absoluta, estes líderes partidários lidaram com essa circunstância de forma diversa. Cavaco e Sócrates governaram sem maioria no Parlamento e acabaram por cair, um derrubado por uma moção de censura aprovada pela maioria das oposições, outro demitindo-se na sequência de um chumbo do PEC pelas oposições na AR. António Guterres terminou a primeira legislatura e demitiu-se a meio da segunda. Durão Barroso e Passos Coelho fizeram coligações pós-eleitorais com o CDS. Barroso saiu depois para Bruxelas e o seu sucessor, Pedro Santana Lopes, acabou por ser demitido pelo presidente Jorge Sampaio. E Passos Coelho terminou a legislatura passada.

4 – Já tivemos, portanto, de tudo um pouco: coligações pré e pós-eleitorais, governos minoritários que sobrevivem e outros que caem. Até tivemos um primeiro-ministro que não foi a votos mas que foi empossado pelo Presidente da República: Santana Lopes. Mas sempre houve uma regra: quem forma governo é o líder do partido mais votado, que se apresenta nas eleições como candidato a primeiro-ministro. O apoio parlamentar que os vitoriosos minoritários depois conseguem agregar é uma questão pós-eleitoral de negociações partidárias e parlamentares.

5 – O que nunca tivemos na sequência de um acto eleitoral foi a formação de um governo liderado por um partido que não tenha sido o mais votado. Colocar esse cenário configura uma deturpação de toda a prática política passada que nunca foi questionada em sete das dez eleições legislativas que tivemos nos últimos 30 anos.

6 – O argumento chega a ser infantil: uma maioria de eleitores querem uma política diferente da defendida pela coligação PSD/CDS. Claro. Como também em 1985, 1995, 1999, 2002, 2009 e 2011 queriam uma política diferente da que o vencedor propunha. É lógico: quando mais de 50% dos eleitores vota numa candidatura que não foi a mais votada é porque não a quer no governo, senão tinha votado nela.

7 – Regressemos então à aritmética para este caso concreto. O argumento é: deve ser formado um governo liderado pelo PS porque houve uma maioria de eleitores, no caso de 61,5%, que rejeitaram o PSD/CDS. Mas se essa é a lógica temos então 67,6% de eleitores que disseram que não queriam um governo liderado pelo PS. E 89,8% dos eleitores rejeitaram a política defendida pelo Bloco de Esquerda e 91,7% votaram em opções diferentes das da CDU. Quando se opta pela lógica da batata e se prefere olhar para os votos “contra” em vez dos votos “a favor” é aqui que chegamos: não podemos ter um governo que 61,5% não escolheram. Mas devemos ter um governo liderado por um partido que 67,6% não escolheram aliado a partidos que foram rejeitados por cerca de 90% dos votos expressos. E achamos isto legitimo. Mais: há até quem ache isto democrático.

8 – Fala-se de um “governo de esquerda”. Como se a esquerda – e o mesmo se pode dizer da direita – fosse una e indivisível, como se a esquerda fosse toda idêntica e programaticamente próxima. Como se o eleitorado socialista fosse política e sociologicamente semelhante ao eleitorado comunista e bloquista. O PS está muito mais próximo do PSD do que dos partidos à sua esquerda, como é evidente. Não é por acaso que se fala do “centrão” e do “bloco central”, que as maiores transferências de voto entre eleições são geralmente entre estes dois partidos e é aí que se ganham e perdem eleições. Os acordos institucionais estruturais que temos unem PSD e PS mas não o BE e o PCP: Europa, moeda única, NATO, economia de mercado, tecido empresarial essencialmente privado, democracia plural, objectivo de equilíbrio orçamental e respeito pela propriedade privada. Não é por acaso que comunistas e bloquistas dizem frequentemente que “eles são todos iguais” e “são farinha do mesmo saco”. Eles são o PS e o PSD.

9 – Se a “esquerda” quer governar e até se pode entender para formar um governo porque é que PS, PCP e BE não fizeram uma coligação pré-eleitoral e se apresentaram assim ao eleitorado? Uma pista: porque o que os separa é muito mais do que os une e nunca conseguiriam entender-se em torno de um programa eleitoral comum que pudesse merecer a preferência de uma maioria de eleitores.

10 – Formar, na saída destas eleições, um governo que não seja liderado pelo PSD/CDS é uma perversão dos resultados eleitorais em toda a linha. Primeiro porque é deixar o partido mais votado – ou o menos rejeitado, nesta lógica – fora da solução de governação. Depois, e mais importante, é um “golpe de Estado” em relação à matriz essencial que resulta do voto de domingo: continuação da consolidação orçamental, manutenção no euro, respeito pelas regras europeias e rejeição de soluções de ruptura como as que defendem o BE e a CDU. Se o PS não percebe isto estará a trair uma parte decisiva do seu eleitorado.

11 – Mas não pode haver diferentes arranjos de governo que saiam do mesmo Parlamento? Pode. Mas nunca sem antes permitir que o partido mais votado faça o seu governo com os apoios que vier a conseguir unir da forma que entender. É impensável que seja de outra maneira. A coligação PSD/CDS deve ser chamada a governar. E se o governo cair daqui a um ou dois anos? Aí, cada um deve assumir as suas responsabilidades sobre a queda do governo. Depois, em função da leitura que o Presidente da República e a generalidade dos partidos fizerem, o país vai de novo para eleições ou pode tentar-se uma nova solução de governo no mesmo Parlamento.

12 – Pode essa solução futura passar por um acordo parlamentar entre PS, BE e CDU que sejam o suporte de um governo? Pode. E aí boa sorte para a governação e para o julgamento que os eleitores farão disso nas eleições seguintes.
http://observador.pt/opiniao/a-logica-da-batata/

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Eu não tenho simpatia pela esquerda. Detestaria um BE ou uma CDU no governo e acho que este PS, apesar de mais moderado, deveria ter pedido desculpas das asneiradas do Sócrates e tentado ser menos clientelar e macónico.
No entanto, apesar de em princípio dever ser a PAF a tentar formar governo, se existir um entendimento de governo à esquerda, isso seria democrático.
Continua a julgar que tanto o PS como a CDU estão a tentar mostrar que a culpa do não entendimento da esquerda não é deles e que um governo de entendimento à esquerda será difícil.
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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #197 em: 2015-10-12 13:23:24 »
Para ano a palavra mais pronunciada vai ser de novo Troika  :(

tommy

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #198 em: 2015-10-12 13:37:01 »
Eu acho que o melhor para o país era CDS+PS+PSD comportarem-se como homenzinhos, deixarem de medir pilinhas e governarem juntos, aproveitando para proceder a reformas estruturais.
E em caso de discórdia, em assuntos com peso, chamem-nos a referendar a questão.

Não creio que seja possível um governo desse tipo com o PS de Costas, galambas, moreiras e pedros nunos. Há muito mais que separa este PS do PSD/CDS, do que este PS do BE e do PCP.

Não é necessariamente mau, que este PS/BE/PCP formem governo. Seria até de uma justiça poética que a mentalidade socialista-comunista que tomou conta do país em 1975, pagasse um pouco pelo país ineficiente que criou. Se não acabasse numa ditadura, até podia abrir caminho para 10 anos de governação de centro-direita com maiorias absolutas.

Acabar numa ditadura seria difícil. Não estou a dizer que seria impossível, mas seria bem difícil.

Sim o lark também dizia isso da grecia. Hoje sabemos que o esquerda caviar varoufakis até plano para prender o governador do banco central grego tinha.

Tudo em nome do povo.  :D

jeab

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #199 em: 2015-10-12 14:09:17 »
Se o PS fizer acordo com  PAF, esta fica refém do PS.
Se o PS fizer acordo com a esquerda, o PS fica refém da CDU e do BE.

De qualquer das maneiras o Zé Tuga fica refém de pagar isto tudo.
O Socialismo acaba quando se acaba o dinheiro - Winston Churchill

Toda a vida política portuguesa pós 25 de Abril/74 está monopolizada pelos partidos políticos, liderados por carreiristas ambiciosos, medíocres e de integridade duvidosa.
Daí provém a mediocridade nacional!
O verdadeiro homem inteligente é aquele que parece ser um idiota na frente de um idiota que parece ser inteligente!