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Autor Tópico: Parlamento sem maioria absoluta  (Lida 392515 vezes)

McKricas

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1080 em: 2015-10-27 18:21:15 »


se o partido A não fizer nada, o governo tem que submeter a aprovação do plano a votação. é uma moção de confiança.
se a oposição ficar caladinha o tempo todo, o programa de governo não é aceite tacitamente.
tem sempre que haver uma votaçao. nesse caso quem apresenta o programa, terá que tomar a iniciativa.

L


Não.

Se o Partido A não fizer nada, o Plano é apenas apresentado e não se passa mais nada.

Não há nenhuma votação e seguem os trabalhos.

Apenas se o Governo quiser é que pode apresentar uma moção de confiança e nesse caso haverá uma votação.


tens a certeza? aceito que sim, porque parece-me saberes do que falas.
de qualquer forma penso que isto seja um preceito constitucional. ou um regulamento da AR, emanado de um preceito constitucional.
tens algum link para esta regulação/preceito?

L


Podes ver o art.º 192 que o Automek já aqui deixou:
http://www.thinkfn.com/forumbolsaforex/index.php/topic,4249.msg222294.html#msg222294

E pode ver nesta noticia da apresentação do Programa de Governo do Sócrates em 2005 como se passou:
http://www.rtp.pt/noticias/pais/programa-do-governo-em-debate-no-parlamento_n7537

Citar
(...)
Apesar das críticas, nenhum partido deverá apresentar uma moção de rejeição ao programa de Governo, tendo o executivo já anunciado que também não apresentará um voto de confiança ao documento.

Desta forma, o programa do Governo de José Sócrates será o primeiro a ser debatido no Parlamento sem votação desde 1995, quando o então primeiro-ministro socialista António Guterres viu o documento orientador do seu executivo passar sem votação no Parlamento.
(...)
« Última modificação: 2015-10-27 18:24:10 por McKricas »

tommy

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1081 em: 2015-10-27 18:22:45 »
o passos teve demasiado pressa em ir para o governo, devia ter deixa o socrates arder mais uns meses para depois os burros nao poderem dizer que o socrates nao faliu o pais e que o pec 4 ia salvar tudo
Idealmente até que falhasse mesmo o pagamento de um mês de pensões ou de salários.

Sem dúvida.

Jsebastião

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1082 em: 2015-10-27 18:23:02 »
O Acordo entre o PS e o BE com o PCP já existe e está assinado há vários dias (desde a célebre declaração da Catarina Martins sobre o governo do Passos ter acabado). Apenas não foi (e não será divulgado) enquanto o governo da PaF não for rejeitado pela Assembleia.

Está tudo arranjado.

Não me custa a acreditar que esteja tudo "arranjado", mas custa-me a acreditar que já haja consensos sobre todas as matérias e sobretudo que haja papelada assinada. Sei que as notícias nos OCS nem sempre são fidedignas, mas nos últimos dias tem havido reuniões que se presumem ser para fechar os acordos.

O acordo nas matérias que o PS designou como importantes estão feitos.
É um acordo de mínimos que o PS considera que permite rejeitar o governo da PaF.

Tudo o que está a acontecer nos últimos dias é apenas "fumo & espelhos".

O PS só vai divulgar alguma coisa concreta quando o Passos Coelhos apresentar o seu plano de governo e o seu governo for rejeitado.

Antes disso, sujeitava-se a que o Passos apresenta-se exactamente as mesmas medidas ao Parlamento como sendo as suas medidas.

Isso iria criar um problema de coerência (mais um) que era bastante complicado de explicar.

Como é que o BE e o PCP explicavam a aprovação da mesma medida ao PS que dias antes tinham rejeitado no programa da PaF ?

Percebo o raciocínio, mas contraponho: as medidas que estão a ser alvo de debate para firmar o acordo estão todas a ser anunciadas na Comunicação Social com grande minúcia. Nada impede a Paf de olhar para elas e copiar a direito. Mas se o fizessem iam cair no ridículo evidente de não as terem proposto no programa eleitoral em primeiro lugar, e de ser facilmente demonstrável que tinham copiada o modelo para tentar um golpe no Parlamento.

Por outro lado, se a Paf por acaso enveredasse por esse caminho, nada impediria por sua vez a esquerda de mudar alguns pormenores à pressa para fazer diferenciar os programas. Apenas o suficiente para chumbarem o da Paf e para passarem o seu.
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Automek

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1083 em: 2015-10-27 18:25:45 »
Isto arruma praticamente com o "debate" acerca do "vencedor que se presume vitorioso".

Argumentos em contrário?
Vendo por outro prisma. O presidente é eleito com base em promessas eleitorais. Imaginemos que uma promessa principal era de que iria defender a manutenção do pais na UE.

Entretanto o PCP ganha as eleições com a promessa de abandonar a UE. O que faz o presidente ? Demite-se para não dar posse ? Dá posse e trai os +50% dos eleitores que o elegeram ?

E se não der posse ? Há matéria para avaliação do tribunal constitucional ? Eu penso que não porque a decisão tem sempre de ser discriccionária com base no que o próprio presidente prometeu quando foi eleito, caso contrário a decisão seria sempre igual, independentemente de quem lá estivesse. Seria o mesmo que dizer que estar lá o Soares, o Cavaco ou um robot era o mesmo.

Além disso a constituição não diz que tem de governar quem ganhou mas também não diz que tem de governar quem tem o apoio maioritário no parlamento. A expressão "atendendo aos resultados" e "ouvidos os partidos" é vaga e abre, penso que intencionalmente, a porta ao que o PR queira fazer.

Lark

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1084 em: 2015-10-27 18:30:58 »


se o partido A não fizer nada, o governo tem que submeter a aprovação do plano a votação. é uma moção de confiança.
se a oposição ficar caladinha o tempo todo, o programa de governo não é aceite tacitamente.
tem sempre que haver uma votaçao. nesse caso quem apresenta o programa, terá que tomar a iniciativa.

L


Não.

Se o Partido A não fizer nada, o Plano é apenas apresentado e não se passa mais nada.

Não há nenhuma votação e seguem os trabalhos.

Apenas se o Governo quiser é que pode apresentar uma moção de confiança e nesse caso haverá uma votação.


tens a certeza? aceito que sim, porque parece-me saberes do que falas.
de qualquer forma penso que isto seja um preceito constitucional. ou um regulamento da AR, emanado de um preceito constitucional.
tens algum link para esta regulação/preceito?

L


Podes ver o art.º 192 que o Automek já aqui deixou:
http://www.thinkfn.com/forumbolsaforex/index.php/topic,4249.msg222294.html#msg222294

E pode ver nesta noticia da apresentação do Programa de Governo do Sócrates em 2005 como se passou:
http://www.rtp.pt/noticias/pais/programa-do-governo-em-debate-no-parlamento_n7537

Citar
(...)
Apesar das críticas, nenhum partido deverá apresentar uma moção de rejeição ao programa de Governo, tendo o executivo já anunciado que também não apresentará um voto de confiança ao documento.

Desta forma, o programa do Governo de José Sócrates será o primeiro a ser debatido no Parlamento sem votação desde 1995, quando o então primeiro-ministro socialista António Guterres viu o documento orientador do seu executivo passar sem votação no Parlamento.
(...)



I stand corrected, Sir.
sempre a aprender.

muchas gracias,
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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1085 em: 2015-10-27 18:38:31 »
O acordo nas matérias que o PS designou como importantes estão feitos.
É um acordo de mínimos que o PS considera que permite rejeitar o governo da PaF.

Tudo o que está a acontecer nos últimos dias é apenas "fumo & espelhos".

O PS só vai divulgar alguma coisa concreta quando o Passos Coelhos apresentar o seu plano de governo e o seu governo for rejeitado.

Antes disso, sujeitava-se a que o Passos apresenta-se exactamente as mesmas medidas ao Parlamento como sendo as suas medidas.

Isso iria criar um problema de coerência (mais um) que era bastante complicado de explicar.

Como é que o BE e o PCP explicavam a aprovação da mesma medida ao PS que dias antes tinham rejeitado no programa da PaF ?
Percebo o raciocínio, mas contraponho: as medidas que estão a ser alvo de debate para firmar o acordo estão todas a ser anunciadas na Comunicação Social com grande minúcia. Nada impede a Paf de olhar para elas e copiar a direito. Mas se o fizessem iam cair no ridículo evidente de não as terem proposto no programa eleitoral em primeiro lugar, e de ser facilmente demonstrável que tinham copiada o modelo para tentar um golpe no Parlamento.

Por outro lado, se a Paf por acaso enveredasse por esse caminho, nada impediria por sua vez a esquerda de mudar alguns pormenores à pressa para fazer diferenciar os programas. Apenas o suficiente para chumbarem o da Paf e para passarem o seu.

As medidas que se ouvem na comunicação social são apenas "rumores" e são exactamente o que o PS quer que neste momento se saiba - são "fumo".

Uma coisa são as medidas reais que o PS apresentasse ANTES da moção de rejeição, outra coisa completamente diferente, são "rumores" que "alguém" deixa cair para a CS sabe-se lá com que intenção.

A PaF não pode tomar nenhuma acção baseada em "rumores"......mas poderia agir segundo as medidas reais apresentadas pelo PS.

Jsebastião

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1086 em: 2015-10-27 18:50:21 »
Isto arruma praticamente com o "debate" acerca do "vencedor que se presume vitorioso".

Argumentos em contrário?
Vendo por outro prisma. O presidente é eleito com base em promessas eleitorais. Imaginemos que uma promessa principal era de que iria defender a manutenção do pais na UE.

Entretanto o PCP ganha as eleições com a promessa de abandonar a UE. O que faz o presidente ? Demite-se para não dar posse ? Dá posse e trai os +50% dos eleitores que o elegeram ?

E se não der posse ? Há matéria para avaliação do tribunal constitucional ? Eu penso que não porque a decisão tem sempre de ser discriccionária com base no que o próprio presidente prometeu quando foi eleito, caso contrário a decisão seria sempre igual, independentemente de quem lá estivesse. Seria o mesmo que dizer que estar lá o Soares, o Cavaco ou um robot era o mesmo.

Em que é que esta hipotética mas improvável situação contraria o argumento apresentado de que a afirmação "Quem vence as eleições deve governar!" decorre apenas e só de mera opinião da pessoa que a profere?

Concordo, no entanto, que seria um caso bicudo de "governação", para o qual não tenho resposta. A Constituição não o obriga a empossar essa maioria, mas qualquer outra decisão serviria apenas para atrasar o inevitável, já que o PC teria sempre maioria no Parlamento.

O que farias tu se fosses Presidente?

Citar
Além disso a constituição não diz que tem de governar quem ganhou mas também não diz que tem de governar quem tem o apoio maioritário no parlamento. A expressão "atendendo aos resultados" e "ouvidos os partidos" é vaga e abre, penso que intencionalmente, a porta ao que o PR queira fazer.

Não contesto o direito que o Presidente tem de julgar em conformidade com a sua consciência e de poder optar pela solução que lhe parece melhor para o país. Não coloco isso em causa.

Pretendo é limpar de uma vez por todas a falácia que diz que o vencedor das eleições deve governar---e que qualquer outra solução é uma imoralidade.
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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1087 em: 2015-10-27 19:13:38 »
eles nao mostram o acordo

como querem presidente deixe governar  um governo de tres partidos  que tem fama nao cumprir  e ser contra os tratados europeus
« Última modificação: 2015-10-27 19:14:03 por Reg »
Democracia Socialista Democrata. igualdade de quem berra mais O que é meu é meu o que é teu é nosso

Automek

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1088 em: 2015-10-27 19:18:57 »
O que farias tu se fosses Presidente?
Eu se fosse presidente empossaria sempre quem ganha e deixaria o chumbo nas mãos do parlamento. Por uma razão: o mandato de deputado é atribuído pelos eleitores à pessoa e não ao partido. Embora saibamos que há disciplina de voto, o partido não é dono da vontade deputado. Este é suposto representar aqueles que o elegeram e votar conforme entender que melhor serve os interesses de quem o elegeu.
Sendo assim, deve ser o deputado, individualmente, a demonstrar essa vontade de chumbo e não o líder do partido a afirmá-lo, em nome colectivo, na reunião com o PR.

Mas compreendo quaisquer das outras argumentações.

Incognitus

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1089 em: 2015-10-27 19:42:16 »
O Acordo entre o PS e o BE com o PCP já existe e está assinado há vários dias (desde a célebre declaração da Catarina Martins sobre o governo do Passos ter acabado). Apenas não foi (e não será divulgado) enquanto o governo da PaF não for rejeitado pela Assembleia.

Está tudo arranjado.

Não me custa a acreditar que esteja tudo "arranjado", mas custa-me a acreditar que já haja consensos sobre todas as matérias e sobretudo que haja papelada assinada. Sei que as notícias nos OCS nem sempre são fidedignas, mas nos últimos dias tem havido reuniões que se presumem ser para fechar os acordos.

O acordo nas matérias que o PS designou como importantes estão feitos.
É um acordo de mínimos que o PS considera que permite rejeitar o governo da PaF.

Tudo o que está a acontecer nos últimos dias é apenas "fumo & espelhos".

O PS só vai divulgar alguma coisa concreta quando o Passos Coelhos apresentar o seu plano de governo e o seu governo for rejeitado.

Antes disso, sujeitava-se a que o Passos apresenta-se exactamente as mesmas medidas ao Parlamento como sendo as suas medidas.

Isso iria criar um problema de coerência (mais um) que era bastante complicado de explicar.

Como é que o BE e o PCP explicavam a aprovação da mesma medida ao PS que dias antes tinham rejeitado no programa da PaF ?

É uma boa lógica.
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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Zel

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1090 em: 2015-10-27 21:09:08 »
o principal, que eh o acordo dos 4 anos, nao esta feito

e o PS precisa dos 4 anos, senao pode ser um cataclismo para o proprio PS
« Última modificação: 2015-10-27 21:09:53 por Neo-Liberal »

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1091 em: 2015-10-27 21:11:58 »
mas concordo que estao a dizer tantas parvoices sobre derrubar o governo que devem ter o acordo feito para o primeiro orcamento
senao seriam malucos (mas nunca se sabe, podem estar a jogar um jogo de pressao mutua com apresentacao de factos consumados ao publico)

Pedro.J50

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1092 em: 2015-10-27 21:16:27 »
Como não tenho TV , só internet , não tenho acompanhado os debates nas TVs ,etc.
Parece-me que o argumento de que o Partido mais votado deve governar , não me parece lógico.
Para Governar é preciso maioria no parlamento e se o partido mais votado não tiver maioria como governaria ?
Até o partido MENOS votado  poderia ser Governo desde que tivesse apoio da maioria dos deputados que teoricamente representam a vontade do povo.

Se fôr nomeado PM , Costa vamos ver o que acontece.
Costa até pode depois aliar-se à coligação de direita   para fazer passar certas medidas ( se esta quiser, claro ).

Ou então se bloco, PCP e bloco de direita se unirem Costa fica bloqueado.

Seja como fôr Costa como PM está frito.

Se se aliar com PCP , Bloco, hà crise com credores.

Se se aliar com  bloco de direita- hà crise com as forças  de esquerda.

Costa pode ir navegando entre os dois..,mas não será tarefa fácil.






Lark

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1093 em: 2015-10-27 21:29:54 »
José Vítor Malheiros conta-nos Coisas simples que Cavaco não percebe

Citar
O princípio que afirma “quem ganha as eleições deve governar” tem sido repetidamente enunciado, glosado, gritado e guinchado pela direita nos últimos dias. E, dito assim, e ouvido com o sentido crítico em ponto morto, parece fazer sentido. Mas, neste particular como em tudo, convém distinguir a opinião dos factos e acontece que a norma constitucional ou o princípio jurídico ou a tradição política que afirma “quem ganha as eleições deve governar” não existe. E, quando alguém afirma que ele existe, mente.

Se alguém quiser dizer “eu acho que quem ganha as eleições deve governar” tem todo o direito de o fazer, mas trata-se aqui de uma expressão de vontade pessoal, que não tem (e, verdade seja dita, não exige) nenhuma ancoragem na realidade da lei ou da política. Da mesma maneira, é aceitável que se diga “em princípio, quem ganha as eleições deve governar” mas, como todas as frases que começam com esta fórmula de caução, isso quer dizer que, em muitas circunstâncias, não acontece como “em princípio”.

De facto, se “quem ganhasse as eleições devesse governar” e se esse tivesse sido o entendimento dos constituintes, teria sido fácil incluir o preceito na Constituição. Mas o que lá está escrito é que “o Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais” (artigo 187º) e que o novo governo, para governar, não pode ver o seu programa rejeitado pelo Parlamento (artigo 195º). Ou seja, para nomear um primeiro-ministro é preciso que o Presidente da República o queira fazer, que ouça previamente os partidos políticos e que a sua nomeação “tenha em conta os resultados eleitorais”, o que é, convenha-se, uma norma algo vaga, que apela fundamentalmente ao bom senso. E, para que um novo governo entre efectivamente em funções basta que o seu programa não seja rejeitado pelo Parlamento.

Por que é que quem ganha as eleições (entenda-se por esta expressão “o partido ou coligação que tenha obtido mais votos”) não adquire, por esse simples facto, o direito a governar, sem mais considerações? Porque um partido pode ter mais votos que qualquer um dos outros e não ter, por esse facto, um apoio suficiente no Parlamento para garantir a governabilidade e estabilidade (como acontece com a coligação PSD-CDS neste momento). Assim, sabiamente, a Constituição impõe ao Presidente da República que use do bom-senso (uma imposição que Cavaco Silva considera intolerável) e faça o seu melhor para, sem violar o sentimento expresso nas urnas pela maioria dos portugueses, encontrar uma solução governativa não só funcional mas tão estável quanto possível.

No máximo, poderia defender-se que “quem ganha as eleições deve ser indigitado PM” e apresentar-se depois ao Parlamento ver se consegue um apoio maioritário ou não - mas a Constituição nem sequer isso exige.

Uma das razões por que o princípio “quem ganha as eleições deve governar” ou “o partido que tem mais votos deve governar” não faz sentido é porque, a existir, ele implicaria que, no caso de uma maioria relativa (como a que tem a coligação PSD-CDS neste momento) outros partidos fossem obrigados a deixar passar o programa de governo, de forma a viabilizar o governo minoritário, ainda que tivessem de ir contra a sua consciência e trair o seu eleitorado, os seus programas, princípios e promessas. Não faria sentido. Os fanáticos da direita que gritam que o PSD deve poder governar porque teve mais votos que o PS estão de facto a dizer, forçosamente, que o PS devia deixar passar o programa do PSD, por muito que aqueles o considerem anti-patriótico, anti-democrático, socialmente injusto, empobrecedor, irrealista e destruidor de riqueza. Não faz sentido e é evidente que se trata de uma argumentação desonesta, que os próprios nunca aplicariam se a situação fosse ao contrário.

Por que razão, então, houve no passado governos minoritários? Porque não foram rejeitados pela maioria do Parlamento.

A Constituição, note-se, obriga o Presidente da República a “ter em conta os resultados eleitorais”, globalmente, e não apenas os votos do partido mais votado. Se Cavaco insistir, de forma sectária, em apenas indigitar e empossar um Governo se ele for encabeçado pelo seu próprio partido, ainda que ele seja minoritário e tenha contra si a maioria do Parlamento, e se recusar a indigitar e empossar um Governo dirigido por António Costa, ainda que ele tenha a suportá-lo a maioria do Parlamento, estará a ignorar este imperativo constitucional. Será uma decisão de uma extrema gravidade, inaceitável num regime democrático e incompatível com um regime democrático.

Há quem vocifere, à direita que, se é assim, então passa a ser impossível ter governos minoritários e vai ser muito mais difícl ter governos estáveis. Não é verdade. Um governo minoritário pode ser respeitável, o que o actual governo PSD-CDS não é e o próximo também não será. Não é o facto de esta coligação não conseguir gerar um governo que seja minimamente respeitável que significa que outro governo minoritário não o possa ser.


Isto arruma praticamente com o "debate" acerca do "vencedor que se presume vitorioso".

Argumentos em contrário?


o vitor malheiros é uma 'cabeça'. escreve extraordinariamente bem e principalmente 'pensa' extraordinariamente bem.

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1094 em: 2015-10-27 21:35:04 »

o vitor malheiros é uma 'cabeça'. escreve extraordinariamente bem e principalmente 'pensa' extraordinariamente bem.

L


artigos do josé vitor malheiros no público
blog do josé vitor malheiros

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1095 em: 2015-10-27 22:45:54 »
um bom resumo da situação pelo joão miguel ramos no publico
Citar
Na sua caminhada para primeiro-ministro, António Costa começou por pedir uma maioria absoluta. Como a maioria absoluta estava difícil, chegava maioria relativa. Como a maioria relativa estava difícil, chegava ao PS ter mais deputados do que o PSD. Como o PS não teve mais deputados do que o PSD, chegava um acordo de legislatura com o Bloco e com o PCP. Como o Bloco e o PCP não falam um com o outro, chega um acordo de legislatura com o Bloco e um outro com o PCP. Como o PCP não quer acordos de legislatura, é possível que chegue um acordo de investidura. E se o PCP nem um acordo de investidura quiser, António Costa há-de contentar-se com um acordo verbal e um bacalhau.

(...)
http://www.publico.pt/politica/noticia/antonio-costa-anda-a-aldrabarnos-1712387

Jsebastião

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1096 em: 2015-10-27 23:43:22 »
O que farias tu se fosses Presidente?
Eu se fosse presidente empossaria sempre quem ganha e deixaria o chumbo nas mãos do parlamento. Por uma razão: o mandato de deputado é atribuído pelos eleitores à pessoa e não ao partido. Embora saibamos que há disciplina de voto, o partido não é dono da vontade deputado. Este é suposto representar aqueles que o elegeram e votar conforme entender que melhor serve os interesses de quem o elegeu.
Sendo assim, deve ser o deputado, individualmente, a demonstrar essa vontade de chumbo e não o líder do partido a afirmá-lo, em nome colectivo, na reunião com o PR.

Mas compreendo quaisquer das outras argumentações.

Pelo menos parecemos concordar quanto ao que seria lógico que o Presidente fizesse. Mas não percebo uma coisa no teu texto, o "chumbo nas mãos do Parlamento". Se o PCP, no caso hipotético que colocas, tem maioria, não há lugar a qualquer chumbo, já que os deputados eleitos não se vão chumbar a si próprios...

« Última modificação: 2015-10-27 23:44:12 por Jsebastião »
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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1097 em: 2015-10-27 23:53:46 »
Eu estava referir-me a vitórias sem maioria, como é o caso actual, em que deve ser o parlamento a chumbar. No caso de alguém vencer com maioria absoluta nem se colocava a questão. Seria aprovado pelo parlamento, certamente.

De qualquer das formas, e uma vez que o meu principio seria sempre de empossar o vencedor, se o PCP ganhasse as eleições teria de ponderar demitir-me e deixar essa tarefa ao meu sucessor.
Como é que um PR pode empossar um governo com ideias muito contrárias às que ele defendeu na sua própria campanha eleitoral ? Vai trair os seus próprios eleitores ? E como é que pode promulgar as leis emanadas desse governo ? É um dilema moral que me parece só ter solução com a demissão (nem sei se é este o termo correcto).

Jsebastião

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1098 em: 2015-10-28 00:05:53 »
Eu estava referir-me a vitórias sem maioria, como é o caso actual, em que deve ser o parlamento a chumbar. No caso de alguém vencer com maioria absoluta nem se colocava a questão. Seria aprovado pelo parlamento, certamente.

De qualquer das formas, e uma vez que o meu principio seria sempre de empossar o vencedor, se o PCP ganhasse as eleições teria de ponderar demitir-me e deixar essa tarefa ao meu sucessor.
Como é que um PR pode empossar um governo com ideias muito contrárias às que ele defendeu na sua própria campanha eleitoral ? Vai trair os seus próprios eleitores ? E como é que pode promulgar as leis emanadas desse governo ? É um dilema moral que me parece só ter solução com a demissão (nem sei se é este o termo correcto).

Nem sei se seria possível um Presidente demitir-se numa situação dessas---o que, em todo o caso, só atrasaria mais o processo inevitável de tomada de posse.

A minha pergunta (o que farias) estava relacionada com esse caso que colocaste para análise, não com a situação actual.  :D (eu não sei o que faria)
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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #1099 em: 2015-10-28 00:09:25 »
Fernando Negrão

"Se me perguntar a minha opinião, eu direi que os partidos que são contra a integração na União Europeia, os partidos que são contra a moeda única, os partidos que são contra as alianças militares como a NATO não devem integrar um governo na União Europeia".

As palavras são de Fernando Negrão, candidato apresentado pelo PSD e CDS à presidência da Assembleia da República, ontem felizmente derrotado, e foram proferidas ontem, diante das câmaras de televisão.

Se considerarmos que Negrão é um verdadeiro jurista (não daqueles que fez Direito apenas para facilitar o tráfico de influências e ganhar dinheiro em negócios escuros), um juiz de direito e uma pessoa geralmente considerada como um democrata e uma pessoa de bom senso, podemos apreciar bem o nível de desnorte, de fúria revanchista e de radicalismo anti-democrático que invadiu as fileiras do PSD.

O que Cavaco nunca soube mas aparentemente até um deputado até aqui legalista e institucionalista como Negrão esqueceu é que quem “não deve” integrar um governo não são as forças que defendem ou criticam esta ou aquela política, mas sim e apenas as forças que não possuam apoio parlamentar suficiente.

São apenas essas as forças que “não devem” estar no Governo. Ser contra a moeda única, o euro ou a NATO não é proibido e não é um crime. É apenas uma opinião e não existem em Portugal crimes de opinião.

Negrão e todo o PSD e todo o CDS podem ter uma opinião diferente, mas isso não torna a sua opinião mais correcta e certamente não a torna mais respeitável. Negrão pode dizer que não gosta, pode dar argumentos para justificar por que razão não gosta, mas não pode dizer, em abstracto, que algumas forças “não devem” integrar o Governo para mais quando, em concreto, essas forças até possuem todos os requisitos políticos e constitucionais para o fazer e tudo, na política e na Constituição, diz que “devem”.

Não há, nos programas dessas forças políticas com quem Negrão não simpatiza, nada que esteja em choque com a Constituição – como aliás o Tribunal Constitucional tem de garantir.

O que lamentavelmente Negrão deixou de perceber é que o único dever que existe em relação a quem deve ou não deve integrar o Governo é o dever de respeitar a Constituição e a vontade do povo expressa nas eleições, que se traduz na composição do Parlamento. É lamentável que um deputado como Negrão considere que o seu “achómetro” se deve sobrepor à soberania da Assembleia da República.

A decisão sobre quem deve ou não deve estar no Governo pertence ao povo. Isto, pelo menos por enquanto, enquanto o PSD, o CDS e Cavaco não conseguirem lançar o país numa guerra civil para instaurar um regime autoritário sem máscaras, como é cada vez mais claro que sonham fazer.

José Vitor Malheiros
Be Kind; Everyone You Meet is Fighting a Battle.
Ian Mclaren
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So, first of all, let me assert my firm belief that the only thing we have to fear is...fear itself — nameless, unreasoning, unjustified terror which paralyzes needed efforts to convert retreat into advance.
Franklin D. Roosevelt