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Autor Tópico: Parlamento sem maioria absoluta  (Lida 392484 vezes)

Jsebastião

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #540 em: 2015-10-19 23:48:06 »
Obrigado pelo esclarecimento, Lark. Quebrar a disciplina de voto é, portanto, uma opção limite, que encerra em si uma "morte política" (implica a saída do partido, bem como, de certa maneira, a perda do sentido de honra e palavra). Não estou a ver isso suceder com os casos citados, e logo em grupo.

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O Portas, em mais uma jogada hiper-calculista (porque sabe que a reposta do Costa é um inevitável e sonoro "NÃO"), acaba de lhe oferecer o lugar, em prol do "interesse superior da nação". Enfim, acredite neste gesto de altruísmo e boa-vontade quem quiser. Ah, Portas, brilhante e arguta raposa... só sais bem na fotografia (ou talvez não).

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Vou deixar mais um artigo de opinião interessante, que vem desmistificar, com argumentos concretos, aquilo que tem vindo a ser passado e repetido com alguma insistência pelo lado da coligação nos últimos dias: que tudo o que se está a passar com as movimentações do Costa é uma knee-jerk reaction, fruto do imprevisto.

Daniel Oliveira, no Expresso:

Citar
Basta ouvir o que os partidos disseram

À medida que o argumento da ilegitimidade de uma solução com apoio claro de uma maioria parlamentar vai perdendo terreno, foi surgindo, com um razoável grau de histeria, a acusação de que António Costa estaria a trair os seus eleitores ao forjar uma aliança contranatura com os partidos à sua esquerda, em vez do entendimento natural e expectável com o PSD e o CDS. Como mostrei aqui, apenas com citações dos últimos meses, passa-se exatamente o contrário. Antes das eleições, Costa disse várias vezes que BE e PCP não podiam ser excluídos de soluções de governo. PCP e Bloco mostraram-se disponíveis, mediante condições. No sentido inverso, Costa e Passos afastaram de forma explícita qualquer possibilidade de entendimento. Não venham interpretar a vontade escondida dos eleitores. Concentrem-se no que os eleitores sabiam: que aliança à esquerda era, segundo Costa, Catarina e Jerónimo, um assunto em debate, e que o bloco central estava, segundo Passos e Costa, fora de questão. O que concluem disto? Que a primeira é uma traição e a segunda a única escolha decente que sobra a António Costa.

Ninguém minimamente sério e informado sobre o nosso sistema constitucional, põe em causa a legitimidade de uma maioria de deputados garantir a formação de um governo. Se não fosse este o espírito da Constituição e a lei quisesse privilegiar as coligações pré-eleitorais em relação às coligações pós-eleitorais, teríamos o sistema de bónus que os gregos criaram. Não temos. Não se pode governar com o apoio dos representantes de 38,4% dos eleitores contra a vontade dos representantes de 50,7% dos eleitores. Dizer que defender isto é promover um golpe de Estado é subverter a própria ideia de democracia representativa.

Esgotado o filão do “golpe de Estado”, passámos para a fase da interpretação da vontade dos eleitores para além do seu voto expresso. Devo dizer que não me envolvo neste tipo de debate. Porque ele torna o sistema representativo numa charada. Mesmo cada voto individual é exercido por múltiplas razões. Se é por ir por aí, fico-me apenas por o que os eleitores sabiam antes das eleições.

Ao contrário de antecessores seus, António Costa recusava o termo “arco da governação”. Disse-o no congresso do PS, a 30 de novembro de 2014: “Recusamos o conceito do arco da governação como delimitando quem são os partidos representados na Assembleia da República que têm acesso e têm a legitimidade a partilhar responsabilidades governativas. Em democracia quem decide quem representa o povo é o povo e ninguém se pode substituir ao povo a excluir parte dos seus representantes das suas plenas responsabilidades. E portanto que fique claro: nós não excluiremos os partidos à nossa esquerda da responsabilidade que também têm de não serem só partidos de protesto mas de serem também partidos de solução para os problemas nacionais.”

No final de agosto foi ainda mais claro, numa entrevista ao “Sol”: “Da minha parte, nunca pus nenhum obstáculo a um acordo com o PCP. Na Câmara de Lisboa tentei fazê-lo, os comunistas recusaram sempre. Rejeito em absoluto a ideia de arco da governação, a ideia de que o poder apenas pertence ao PS, PSD e CDS.” E voltou a repetir esta mesma ideia várias vezes na campanha. Não anunciou uma aliança pós-eleitoral? Nunca nenhum líder do PS ou do PSD o fez no passado, porque isso seria desistir do voto útil. Mas disse mais do que Passos dissera na campanha de 2011 quando, depois das eleições, se aliou ao CDS. E disse mais do que algum líder do PS alguma vez dissera. Jornalistas, comentadores e eleitores atentos sabiam, porque tinham todos os dados para saber, que Costa tinha uma abordagem diferente em relação aos partidos à sua esquerda e não excluía entendimentos de governação com estes.

Quanto à disponibilidade de Bloco, não preciso de recordar as três condições postas por Catarina Martins, no debate com António Costa, para que o BE participasse numa solução de governo. Não estavam lá, ao contrário do que hoje gritam os súbitos defensores da pureza ideológica bloquista, a saída da NATO ou do euro. Eram propostas precisas em que a porta-voz do Bloco voltou a insistir nos dias seguintes.

Jerónimo de Sousa terá sido, dos três, o menos claro. Mas foi ele que disse, a meio da campanha: “Há 4 anos [PSD e CDS] tiveram mais de 50% dos votos e agora já nem conseguem maioria absoluta. A maioria dos portugueses estará contra este Governo. Há sempre quem afirme que o PS vai precisar de nós. Mas nós não abdicaremos de uma solução alternativa, de uma solução patriótica e de esquerda.” Noutro momento, insistiu: “Se o povo português quiser, estamos em condições de assumir responsabilidades, incluindo governativas, para defender os interesses dos trabalhadores e do povo”

Sobre o cenário inverso (viabilização de um governo minoritário de Passos) os eleitores também tinham muita informação. Bloco de Esquerda e PCP disseram sempre que nunca contariam com eles. Quanto a António Costa, essa posição não poderia ter sido mais clara. E não passou despercebida a ninguém, já que a declaração de 18 de setembro foi a mais debatida e analisada de toda a campanha eleitoral: “É evidente que não viabilizaremos, nem há acordo possível entre o PS e a coligação de direita. (…) A última coisa que fazia sentido é que o voto no PS, que é um voto das pessoas que querem mudar de política, servisse depois para manter esta política.” Numa entrevista aceitou a ideia do bloco central numa situação extrema. Pediram-lhe um exemplo: “uma ameaça de invasão de marcianos”. Olhem para o céu. Apesar do ambiente de pré-apocalipse que a comunicação social está a criar, parece que ainda não vêm aí extraterrestres.

Mas não foi apenas Costa. Também Pedro Passos Coelho disse, com todas as letras, que um governo de entendimento entre a coligação e o PS era uma fantasia (razão pela qual PSD e CDS teriam de ter maioria). Passo a palavra ao próprio, numa entrevista ao “Sol” anterior às eleições: “Não me parece que haja, no atual contexto, nenhuma ideia de que um governo juntando CDS, PSD e Partido Socialista pudesse sequer funcionar. (…) Todos os sinais que temos hoje é que qualquer coisa parecido com isso que descreveu não tem nenhumas condições para funcionar porque o programa económico é divergente, o modelo económico é diferente”.

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #541 em: 2015-10-20 00:21:55 »
O Costa é que vai levar um pontapé no rabo se continuar com a ideia de um governo de esquerda.  :P

Mas não ponho de parte que, perante a divisão do PS, ele abandone a ideia de um governo de esquerda, com a desculpa de que não é possível haver entendimento com CDU e BE.

É complicado dar esta desculpa agora (a não ser que seja mesmo verdadeira). Por um lado, já cortou definitivamente com a Paf, pelo que não tem alternativa política nenhuma, por por outro será muito difícil internamente fazer passar essa desculpa---e se ele se contorce mais um milímetro, quebra.  A jogada à esquerda é reconhecidamente ambiciosa, e o risco e as hipóteses de falhanço são exponencialmente maiores, mas ele já passou hoje, de forma declarada, do "point of no return". Em poker, é um "All In". ;D

O Costa pode estar tão cego que só quando estiver no parlamento vai perceber que tem vários deputados da sua cor politica contra si, e isso pode fazê-lo recuar.

Zel

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #542 em: 2015-10-20 00:47:37 »
voces dao por garantido um acordo com os comunistas, mas isso sera dificilimo de acontecer.

e mesmo que aconteca nao sera provavelmente um acordo para 4 anos. o cavaco olha para aquilo, diz que nao chega e que quer 4 anos e la se vai plano do costa ao ar
« Última modificação: 2015-10-20 01:22:33 por Neo-Liberal »

Jsebastião

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #543 em: 2015-10-20 01:40:52 »
O Costa é que vai levar um pontapé no rabo se continuar com a ideia de um governo de esquerda.  :P

Mas não ponho de parte que, perante a divisão do PS, ele abandone a ideia de um governo de esquerda, com a desculpa de que não é possível haver entendimento com CDU e BE.

É complicado dar esta desculpa agora (a não ser que seja mesmo verdadeira). Por um lado, já cortou definitivamente com a Paf, pelo que não tem alternativa política nenhuma, por por outro será muito difícil internamente fazer passar essa desculpa---e se ele se contorce mais um milímetro, quebra.  A jogada à esquerda é reconhecidamente ambiciosa, e o risco e as hipóteses de falhanço são exponencialmente maiores, mas ele já passou hoje, de forma declarada, do "point of no return". Em poker, é um "All In". ;D

O Costa pode estar tão cego que só quando estiver no parlamento vai perceber que tem vários deputados da sua cor politica contra si, e isso pode fazê-lo recuar.

Não faço parte do partido e não conheço que tramoias poderão estar a ser cozinhadas no sentido de contrariar internamente o Costa, mas aquilo que me parece, de o ouvir falar nestes últimos dias, é que está serenamente, e conscientemente, a pavimentar o caminho que se propôs seguir---o da formação de um governo com alianças à esquerda. A julgar pelo passado, nomeadamente o recente, na Câmara de Lisboa, não me parece o tipo de pessoa a quem possam escapar detalhes dessa importância (mais, ele está rodeado de apoiantes a quem também se exige que façam esse esforço de "pensar nos cenários todos", no pun intended)---por esta altura é certo que sabe quem é a sua oposição dentro do partido---à unidade---e sabe também como será previsível que decorrera uma votação sobre a moção de censura, caso se verifique.
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Jsebastião

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #544 em: 2015-10-20 01:44:21 »
voces dao por garantido um acordo com os comunistas, mas isso sera dificilimo de acontecer.

Eu não dou nada por garantido e concordo que 1) é dificil de acontecer, 2) a acontecer, durará pouco tempo, mas não deixo por isso de enaltecer o Costa por estar a tentar.
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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #545 em: 2015-10-20 01:44:59 »
voces dao por garantido um acordo com os comunistas, mas isso sera dificilimo de acontecer.

e mesmo que aconteca nao sera provavelmente um acordo para 4 anos. o cavaco olha para aquilo, diz que nao chega, que quer 4 anos e la se vai plano do costa ao ar

Em teoria um governo de maioria (de esquerda) até podia ter mais probabilidade de sucesso de chegar ao fim dos 4 anos do que um governo minoritário (de direita).

Eu acho muito improvável o Cavaco dar posse a um governo à esquerda, não acredito que isso vá acontecer, mesmo que haja acordo à esquerda, mas penso que será mais por fatores deste género: factos que já aconteceram no passado que o Cavaco tão bem conhece; divisão do eleitorado do PS neste momento; o PS não ter dito que se ia coligar com a esquerda antes das eleições; ele próprio não simpatizar com essa ideia. 

O Cavaco não é um politico sem experiência. Ele está completamente à vontade nisto. Há poucos dias, ele esteve no Algarve num torneio de golfe solidário, entrevistaram-no, e ele estava bastante alegre e a desfrutar do momento, só repetia que o cenário que está acontecer já estava previsto. E ele tb não é completamente imparcial. Ele tem um passado grande ligado ao PSD...

Em 1987, o governo de PSD de Cavaco caiu e o presidente da republica Mário Soares (do PS) recusou-se a aceitar uma solução de governo PS-PRD, e convocou novas eleições. O Cavaco conhece muito bem este episódio. Ele teve a seguir a primeira maioria absoluta. Agora, não pode haver eleições já, mas pode haver daqui a 6 meses, e se for necessário o Cavaco opta por isso, ficando o governo em gestão.

Mas acho que isso não vai acontecer pq acho que não vai haver acordo à esquerda, e acho que CDU e BE vão dizer que é por culpa do PS de Costa, enquanto que o PS vai dizer que a culpa é da CDU e BE.
É o que costuma acontecer. Aconteceu isso tb entre a coligação de direita e o PS em alguns acordos que tentaram fazer. Mas acho que o motivo pode ser a divisão no PS, e não o dizerem. A divisão do PS pode ser grande neste momento.
Acho mais provável o Costa recuar do que haver vários processos disciplinares por não votarem a favor da moção de rejeição.
« Última modificação: 2015-10-20 01:47:07 por João-D »

Joao-D

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #546 em: 2015-10-20 02:20:15 »
voces dao por garantido um acordo com os comunistas, mas isso sera dificilimo de acontecer.

Eu não dou nada por garantido e concordo que 1) é dificil de acontecer, 2) a acontecer, durará pouco tempo, mas não deixo por isso de enaltecer o Costa por estar a tentar.

Achas bem o Costa estar a tentar ser primeiro ministro à força depois de ter perdido as eleições, e depois de ter tirado o Seguro de líder por ter ganho as eleições europeias sem maioria absoluta dizendo que o PS devia ter obtido a maioria absoluta nas mesmas?

Zel

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #547 em: 2015-10-20 02:36:27 »
adorava ver o costa como PM, iria ser muito divertido !

forca costa!!!
« Última modificação: 2015-10-20 11:15:25 por Neo-Liberal »

Lark

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #548 em: 2015-10-20 02:52:24 »
forca costa!!!

primeiro o mrpp a dizer morte aos traidores e agora tu?
a mandar o costa para a forca?

L
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purehawk

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #549 em: 2015-10-20 04:38:32 »
forca costa!!!

primeiro o mrpp a dizer morte aos traidores e agora tu?
a mandar o costa para a forca?

L

A forca é demasiado. Discordo da forca.
Basta atirar um bolo enorme com ovos podres...

     ;D

McKricas

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #550 em: 2015-10-20 11:19:40 »
Em teoria um governo de maioria (de esquerda) até podia ter mais probabilidade de sucesso de chegar ao fim dos 4 anos do que um governo minoritário (de direita).

Eu acho muito improvável o Cavaco dar posse a um governo à esquerda, não acredito que isso vá acontecer, mesmo que haja acordo à esquerda, mas penso que será mais por fatores deste género: factos que já aconteceram no passado que o Cavaco tão bem conhece; divisão do eleitorado do PS neste momento; o PS não ter dito que se ia coligar com a esquerda antes das eleições; ele próprio não simpatizar com essa ideia. 

O Cavaco não é um politico sem experiência. Ele está completamente à vontade nisto. Há poucos dias, ele esteve no Algarve num torneio de golfe solidário, entrevistaram-no, e ele estava bastante alegre e a desfrutar do momento, só repetia que o cenário que está acontecer já estava previsto. E ele tb não é completamente imparcial. Ele tem um passado grande ligado ao PSD...

Em 1987, o governo de PSD de Cavaco caiu e o presidente da republica Mário Soares (do PS) recusou-se a aceitar uma solução de governo PS-PRD, e convocou novas eleições. O Cavaco conhece muito bem este episódio. Ele teve a seguir a primeira maioria absoluta. Agora, não pode haver eleições já, mas pode haver daqui a 6 meses, e se for necessário o Cavaco opta por isso, ficando o governo em gestão.

Mas acho que isso não vai acontecer pq acho que não vai haver acordo à esquerda, e acho que CDU e BE vão dizer que é por culpa do PS de Costa, enquanto que o PS vai dizer que a culpa é da CDU e BE.
É o que costuma acontecer. Aconteceu isso tb entre a coligação de direita e o PS em alguns acordos que tentaram fazer. Mas acho que o motivo pode ser a divisão no PS, e não o dizerem. A divisão do PS pode ser grande neste momento.
Acho mais provável o Costa recuar do que haver vários processos disciplinares por não votarem a favor da moção de rejeição.

O Presidente da República não terá muitas alternativas caso a PaF tenha o seu Programa de Governo rejeitado pelo PS, PCP e BE.

Só poderá ouvir de novo os partidos e 1) Pedir ao PS para formar governo ou 2) Manter o actual governo em gestão.

A 2ª opção, neste momento é muito complicada. Colocaria o País numa posição muito frágil e sem as medidas extraordinárias o Tratado Orçamental fica comprometido. Novas eleições só podem ocorrer, no mínimo, em Abril. Significaria que na melhor das hipóteses só teríamos orçamento para final de Maio ou Junho. Antes disso, já teríamos os juros a escalar e a UE cá de novo.

Assim, só restaria ao Presidente da República a 1ª opção.

No entanto, mesmo optando por essa situação, penso que haveria sempre um conjunto de imposições para o PR deixar o PS formar governo, porque penso que esse governo, a existir, será sempre também frágil....e uma delas, poderia bem ser para se voltar a fazer eleições assim que seja possível (pelo próximo Presidente)...

Começo a acreditar que seria mesmo o melhor, embora não para o BE e o PCP que a iriam contestar até ao último fôlego...Teríamos um governo em plenas funções por 6 ou 7 meses e novas eleições para deixar o povo dar ou não legitimidade a este governo.

Ironicamente, para o António Costa até poderia não ser um má opção. O António Costa sabe que será sempre visto como alguém que perdeu as eleições e que arranjou "uma forma" de ser PM à força e portanto não terá nunca a mesma força política que se fosse sufragado pelos votos em eleições. Esta opção permitiria-lhe também que até essas eleições 1) se mantivesse em funções e nos cargos e 2) demonstrar até lá que é possível governar bem e "cortar com a austeridade" com resultados válidos e visíveis.

Para a PaF, seria bom ou mau dependendo daquilo que o Costa conseguisse fazer nesse período...se Costa tivesse mesmo sucesso, poderia comprometer os votos na PaF.

Em relação à disciplina de voto, o expediente mais usado pelos deputados é a de "faltar" (e inclusive apresentar o justificativo da falta) quando não concordam com a posição do partido. É a única forma de não lhe instaurarem um processo pelo partido.

Mas neste caso concreto, duvido muito que este expediente vá resultar. Não irão ser permitidas faltas nesse dia e o PS irá encarregar-se de ter a certeza disso.

Jsebastião

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #551 em: 2015-10-20 11:21:42 »
Achas bem o Costa estar a tentar ser primeiro ministro à força depois de ter perdido as eleições, e depois de ter tirado o Seguro de líder por ter ganho as eleições europeias sem maioria absoluta dizendo que o PS devia ter obtido a maioria absoluta nas mesmas?

É uma forma de colocar as coisas (que respeito).

Outra é: está a tentar melhorar a política em Portugal, segundo as suas convicções (menos austeridade, diálogo com os partido de extrema esquerda, tirar a coligação do poder, melhorar as condições de vida dos mais desfavorecidos---sim, eu acredito nisto, apesar da evidente "sede de poder" que o domina).

Perdeu as eleições, é um facto, mas como alguém disse nas redes sociais, isto não é o concurso para Miss-Portugal, e as vitórias e derrotas não podem ser avaliadas nem consideradas de uma perspectiva unitária de partidos ou pessoas. Há toda uma dinâmica pluralista e multifacetada que prevê, ao abrigo da constituição, várias hipóteses para a formação de um governo quando não há uma maioria absoluta.

Eu não considero que o Costa esteja a usurpar nada (é a minha opinião), e embora tenha cometido alguns erros e argoladas ao longo do caminho, vejo o trabalho dele, no geral, como positivo. Mesmo que venha a falhar (e se falhar, a queda vai ser grande).
« Última modificação: 2015-10-20 11:22:48 por Jsebastião »
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Zel

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #552 em: 2015-10-20 11:21:58 »
se o costa fosse PM :

-o governo nao iria durar muito, cairia a primeira medida de austeridade (estas medidas sao inevitaveis)
-o PS seria castigado nas proxs eleicoes
-seria muito divertido ver as reaccoes !
« Última modificação: 2015-10-20 11:22:31 por Neo-Liberal »

Jsebastião

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #553 em: 2015-10-20 11:23:32 »
adorava ver o costa como PM, iria ser muito divertido !

forca costa!!!

Acho que ele pensa da mesma forma que tu, menos a ironia.  :D
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Automek

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #554 em: 2015-10-20 11:25:17 »
voces dao por garantido um acordo com os comunistas, mas isso sera dificilimo de acontecer.

e mesmo que aconteca nao sera provavelmente um acordo para 4 anos. o cavaco olha para aquilo, diz que nao chega e que quer 4 anos e la se vai plano do costa ao ar
Concordo. Quem se associar ao Costa tem a certidão de óbito passada porque se querem o dinheiro dos alemães têm de baixar as calças à austeridade. O PCP vê muito mais à frente que os outros dois e não vai na conversa.

E, já agora, é giro chamar austeridade a uma coisa que é ter as contas equilibradas.

Zel

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #555 em: 2015-10-20 11:25:38 »
pessoalmente acho q nao vai haver acordo solido com a esquerda, isto porque o BE e PCP nao querem ficar associados a governacao e nao querem deixar de fazer a sua oposicao do "contra tudo o que eh mau e a favor de tudo o que eh bom"

portanto o costa vai aparecer no melhor dos casos com um acordo para o primeiro orcamento...

com tao pouco e se eu fosse o cavaco mandava-o bugiar, ate porque acordos com a direita ficarao obviamente impossibilitados e os comunistas vao chumbar tudo a seguir
« Última modificação: 2015-10-20 11:53:10 por Neo-Liberal »

Jsebastião

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #556 em: 2015-10-20 11:29:19 »
Começo a acreditar que seria mesmo o melhor, embora não para o BE e o PCP que a iriam contestar até ao último fôlego...Teríamos um governo em plenas funções por 6 ou 7 meses e novas eleições para deixar o povo dar ou não legitimidade a este governo.

Ironicamente, para o António Costa até poderia não ser um má opção. O António Costa sabe que será sempre visto como alguém que perdeu as eleições e que arranjou "uma forma" de ser PM à força e portanto não terá nunca a mesma força política que se fosse sufragado pelos votos em eleições. Esta opção permitiria-lhe também que até essas eleições 1) se mantivesse em funções e nos cargos e 2) demonstrar até lá que é possível governar bem e "cortar com a austeridade" com resultados válidos e visíveis.

Para a PaF, seria bom ou mau dependendo daquilo que o Costa conseguisse fazer nesse período...se Costa tivesse mesmo sucesso, poderia comprometer os votos na PaF.

Em relação à disciplina de voto, o expediente mais usado pelos deputados é a de "faltar" (e inclusive apresentar o justificativo da falta) quando não concordam com a posição do partido. É a única forma de não lhe instaurarem um processo pelo partido.

Mas neste caso concreto, duvido muito que este expediente vá resultar. Não irão ser permitidas faltas nesse dia e o PS irá encarregar-se de ter a certeza disso.

Subscrevo.
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Deus Menor

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #557 em: 2015-10-20 11:50:28 »

Uma acordo à esquerda implica , como no caso do Syriza , aplicar austeridade,
eles sabem-no e não vão querer .

Jsebastião

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #558 em: 2015-10-20 11:59:37 »
Uma acordo à esquerda implica , como no caso do Syriza , aplicar austeridade,
eles sabem-no e não vão querer .

Certo, mas colocando-te na perspectiva "deles", olha para a alternativa...
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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #559 em: 2015-10-20 12:05:58 »
Uma acordo à esquerda implica , como no caso do Syriza , aplicar austeridade,
eles sabem-no e não vão querer .

Certo, mas colocando-te na perspectiva "deles", olha para a alternativa...

A esquerda moderna está a definhar ideologicamente, vide Krugman, Stiglitz, Corbyn & Co ... é um discurso de desespero, sem rigor científico , sem estratégia,
é apenas uma reação ao seu próprio vazio.

Enquanto a esquerda não assumir que para redistribuir é preciso criar bases
sólidas de crescimento e criação de riqueza, colectivismo com capitalismo pode
funcionar, é preciso ser coerente .