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Autor Tópico: Parlamento sem maioria absoluta  (Lida 392513 vezes)

McKricas

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2100 em: 2015-11-09 15:14:25 »
Como disse aqui, a minha opinião sobre este assunto desde o inicio foi a seguinte:

- A existir "coligação de esquerda" esta era apenas através de um "Acordo de Incidência Parlamentar" e não envolvia lugares no governo;
- Esse acordo era apenas um "Acordo de mínimos";

Posso também vos dizer que esse acordo já existia desde o final da reunião que ocorreu entre o PS e o BE e onde a Catarina Martins referiu a tal frase do "Governo de Passos e Portas ter acabado nesse dia".

Atenção: isto não é uma opinião - digo isto porque soube o que se passou nesse dia na reunião entre o PS e o BE.
A posição do PS e do António Costa a seguir a essa reunião, apenas ajudou a confirmar os factos que soube.

Esse acordo mínimo era na verdade um acordo que nessa altura só tinha esta medida: Impedir o governo de direita de se formar e governar.

Não tinha nenhuma medidas económica, política ou outra qualquer. Era apenas este o objectivo do acordo.

O "acordo" com o PCP era igual, pois também estes tinham o mesmo objectivo - impedir a PaF de governar.

Na prática, este "acordo" traduzia-se apenas em:
- Submissão de uma "Moção de Rejeição" ao programa da PaF.
- Apoio do PCP e do BE a um "Plano de Governo" liderado pelo PS no Parlamento.

Não contemplava rigorosamente mais nada.

O PS desejava (mas não contava) com a sua indigitação imediata pelo Presidente e o que levou, foi apenas um acordo onde referia que tinha o apoio dos deputados do BE e do PCP na assembleia para um Programa de Governo seu.

Se não se tivesse passado mais nada a seguir, o plano seria seguido normalmente. Mesmo que a PaF formasse governo primeiro, seria (como vai ser) rejeitada na Assembleia da República e o PS formaria governo a seguir.

Mas, o problema foram os discursos do Presidente da República, pelas "mensagens" que passou e pelas condições que colocou, obrigou a que o acordo que existia não chegasse e acabasse por necessitar de mais abrangência e estabilidade. Foi por isso que as reuniões com o BE e o PCP continuaram na tentativa do PS criar um acordo mais firme para apresentar ao PR, ou seja que envolvesse medidas especificas que garantissem mais o apoio do BE e do PCP para TODA a legislatura.

Esse "melhor" acordo com o BE foi conseguido. O mesmo já não se passou com o PCP.

Na verdade, o acordo do PCP é o mesmo acordo que foi discutido desde o inicio. Ou seja, é apenas a garantia que o PCP não reprova um "Plano de Governo" do PS, caso a PaF queira submeter uma moção de rejeição a esse governo.

Tudo o resto, será para vir a ser debatido no Parlamento. Incluindo os OEs - o PCP não dá nenhum apoio prévio a nenhuma medida do PS.

O PS, ontem, foi obrigado a seguir em frente com apenas isto. Mesmo com a "capa" de que isto é um "acontecimento histórico", na verdade, este acordo foi um insucesso entre o PS e o PCP, que não conseguiu melhor do que aquilo que o PCP lhe deu logo após o dia das eleições.
« Última modificação: 2015-11-09 15:56:55 por McKricas »

McKricas

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2101 em: 2015-11-09 15:14:43 »
O factor interessante no meio desta história é a estratégia que foi seguida e que ainda não acabou...

Isto é um "jogo de boxe"...e apenas assistimos ao 1º Round.

A opinião do PS para as eleições de dia 04/Oct do PS, era a de que estas eleições seriam muito difíceis (ao contrário do que se dizia na opinião pública).

Essa opinião era fundamentada pelo facto do PS saber que o PSD/CDS tinha conseguido reunir (até habilmente) suficiente simpatia e apoios no último ano, com o crescimento da economia, com as ajudas dos factores externos que existiam e até com as decisões que o Passos Coelho e a Maria Luis Albuquerque tinham tomado desde o ano passado.

O PS sabia que a opinião de muitos votantes ao Centro era de que a PaF conseguiu "salvar" o país e conduzi-lo ao crescimento, mesmo após passar pelo período conturbado com a Troika. O PS sabia (e sabe) que o País está melhor e que foram feitas muitas coisas que tinham a concordância dos votantes mais ao centro.

Mas o PS também sabia que se o PSD e o CDS fossem coligados que havia uma melhor hipótese de alargar o espaço à esquerda (dos eleitores que não se identificavam com as acções da PaF) e que queriam votar fora desse sector. Foi essencialmente por essa razão que o PS começou a "defender" mais esse eleitorado, no sentido de ganhar votos nesse quadrante.

Assim, a estratégia do PS era ganhar (com maioria ou minoria) mas essencialmente era contribuir para alargar o espaço à esquerda numa luta contra a PaF.

Foi o que acabou por acontecer. O PSD e o CDS juntos perderam a maioria do parlamento pelo alargamento do espaço à esquerda, devido ao "voto contra" na PaF.

O António Costa sabia disto desde o inicio pois fazia parte da estratégia. Já agora, o PSD e o CDS também o sabiam..mas não tinham outra alternativa ao que fizeram.

Foi por isso que Antonio Costa não se demitiu. Foi por isso que fez o discurso que fez na noite de eleições. E é por isso que esta "coligação de esquerda" já existia antes de nascer.

Hoje, temos o António Costa com a "coroa" de ser a pessoa que conseguiu "um acordo histórico" na política portuguesa por ter unido as esquerdas.

O Presidente da República não tem outra hipótese senão indigitar António Costa como Primeiro Ministro (as outras alternativas são todas muito piores) e vamos ter o "2º Round" do jogo.

O PS e o António Costa podem ser várias coisas, mas burros ou ignorantes não são.

O PS sabe que um governo com António Costa será sempre um governo frágil, com várias limitações e com "duas camisas de forças" muito fortes que não irão permitir  governar como o PS gostava.

A estratégia para este 2º Round é simples: ir para eleições "assim que for possível".

Mas ir para eleições em breve é voltar a dar a vitória à PaF. Estes ainda gozam do capital de simpatia e apoio dos eleitores do Centro.

A estratégia é fazer durante algum tempo a aplicação de medidas claramente populistas de forma a reverter esse apoio para o PS e para a figura de António Costa.

Mostrar António Costa como "O" unificador da Esquerda que impediu a Austeridade, que repôs tudo o que os "outros" tiraram e fez "voz forte" à UE (próximos passos).

A expectativa é assim, de que daqui a 1 ano (antes do OE de 2017) o PS possa submeter-se a eleições e ganhar com maioria absoluta.

Algo que neste momento não teria qualquer hipótese.

(Há ainda mais sobre este assunto, mas não quero fazer posts mais longos)
« Última modificação: 2015-11-09 15:53:35 por McKricas »

Reg

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2102 em: 2015-11-09 16:15:09 »
 O Camarada Costa  ja esta pensar eleicoes quer tirar votos catarina o malandro  :-X
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McKricas

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2103 em: 2015-11-09 16:44:47 »
O BE e o PCP sabem ao que vão.

Não há ingénuos neste jogo.

Eles não esperam ter que ajudar em nada mais do que o OE para 2016.

O BE e o PS sabem que podem ambos ganhar mostrando uma "boa figura" nas próximas eleições. O PCP é diferente e é muito mais intransigente. As suas sindicais tornam as "aberturas" e as estratégias internas mais complicadas.

A única coisa que o PS terá que controlar é qual o momento para se atirar para eleições. Não pode ser muito tarde (porque custa mais dinheiro) nem pode ser muito cedo (enquanto durar alguma simpatia pela PaF).
« Última modificação: 2015-11-09 16:45:36 por McKricas »

Zakk

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2104 em: 2015-11-09 16:51:36 »
O BE e o PCP sabem ao que vão.

Não há ingénuos neste jogo.

Eles não esperam ter que ajudar em nada mais do que o OE para 2016.

O BE e o PS sabem que podem ambos ganhar mostrando uma "boa figura" nas próximas eleições. O PCP é diferente e é muito mais intransigente. As suas sindicais tornam as "aberturas" e as estratégias internas mais complicadas.

A única coisa que o PS terá que controlar é qual o momento para se atirar para eleições. Não pode ser muito tarde (porque custa mais dinheiro) nem pode ser muito cedo (enquanto durar alguma simpatia pela PaF).

A simpatia pela PAF não diminui estando esta na oposição.
Tudo vai depender dos mercados.

Automek

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2105 em: 2015-11-09 17:04:26 »
quem tenha família e amigos FPs e pensionistas é bom avisarem que não se habituem aos novos ordenados e pensões.

McKricas

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2106 em: 2015-11-09 17:05:51 »
A simpatia pela PAF não diminui estando esta na oposição.
Tudo vai depender dos mercados.

Sim, vai depender muito do que a PAF fizer na oposição.

Mas a PAF irá começar a sofrer do mesmo problema que o PS sofreu, que é o de não viabilizar nenhuma medida do PS nem estar disponível para compromissos políticos ou económicos com o PS. Ou seja, irá começar a ser vista como um "factor de bloqueio", de arrogância, de não considerar o interesse do país, etc.

Como oposição irão estar contra tudo o que o PS fizer, afirmar repetidamente que o governo do PS é ilegítimo, etc. etc.

O problema é que esse discurso ao fim de alguns meses deixa de funcionar e age contra a própria PaF.

E isso irá afectar a sua popularidade....

Zakk

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2107 em: 2015-11-09 17:08:52 »
A PAF, só tem que se abster de todas as medidas. (pela estabilidade do país)  ;D
Votar contra, nunca.
Quem tem que deitar abaixo este governo é a própria esquerda.

Também não vota a favor.

« Última modificação: 2015-11-09 17:13:48 por heras »

Elder

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2108 em: 2015-11-09 17:29:52 »
Resumindo e concluindo: o país fica dependente daquilo que o Arménio Carlos quiser.

Lark

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2109 em: 2015-11-09 17:30:04 »
o pânico e a histeria a proporcionarem uma excelente oportunidade de compra.

não resistiu onde eu esperava - substimei a histeria.

nos ~5220 é, como já disse, uma compra descarada.


quase lá...

L
Be Kind; Everyone You Meet is Fighting a Battle.
Ian Mclaren
------------------------------
If you have more than you need, build a longer table rather than a taller fence.
l6l803399
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So, first of all, let me assert my firm belief that the only thing we have to fear is...fear itself — nameless, unreasoning, unjustified terror which paralyzes needed efforts to convert retreat into advance.
Franklin D. Roosevelt

McKricas

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2110 em: 2015-11-09 17:30:14 »
A PAF, só tem que se abster de todas as medidas. (pela estabilidade do país)  ;D
Votar contra, nunca.
Quem tem que deitar abaixo este governo é a própria esquerda.

Também não vota a favor.

Não é simples.

Abster pode significar aceitar deixar passar medidas deste governo. E essa aceitação ser vista como uma aceitação do próprio governo em si (ou seja deixar de ser "ilegítimo").

Abster é apenas reduzir o nº de votos necessários que podem aprovar a medida. Dos 230 totais se os 107 da PAF se abstiverem, significa que bastam apenas 62 votos para aprovar uma medida (e o PS têm 86).

Ou seja, no fundo se a PaF se abstiver é o mesmo que aprovar.




Reg

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2111 em: 2015-11-09 17:31:17 »
So vao passar medidas socialistas populistas   vai ser giro o proximo ano ;D

O lark   e como esta grafico dos depositos na banca   :-\
« Última modificação: 2015-11-09 17:44:04 por Reg »
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Automek

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2112 em: 2015-11-09 17:34:32 »
É um bom resumo da situação
Quanto vai durar o Governo de esquerda?

Zakk

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2113 em: 2015-11-09 17:43:54 »
A PAF, só tem que se abster de todas as medidas. (pela estabilidade do país)  ;D
Votar contra, nunca.
Quem tem que deitar abaixo este governo é a própria esquerda.

Também não vota a favor.

Não é simples.

Abster pode significar aceitar deixar passar medidas deste governo. E essa aceitação ser vista como uma aceitação do próprio governo em si (ou seja deixar de ser "ilegítimo").

Abster é apenas reduzir o nº de votos necessários que podem aprovar a medida. Dos 230 totais se os 107 da PAF se abstiverem, significa que bastam apenas 62 votos para aprovar uma medida (e o PS têm 86).

Ou seja, no fundo se a PaF se abstiver é o mesmo que aprovar.

tens razão, era esquisito, mas era o melhor para o país.
Eliminavas logo o PCP e o BE. hehehehehe

sempre representavas melhor o voto do eleitorado de direita.

« Última modificação: 2015-11-09 17:50:30 por heras »

Joao-D

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2114 em: 2015-11-09 17:48:53 »
A PAF abster-se ou votar contra é um pouco irrelevante. Se o PS for governo e não houver 9 deputados de outras bancadas que queiram demitir o governo, o PS não deixa de ser governo, a não ser que o próximo presidente da republica deite o governo abaixo.

A situação pode ser semelhante com a que aconteceu com o governo PSD+CDS. Quando foi governo, a esquerda tb estava convencida que o CDS ia deitar o governo abaixo, mas não aconteceu.

Automek

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2115 em: 2015-11-09 17:50:06 »
já alguém entrevistou o Soares, o anti-comunista, para saber a opinião dele sobre este acordo ?

Reg

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2116 em: 2015-11-09 17:50:28 »
CDS e centro

PCP nao e nada centro e radical
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McKricas

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2117 em: 2015-11-09 17:51:53 »
É um bom resumo da situação
Quanto vai durar o Governo de esquerda?


É uma boa opinião sim.

Mas peca apenas por uma coisa: O António Costa não deixará que o PCP (ou o BE) o atirem ao chão. Antes disso chegar a acontecer atira-se ele próprio para eleições.

É a unica forma de ser ele controlar o processo e de não ficar na mão de ninguém.

Zakk

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2118 em: 2015-11-09 17:52:23 »
A PAF abster-se ou votar contra é um pouco irrelevante. Se o PS for governo e não houver 9 deputados de outras bancadas que queiram demitir o governo, o PS não deixa de ser governo, a não ser que o próximo presidente da republica deite o governo abaixo.

A situação pode ser semelhante com a que aconteceu com o governo PSD+CDS. Quando foi governo, a esquerda tb estava convencida que o CDS ia deitar o governo abaixo, mas não aconteceu.

Não é irrelevante. Lê o que foi escrito atrás
O PS não precisava do BE nem da CDU

Logo as medidas não são tão lesivas para o eleitorado de direita que votou PSD CDS
« Última modificação: 2015-11-09 17:56:42 por heras »

Thorn Gilts

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Re: Parlamento sem maioria absoluta
« Responder #2119 em: 2015-11-09 17:57:37 »
http://www.associacaodeinvestidores.com/index.php/artigos-e-teses/64-teses/344-2015-11-09-14-44-45

A teoria do partidarismo governativo (Partisan Theory) sugere que as empresas conseguem melhores resultados sobre um governo de direita do que de esquerda (Füss & Bechtel, 2008) e que um partido de esquerda tem mais inclinação de que um partido de direita para implementar politicas expansionista, designadamente menores taxas de desemprego e maior crescimento, mas correndo o risco de inflação extra (Hibbs, 1994); teoria perseguida por vários autores.

A teoria do ciclo do negócio político (Political Business Cycle Theory), ou ciclos presidenciais (Presidential Cycles) nos Estados Unidos da América (EUA), sugere que o governo em funções adota politicas económicas expansionistas, essencialmente focadas no aumento da despesa no caso de países que não têm controlo sobre a emissão da moeda (ex. países europeus), de forma a melhorar a situação económica e social e fazer subir o preço das ações pouco antes das próximas eleições, com o objetivo de ganharem mais votos.

Em Portugal, muitos são os jornais económicos que procuram no mercado bolsista a resposta a determinados eventos políticos, principalmente aos resultados das eleições. Esta ideia, por vezes confirmada por muitos especialistas e practitioners nas referidas publicações, leva-nos à necessidade (ou pelo menos à curiosidade) de obter uma resposta mais robusta sobre esta alegada interação entre o mercado bolsista português e a política de Portugal, em particular com os resultados eleitorais.

Para além da satisfação da curiosidade, uma resposta positiva que confirme essa interação pode ser uma oportunidade para alavancar explicações e testes aos modelos político-económicos existentes e, de acordo com Boix & Adserà (2001), investigar os efeitos da globalização sobre a discricionariedade politica deixada aos partidos. Observação particularmente pertinente para os países Europeus, que ao contrário dos EUA não têm controlo sobre a oferta de moeda (emissão de moeda e taxas de juros).

Se os mercados responderem aos resultados das eleições, de tal forma que sejam capazes de induzir as políticas dos partidos a convergir, então o partidarismo do governo terá tendência a desaparecer, deixando de haver uma forte distinção entre um governo de esquerda e de direita no que toca a questões essenciais à economia do país. 

O meio académico é fértil em trabalhos empíricos, teóricos e em discussões sobre a influência do partidarismo político do governo nas taxas de retorno dos mercados bolsitas (Schneider & Tröger 2006), sendo que uma das últimas fontes a estimular esse interesse é a atenção do público na evolução dos mercados bolsistas (Füss & Bechtel, 2006), não só em Portugal, como um pouco por todo o mundo.

Entre as várias publicações destacam-se as de:

Santa-Clara & Valkanov (2003), onde observaram que os retornos do mercado bolsista norte-americano é maior durante o governo do partido Democrático (esquerda, mais liberal) do que no governo do partido Republicano (direita, mais conservador). De referir que não existe um consenso sobre partidos de esquerda e direita, principalmente quando comparamos os Estados Unidos da América com os países da União Europeia, pelo que a comparação entre as duas realidades é difícil.

Leblang & Mukherjee (2005), onde examinaram o efeito do partidarismo governativo e as expectativas de uma vitória eleitoral por partidos de esquerda ou direita na média e a volatilidade do preço das ações dos mercados americanos e ingleses entre 1930 e 2000 e concluíram que as expectativas racionais de maior inflação sobre um governo de esquerda diminuiu o volume de ações negociadas no mercado bolsista e consequentemente da média e volatilidade no preço das ações; verificaram que tal acontecia quando o governo de esquerda estava em funções, como quando era esperado que fosse um governo de esquerda a ganhar as eleições. Por outro lado, a expectativa de uma inflação mais baixa numa governação de direita levava a um maior volume de ações transacionadas e em consequência um aumento da média e da volatilidade no preço das ações durante a governação de direita, verificaram o mesmo comportamento quando era expectável que fosse um governo de direita a ganhar as eleições.

Füss & Bechtel, (2008), onde observam que o desempenho das ações de pequenas empresas alemãs estava positiva e negativamente relacionada com a probabilidade de um partido (coligação) de direita e de esquerda ganhar as eleições respetivamente. Referem o exemplo da queda rápida do índice bolsista alemão depois da vitória do Sozialdemokratische Partei Deutschlands (SPD), que é o Partido Social Democrático na Alemanha, considerado de centro-esquerda, contra a Christlich Demokratische Union Deutschlands (CDU) que é a Coligação Democrática Crista, considerada de centro-direita, nas eleições federais de 2002.

Döpke and Pierdzioch (2006), onde analisaram os movimentos bolsistas do mercado alemão com as políticas germânicas e concluíram que não existiam diferenças estatisticamente significativas entre um governo de direita ou de esquerda. Mas por outro lado, concluíram que os retornos do mercado de ações afetou a popularidade dos governos alemães.

Arin, Mochanov & Reich (2007), onde analisaram um conjunto de variáveis políticas para 17 democracias e concluíram a relação entre essas variáveis políticas e os retornos das ações era fraca. Dão dois exemplos “anedóticos”, o do mercado acionistas turco que atingiu o seu máximo histórico no dia seguinte ao anúncio dos resultados das eleições de 2007 e a resposta positiva do preço das obrigações polacas depois da queda do governo liderado por J. Kaczynski.

Stoian & Tatu-Cornea (2015), onde o seu estudo cobriu os anos de 2000 a 2010 e os 20 países da União Europeia, produzindo várias regressões utilizando variáveis politicas, financeiras e económicas, tendo concluindo que os mercados tem uma melhor performance em governos de direita. Sendo que os resultados foram consistentes para economias europeias desenvolvidas, mas sem evidências robustas para os mercados emergentes da União Europeia. Estes autores concluíram ainda que os retornos dos mercados bolsistas europeus não estão necessariamente relacionados com as crenças acerca das taxas de desemprego, inflação, deficit e divida. Avança mesmo que os investidores devem focar-se mais nas ações do Banco Central Europeu (BCE) sobre as taxas de juro, do que sobre os resultados das eleições.

Pantzalis et al. (2000), onde analisaram os retornos dos mercados acionistas em 33 países no período das eleições e observaram que os retornos dos principais índices desses países eram significativamente positivos nas duas semanas antes da semana das eleições. Eles observaram ainda retornos anormais fortes para eleições com elevado grau de incerteza, em particular, em países com avaliações baixas na política, economia e liberdade de empresa e em eleições em que o partido no poder perde.

São pois vários os estudos empíricos a observar os efeitos da política governativa e das eleições nos mercados bolsistas, mas longe de serem consensuais, com exceção do mercado norte-americano onde tais evidências tem sido mais e melhor documentadas, como no supra citado estudo de Santa-Clara and Valkanov (2003) e Leblang & Mukherjee (2005).

Sublinhe-se que, ao contrário dos países Europeus, os EUA têm controlo sobre a oferta de moeda, pelo que as suas estratégias político-monetárias têm necessariamente impacto nos retornos das ações. Por exemplo, para Viana & Santos (2010), ignorar o efeito da quantitative easing (QE) no mercado bolsista é como tocar piano só com um dedo, em que pode até resultar numa certa melodia mas incompleta, pois essa política monetária é extremamente agressiva e com grande impacto nos retornos do mercado bolsista. Significa isto que as eleições presidências nos EUA deverão ter impacto na alteração ou manutenção das expectativas e esperança dos intervenientes no mercado bolsista e agentes económicos e, ceteris paribus, consequentemente nos retornos pós-eleitorais do mercado bolsista como observaram alguns dos autores supra citados, mas não é possível endereçar imediata e diretamente tal comportamento aos mercados Europeus, onde os governos não tem o mesmo controlo sobre a oferta de moeda que os EUA tem.

Sem pretendermos colocar em causa a Political Business Cycle Theory e/ou Partisan Theory, a verdade é que é difícil acreditar que uma estratégia tão simples, baseada meramente no resultado das eleições, possa influenciar a dinâmica de preços de forma consistente, já que se fosse assim e os retornos verificados fossem além de uma sessão de bolsa depois das eleições, seria simples gerar dinheiro consistentemente e, aparentemente, sem grandes riscos de cálculo. Para além de que teríamos de observar uma condição ceteris paribus para as restantes variáveis suscetíveis de influenciar os retornos do mercado bolsista, que é o mesmo que dizer que as variáveis relacionadas com as eleições teriam de explicar em grande percentagem e predizer significativamente tais retornos.

Nesse pressuposto, o presente trabalho não se debruçou sobre a Political Business Cycle Theory, que levaria a uma analise do período pré-eleitoral e teria de se considerar uma serie de variáveis mudas, tais como as medidas politicas geralmente adotadas à luz dessa teoria e nem tão pouco confirmar ou recusar a Partisan Theory, pois o principal foco de interesse neste trabalho é analisar o impacto da eleição de um governo de esquerda e de direita nos retornos do mercado bolsista nos dias imediatamente seguintes à apresentação do resultado das eleições, ou seja, a forma como os participantes no mercado bolsistas interpretam esses resultados. Dito de outra forma, o que aqui se pretende observar é se o mercado reage às eleições e aceita, à priori, a Partisan Theory, podendo assim estabelecer uma estratégia de negociação assente no resultado das eleições, ou se simplesmente a ignora/recusa a teoria, não havendo forma de lucrar no mercado bolsistas com base nessa estratégia.

Assumimos que existem outros fatores suscetíveis de afetar os retornos das ações, nomeadamente os ciclos políticos, instabilidade, fragmentação, variáveis monetárias, e crescimento do produto interno bruto (PIB) que não foram aqui consideradas. Tal decisão assenta no facto do período analisado (após eleições) ser bastante curto, cobrindo apenas períodos de um, cinco e vinte e duas sessões de bolsa. Para períodos maiores, por exemplo para um ou mais ciclos eleitorais sobre uma mesma governação partidária, tais fatores deveriam ser considerados nas regressões através da utilização de variáveis mudas.

No entanto, na busca de uma maior robustez dos resultados, utilizou-se uma variável muda para caracterizar o período de bear market e bull market, mas em vez de ser para o mercado português, optou-se pelos ciclos bolsistas do mercado americano, no caso do índice S&P500. A escolha pelo índice S&P500 para determinar o ciclo bolsista deveu-se à necessidade de procurar algo que influencie o comportamento dos retornos do índice português (e o ciclo bolsista do mercado americano é suscetível de influenciar os restantes mercados), mas que não sejam os próprios retornos a formar essa variável (como aconteceria se o ciclo bolsista fosse determinado pelo comportamento do PSI 20).

As ações com baixo free-float, ilíquidas e de pequena capitalização bolsista registam um maior número de uninformed traders e, consequentemente, mais mispricing e menos eficiência (Viana, 2015), o que poderia afetar os resultados deste trabalho. De forma a ultrapassar esse constrangimento, os retornos do mercado bolsista foram medidas através dos retornos diários do principal índice bolsista português, o PSI20, onde supostamente encontramos as empresas com maior capitalização bolsista, maior free-float e mais líquidas. Para além disso é uma forma de vermos o mercado bolsista português como um todo, em vez de analisarmos os retornos de cada empresa cotada.

Os dados utilizados foram os preços diários do índice PSI20 desde 04/01/1999 até 02/10/2015 obtidos na Euronext e os resultados eleitorais desde 1999 até 2015 obtidos na Comissão Nacional de Eleições.

Com base no preços diários do índice PSI20 calculamos os retornos diários, de cinco sessões e de vinte e duas sessões e de forma a verificar se tais retornos são influenciados pelo resultado das eleições, as mesmas foram utilizados como potenciais preditoras dos retornos obtidos na primeira sessão, nas primeiras cinco sessões e nas primeiras vinte e duas sessões de bolsa imediatamente seguinte(s) à divulgação dos resultados eleitorais num modelo de regressão linear múltipla.

A análise de regressão linear múltipla é feita para os retornos diários, cinco sessões e de vinte e duas sessões e para as variáveis proditórias que assumem um código ternário de 0 para sessão normal de bolsa (sem interferência das eleições), 1 eleições ganhas por partido de esquerda e 2 para eleições ganhas por partido de direita (designamos esta variável como “esquerda direita”), um código binário de 0 para sessão normal de bolsa e 1 para eleições (designamos esta variável como “eleições”), um código binário de 0 para sessão normal de bolsa e 1 para eleições ganhas por um partido diferente daquele que estava no poder (designamos esta variável como “alteração do governo”) e um código binário de 0 para bull market e 1 para bear market (designamos esta variável como “ciclo bolsista”).

Tabela 1 Análise de regressão linear múltipla dos retornos das ações para as variáveis eleições

 retornos psi 20 vs eleições

Valores em itálico correspondem ao valor p.

O R2 apresentado é o ajustado.

Desta tabela constata-se que as eleições não têm influência significativa nas taxas de retorno, tanto para a primeira sessão de bolsa depois de apresentados os resultados das eleições, como para as cinco e vinte e duas sessões seguintes, seja tanto nos retornos diários, como nos retornos registados ao fim de cinco sessões de bolsa (uma semana) ou vinte e duas sessões de bolsa (aproximadamente um mês), pois o valor p é, em todas elas, maior que 0.05. Por outro lado, a variável “ciclo bolsista” (bear market ou bull market) revelou-se um preditor significativo dos retornos do índice PSI 20 (valor p<0.01), ou seja, os ciclos de bolsa do mercado americano (S&P500) respondem em 0.56% (R2ajustado=0.0056) pelos retornos do diários mercado português (PSI20) e em 1.97% e 8.58% para os retornos semanais e mensais; o que não é surpresa.

Verifica-se então que o mercado bolsista é neutral às expectativas que os retornos sigam de acordo com Partisan Theory e tão pouco as eleições são suscetíveis de se revelarem, de algum modo, um preditor significativo dos retornos do mercado nas sessões seguintes às eleições.

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*Octávio Viana, doutorado em gestão de empresas, é presidente da ATM – Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais, consultor da administração da Dif Broker Sociedade Financeira S.A. e consultor de várias pequenas e médias empresas.

**Sandra Ramos, doutorada em estatística e Investigação operacional (especialização em Probabilidade de Estatística), professora do Instituto Superior de Engenharia do Porto

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